São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Procuram-se matadores

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

De norte a sul do país eles estão em falta. Estou falando dos goleadores, dos artilheiros, dos homens capazes de decidir o jogo em frações de segundo na "zona do agrião".
O treinador do Atlético-MG, Procópio, diz que um "matador" é só o que falta para fazer do Galo um time vencedor. O do Grêmio, Hugo de León, já havia dito praticamente o mesmo.
O próprio Coringón milionário de Kia Joorabchian trouxe zagueiros, volantes, meias atacantes, mas ainda carece de um goleador convincente.
O mercado brasileiro está carente. Temos Washington, Deivid, Obina, Fabrício Carvalho, um Luizão em estado duvidoso, um Romário em fim de carreira. E, claro, todo ano o Goiás revela um goleador.
Mas é muito pouco, se pensarmos que perdemos para clubes do exterior nos últimos anos especialistas como França, Ricardo Oliveira, Adriano, Reinaldo, Vágner Love, Luís Fabiano e Nilmar, sem contar os que bateram asas há mais tempo (Ronaldo, Elber, Amoroso, Ewerton etc.).
E cada vez mais estou convencido de que posse de bola e domínio territorial não ganham jogo se não houver alguém "do ramo" no quadrilátero fatídico, sobretudo no terreno minado entre a marca do pênalti e a pequena área.
O ofício de fazer gols não é para diletantes e amadores. É para peritos. E, assim como o samba, não se aprende no colégio.
É talvez, ao lado da profissão de goleiro, aquela em que os instintos do futebolista têm que estar mais à flor da pele. Tanto no goleiro como no goleador, uma espécie de inteligência do corpo precede o raciocínio lógico. Mas o goleiro representa a ordem; o artilheiro, a destruição. Não à toa, o centroavante é o único indivíduo para o qual os adjetivos "matador", "cruel", "predador" e "oportunista" são elogios. Esse ser especial, que inverte os critérios psicológicos e os valores morais, faz uma falta tremenda.
 
O Corinthians entra em campo no Paulista com a camisa limpa. Saiu a Pepsi e não entrou nenhum patrocinador no lugar, aparentemente por falta de acordo entre os interessados e a empresa que agora manda no clube, a MSI. Há, evidentemente, um lado bom nisso: qualquer camisa de clube fica mais bonita sem aquelas marcas que a desfiguram com desenhos e cores estranhos a suas tradições.
Mas no futebol profissional de hoje a ausência de logotipo na camisa é sinônimo de problemas de caixa. Não é o caso do Corinthians, aparentemente. O fato é que, em comparação com a esquisita situação político-financeira do clube, os logotipos de anunciantes parecem uma forma transparente e até cândida de obter receita. Pago tanto para expor minha marca na sua camisa.
Pense em quanto o Corinthians valorizou a marca Pepsi. O mesmo vale para a Pirelli e o Palmeiras, a Bombril e o Santos etc.
A camisa fica suja, mas o dinheiro é limpo.

Melhor para todos
Della Monica deve ter ficado aliviado. A torcida palmeirense teria mais um motivo para odiar Mustafá Contursi e seu preposto se banisse Magrão para a Rússia -após ter dado a preço de banana seu maior talento, Vágner Love. Seria muito difícil, como prometeu o novo presidente, repor a "peça". Pois que outro volante tem a qualidade polivalente e a garra de Magrão, sem falar em sua identificação com a torcida e sua liderança sobre os colegas?

Café com leite
Ao decidir disputar só o estadual do Rio, e não o Brasileiro, Romário disse muito, em silêncio, sobre a decadência do futebol carioca. Para enfrentar a marcação frouxa e a falta de recursos das zagas locais, seu futebol indolente ainda basta.

E-mail
jgcouto@uol.com.br


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