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FUTEBOL
O hexa, favoritismo exagerado?
ROBERTO AVALLONE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Supersticioso, meu amigo
Aleixo torce o nariz e coça a
cabeça quando ouve dizer que,
sem dúvida, o Brasil será hexacampeão. Argumenta que sempre
fomos campeões quando não carregamos o peso do favoritismo,
até mesmo na Copa de 70, no México, quando conseguimos escalar
o time certo, com Tostão e Pelé,
juntos, quase em cima da hora.
E no primeiro título conquistado, então, em 1958, na Suécia. Ah,
ali foi pior ainda, pois a seleção
saiu do Brasil sob vaias -depois
de um medíocre empate sem gols
diante do Paraguai, no último
amistoso- e só acertou a equipe
mesmo em sua terceira partida,
quando entraram no time Pelé,
Mané Garrincha e Zito.
Superstição à parte, é difícil, reconheço, deixar de lado o favoritismo brasileiro. Afinal, temos o
melhor jogador do mundo na
atualidade (Ronaldinho Gaúcho)
e uma geração que, de tão talentosos os seus meninos do meio-campo para a frente, é considerada a melhor desde 1970. Quem se
dá ao luxo de ter como parceiros
ou coadjuvantes do mago Ronaldinho Gaúcho um meia com as
virtudes de um Kaká ou a força
incomum de um Adriano, artilheiro e Imperador de Milão?
E é claro, um como quase certeza e o outro como promessa, ainda conta a seleção com Ronaldo
Fenômeno e Robinho. Ronaldo
tem a confiança de Parreira, o
treinador que o considera o homem certo para as decisões. Por
sua vez, Robinho leva sempre a
esperança de que, um dia, volte a
ser aquele atacante incontrolável,
com suas gingas, pedaladas e chapéus que desmoralizam qualquer
zagueiro. (Destes dois, porém, falo um pouco mais tarde.)
O que falta, então, ao Brasil para justificar tanto otimismo e predominância total nas bolsas de
apostas do mundo?
Superstição à parte
Creio, porém, que, encantados
com os títulos e diabruras do ano
passado, talvez estejamos esquecidos de verificar as nossas falhas.
O Brasil é favorito, sim, embora
nem tanto quanto se pensa. É o
que me recomenda uma análise
do momento. Vamos lá?
Os mesmos Ronaldo Fenômeno
e Robinho, um a quase certeza e o
outro a doce promessa, são, ao
mesmo tempo, verdadeiras incógnitas, pois, se o futebol é momento, nenhum deles têm exibido futebol que os leve à Copa com certificado de garantia. Não mesmo.
E o pior está na defesa, onde se a
fase inconstante de Dida não
preocupa tanto, deixa no ar um
enorme ponto de interrogação a
performance de nossos laterais já
veteranos, Cafu e Roberto Carlos.
Assim, repito, embora favorito,
deve o Brasil não levar essa condição com exagero ou excessiva
confiança. Fica bem claro, espero,
que não se trata de superstição ou
coisa parecida, mas do mais puro
realismo de um futebol que já
massacrou outras certezas como o
Brasil, na Copa de 1950, a Hungria, quatro anos depois, ou a Holanda, em 1974.
É preciso, pois, cuidado. Muito
cuidado, eu diria.
Roberto Avallone é jornalista e
apresentador da Band
O colunista Juca Kfouri está de férias
No pique 1
Por falar em seleções brasileiras, com humildes pedidos de perdão à
grande maioria, não considero a Máquina de 70 superior aos nossos
heróis primeiros, os campeões de 1958, em campos suecos. As duas
foram máquinas, mágicas, só que a de 58 tinha, entre outras preciosidades, um Pelé de 17 anos e um Mané Garrincha com a fantasia do
drible e a eficiência de transformar Vavá em goleador. Como me disse Nilton Santos certa vez, "atacar com Pelé e Mané era covardia".
No pique 2
Foi um prazer estar nesta Folha e com os amigos nestes domingos
quentes de janeiro. E assim, matando a bola no peito e devolvendo o
espaço ao seu legítimo dono, saio de cena, saio jogando, não sem antes dizer muito obrigado. E, é claro, um caloroso até um dia.
E-mail - avallone@avallone.comunicacoes.com.br
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