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FUTEBOL
Procuram-se matadores
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
De norte a sul do país eles
estão em falta. Estou falando dos goleadores, dos artilheiros,
dos homens capazes de decidir o
jogo em frações de segundo na
"zona do agrião".
O treinador do Atlético-MG,
Procópio, diz que um "matador"
é só o que falta para fazer do Galo
um time vencedor. O do Grêmio,
Hugo de León, já havia dito praticamente o mesmo.
O próprio Coringón milionário
de Kia Joorabchian trouxe zagueiros, volantes, meias atacantes, mas ainda carece de um goleador convincente.
O mercado brasileiro está carente. Temos Washington, Deivid, Obina, Fabrício Carvalho,
um Luizão em estado duvidoso,
um Romário em fim de carreira.
E, claro, todo ano o Goiás revela
um goleador.
Mas é muito pouco, se pensarmos que perdemos para clubes do
exterior nos últimos anos especialistas como França, Ricardo Oliveira, Adriano, Reinaldo, Vágner
Love, Luís Fabiano e Nilmar, sem
contar os que bateram asas há
mais tempo (Ronaldo, Elber,
Amoroso, Ewerton etc.).
E cada vez mais estou convencido de que posse de bola e domínio
territorial não ganham jogo se
não houver alguém "do ramo" no
quadrilátero fatídico, sobretudo
no terreno minado entre a marca
do pênalti e a pequena área.
O ofício de fazer gols não é para
diletantes e amadores. É para peritos. E, assim como o samba, não
se aprende no colégio.
É talvez, ao lado da profissão de
goleiro, aquela em que os instintos do futebolista têm que estar
mais à flor da pele. Tanto no goleiro como no goleador, uma espécie de inteligência do corpo precede o raciocínio lógico. Mas o goleiro representa a ordem; o artilheiro, a destruição. Não à toa, o
centroavante é o único indivíduo
para o qual os adjetivos "matador", "cruel", "predador" e "oportunista" são elogios. Esse ser especial, que inverte os critérios psicológicos e os valores morais, faz
uma falta tremenda.
O Corinthians entra em campo
no Paulista com a camisa limpa.
Saiu a Pepsi e não entrou nenhum patrocinador no lugar,
aparentemente por falta de acordo entre os interessados e a empresa que agora manda no clube,
a MSI. Há, evidentemente, um lado bom nisso: qualquer camisa de
clube fica mais bonita sem aquelas marcas que a desfiguram com
desenhos e cores estranhos a suas
tradições.
Mas no futebol profissional de
hoje a ausência de logotipo na camisa é sinônimo de problemas de
caixa. Não é o caso do Corinthians, aparentemente. O fato é
que, em comparação com a esquisita situação político-financeira
do clube, os logotipos de anunciantes parecem uma forma
transparente e até cândida de obter receita. Pago tanto para expor
minha marca na sua camisa.
Pense em quanto o Corinthians
valorizou a marca Pepsi. O mesmo vale para a Pirelli e o Palmeiras, a Bombril e o Santos etc.
A camisa fica suja, mas o dinheiro é limpo.
Melhor para todos
Della Monica deve ter ficado
aliviado. A torcida palmeirense
teria mais um motivo para
odiar Mustafá Contursi e seu
preposto se banisse Magrão para a Rússia -após ter dado a
preço de banana seu maior talento, Vágner Love. Seria muito
difícil, como prometeu o novo
presidente, repor a "peça". Pois
que outro volante tem a qualidade polivalente e a garra de
Magrão, sem falar em sua identificação com a torcida e sua liderança sobre os colegas?
Café com leite
Ao decidir disputar só o estadual do Rio, e não o Brasileiro,
Romário disse muito, em silêncio, sobre a decadência do futebol carioca. Para enfrentar a
marcação frouxa e a falta de recursos das zagas locais, seu futebol indolente ainda basta.
E-mail
jgcouto@uol.com.br
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