São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

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RITA SIZA

Esplendor esportivo


Por detrás do esporte há um outro bem mais instintivo: nossa atração pela competição


A PROGRAMAÇÃO DO canal Eurosport, por onde estou a seguir o Aberto da Austrália, avança diretamente do torneio de ténis em Melbourne para a Taça da Ásia de futebol, que está a decorrer no Qatar.
Em vez de desligar, eu continuo a ver -impressionada (ou melhor, chocada!) com as bancadas vazias de gente do estádio. Bem sei que estamos em janeiro e que os turistas não costumam viajar nesta altura, mas que diabo, não conseguiriam encontrar por lá uns milhares de fanáticos que fossem gritar para o jogo?
Sinto-me tão mal com o desinteresse que o evento suscita que dou por mim, por simpatia ou solidariedade, a acompanhar a transmissão dos jogos até o fim, quando devia estar a fazer outras coisas: Austrália x Bahrein, Iraque x Coreia do Norte.
Para dizer a verdade, não é apenas a Taça da Ásia que eu fico, inexplicavelmente, a ver. A programação, digamos assim, "eclética" do canal Eurosport me fascina.
Para quem não sabe, trata-se de uma espécie de serviço público do esporte internacional, que ao contrário dos canais por assinatura, que perdem 90% da emissão com o futebol e os restantes 10% com outros esportes populares, dedica a mesma atenção a todas as modalidades, cobrindo os torneios, provas e eventos mais obscuros para o grande público.
Acontece às vezes perguntarem-me o que estou a ver na televisão e surpreenderem-se quando eu respondo "saltos para a água", "a final do judô", "o Mundial de snooker", ou, como neste fim de semana, "o campeonato de biatlo na neve".
Será possível que eu tenha um gosto ou interesse especial por tudo isso? Na realidade não tenho, mas quando penso nisso um pouco mais a sério apercebo-me que qualquer esporte -independentemente de ser aquele que mais gostamos e que mais sabemos- tem a capacidade de nos surpreender e de nos entusiasmar.
O Eurosport, com as suas sucessivas transmissões, fez-me perceber que por detrás do fenómeno esportivo está um outro bem mais primordial e instintivo: essa nossa atração pela competição, que nos leva a torcer para que alguém saia vencedor (ou alguém saia derrotado); essa nossa capacidade de nos impressionar e encantar ao assistir a um feito invulgar, exigente, que por momentos parece roçar o sobrenatural; esse nosso deslumbre com a força, a velocidade, a técnica, o desafio dos limites.
O esporte, afinal, mostra-nos os esplendores que pode alcançar o espírito humano.
Quando é transmitido pela televisão, eu acredito que vale a pena assistir.


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