São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Ficha do Incor foi emendada, diz a defesa do médico do São Caetano, que responsabiliza cardiologista pela morte

Perícia contesta prova do caso Serginho

KLEBER TOMAZ
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma perícia particular juntada ao processo do caso Serginho pelos advogados de Paulo Forte, médico do São Caetano indiciado pela morte do jogador, questiona "a autenticidade e fidelidade" do prontuário do zagueiro, assinado por Edimar Bocchi, cardiologista do Incor (Instituto do Coração).
No texto entregue à Justiça com a perícia, advogados de Forte apontam que na ficha médica há "expressões inusitadas para um relato médico; afirmações postas lateralmente ou em rodapés, nitidamente acrescentadas posteriormente, com um claro objetivo incriminador e auto-defensivo".
O prontuário, uma das provas do processo, diz que Serginho tinha arritmia e que, assim como o médico do clube, sabia do risco de morte a que o esporte o sujeitava.
Foi a primeira manifestação da defesa de Forte no inquérito. O presidente suspenso do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza, o outro indiciado pelo homicídio do atleta, até agora só informou os nomes de seus advogados.
"Além de questionar a autenticidade do prontuário do Incor por meio da perícia, pedimos o reconhecimento da responsabilidade penal de Edimar Bocchi, especialista que identificou os problemas cardíacos e o risco a que estava sujeito Serginho, mas que não tomou providência para evitar sua morte", afirmou à Folha o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, um dos encarregados da defesa de Forte.
Para ele, a responsabilidade pela morte do jogador não é exclusiva do ortopedista do time do ABC. "A partir do momento em que um especialista em cardiologia identificou o problema, ele deveria ter tomado providências. Mas não notificou a família do jogador nem o Conselho Regional de Medicina. Mais que isso: não tomou nenhuma medida clínica. Nem sequer uma aspirina ele receitou."
Rogério Leão Zagallo, promotor encarregado das acusações de Nairo e Forte, disse que a perícia juntada pela defesa não altera sua convicção dos fatos. Ele reafirmou que o cardiologista do Incor é a principal testemunha de acusação. Disse ainda que a tentativa de desqualificar o prontuário não afeta sua estratégia, "uma vez que o teor do documento de Bocchi foi confirmado por outras provas, testemunhais e periciais".
Segundo o promotor, a perícia juntada pela defesa não macula a imagem do cardiologista. "Não há prova de falsidade dele, apenas a constatação do uso de caligrafias diferentes em alguns trechos", justificou Zagallo, para quem o importante é a veracidade das informações e não quando elas foram introduzidas no prontuário.
Entretanto, ele concordou com um dos pleitos de Mariz: pedir uma perícia oficial ao Instituto de Criminalística, para confirmar ou não o laudo juntado pela defesa.
Agora acusado por Forte, Bocchi já esteve ao lado do ortopedista, hoje suspenso de atuar no futebol por quatro anos pelo STJD.
Em 30 de novembro do ano passado, os dois assinaram uma nota conjunta, na qual afirmavam que a morte ocorrera por "fatalidade".
Oito dias mais tarde, o cardiologista disse à Folha que havia se arrependido do comunicado conjunto, cujo texto considerava "ingênuo" -afirmação que repetiu em depoimento à polícia.
Serginho morreu aos 30 anos, no gramado do Morumbi, no dia 27 de outubro do ano passado, após uma parada cardíaca, quando defendia o São Caetano contra o São Paulo, pelo Brasileiro.
O atestado de óbito apontou hipertrofia miocárdica e edema pulmonar como causas da morte.


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