São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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FUTEBOL

O hexa, favoritismo exagerado?

ROBERTO AVALLONE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Supersticioso, meu amigo Aleixo torce o nariz e coça a cabeça quando ouve dizer que, sem dúvida, o Brasil será hexacampeão. Argumenta que sempre fomos campeões quando não carregamos o peso do favoritismo, até mesmo na Copa de 70, no México, quando conseguimos escalar o time certo, com Tostão e Pelé, juntos, quase em cima da hora.
E no primeiro título conquistado, então, em 1958, na Suécia. Ah, ali foi pior ainda, pois a seleção saiu do Brasil sob vaias -depois de um medíocre empate sem gols diante do Paraguai, no último amistoso- e só acertou a equipe mesmo em sua terceira partida, quando entraram no time Pelé, Mané Garrincha e Zito.
Superstição à parte, é difícil, reconheço, deixar de lado o favoritismo brasileiro. Afinal, temos o melhor jogador do mundo na atualidade (Ronaldinho Gaúcho) e uma geração que, de tão talentosos os seus meninos do meio-campo para a frente, é considerada a melhor desde 1970. Quem se dá ao luxo de ter como parceiros ou coadjuvantes do mago Ronaldinho Gaúcho um meia com as virtudes de um Kaká ou a força incomum de um Adriano, artilheiro e Imperador de Milão?
E é claro, um como quase certeza e o outro como promessa, ainda conta a seleção com Ronaldo Fenômeno e Robinho. Ronaldo tem a confiança de Parreira, o treinador que o considera o homem certo para as decisões. Por sua vez, Robinho leva sempre a esperança de que, um dia, volte a ser aquele atacante incontrolável, com suas gingas, pedaladas e chapéus que desmoralizam qualquer zagueiro. (Destes dois, porém, falo um pouco mais tarde.)
O que falta, então, ao Brasil para justificar tanto otimismo e predominância total nas bolsas de apostas do mundo?

Superstição à parte
Creio, porém, que, encantados com os títulos e diabruras do ano passado, talvez estejamos esquecidos de verificar as nossas falhas. O Brasil é favorito, sim, embora nem tanto quanto se pensa. É o que me recomenda uma análise do momento. Vamos lá?
Os mesmos Ronaldo Fenômeno e Robinho, um a quase certeza e o outro a doce promessa, são, ao mesmo tempo, verdadeiras incógnitas, pois, se o futebol é momento, nenhum deles têm exibido futebol que os leve à Copa com certificado de garantia. Não mesmo.
E o pior está na defesa, onde se a fase inconstante de Dida não preocupa tanto, deixa no ar um enorme ponto de interrogação a performance de nossos laterais já veteranos, Cafu e Roberto Carlos.
Assim, repito, embora favorito, deve o Brasil não levar essa condição com exagero ou excessiva confiança. Fica bem claro, espero, que não se trata de superstição ou coisa parecida, mas do mais puro realismo de um futebol que já massacrou outras certezas como o Brasil, na Copa de 1950, a Hungria, quatro anos depois, ou a Holanda, em 1974.
É preciso, pois, cuidado. Muito cuidado, eu diria.


Roberto Avallone é jornalista e apresentador da Band


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No pique 1
Por falar em seleções brasileiras, com humildes pedidos de perdão à grande maioria, não considero a Máquina de 70 superior aos nossos heróis primeiros, os campeões de 1958, em campos suecos. As duas foram máquinas, mágicas, só que a de 58 tinha, entre outras preciosidades, um Pelé de 17 anos e um Mané Garrincha com a fantasia do drible e a eficiência de transformar Vavá em goleador. Como me disse Nilton Santos certa vez, "atacar com Pelé e Mané era covardia".

No pique 2
Foi um prazer estar nesta Folha e com os amigos nestes domingos quentes de janeiro. E assim, matando a bola no peito e devolvendo o espaço ao seu legítimo dono, saio de cena, saio jogando, não sem antes dizer muito obrigado. E, é claro, um caloroso até um dia.

E-mail - avallone@avallone.comunicacoes.com.br


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