São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

O melhor Mundial do mundo ou nada

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fifa demorou cem anos para desenhar um Mundial de clubes decente. E a demora pode ter um alto preço para o futebol.
Tão simples quanto bacana era pegar os campeões de cada confederação, no ano em que esses ostentam seus títulos continentais, e reuni-los em um lugar interessante, por poucos dias, dando um caminhão de dinheiro a todos.
A Fifa deixou o Real Madrid de Di Stéfano e Puskas, o Santos de Pelé, o Benfica de Eusébio, o Peñarol de Spencer, a Inter de Herrera, o Ajax de Cruyff, o Bayern de Beckenbauer, o Flamengo de Zico, a Juventus de Platini, o Milan de Gullit e Van Basten, o São Paulo de Telê, o Boca Juniors de Bianchi e o Real Madrid de Zidane e Ronaldo, entre outros, disputarem confrontos épicos nos últimos 44 anos pelo título simbólico de melhor equipe do mundo sem que ela entrasse de cabeça na disputa (pelos times citados, ela perdeu "só" um pouco da história).
Não apenas a América do Sul e a Europa se acostumaram a ver o embate entre as duas regiões mais potentes da bola. Cada vez mais o planeta parava para seguir a Copa Europa-América do Sul, o tal Mundial interclubes no Japão.
O verbo parar foi usado acima no passado porque foi esse o tempo verbal que a Fifa usou para anunciar o suposto fim da tradicional disputa intercontinental como ela vem sendo jogada.
"Este torneio [Mundial de Clubes] ampliará a estrutura da Copa Toyota, torneio que confrontava nos finais de ano em Tóquio o ganhador da Copa dos Campeões e o vencedor da Libertadores."
Esse parágrafo da Fifa erra ao dizer "confrontava" porque pelo menos neste ano ainda haverá Mundial interclubes. Erra ao citar apenas Tóquio porque houve disputas na América do Sul e na Europa e também em Yokohama.
O maior dos erros, porém, foi avançar o sinal. Conmebol e Uefa costuraram o atraente duelo entre seus campeões quando a Copa do Mundo também era praticamente restrita a dois continentes. Firmaram contratos que garantiram o Mundial interclubes no rico Japão por mais de 20 anos, sem interrupção da disputa mesmo em época de crise, de quebra de agências de marketing, de neve...
Com o mínimo de diálogo e o máximo de grana, o campeão europeu e o campeão sul-americano aceitarão o novo formato de Mundial da Fifa. Até porque a entidade máxima da bola abraçou o que era viável e valorizado.
Se for mesmo ratificado o novo torneio, o Mundial de Clubes será o primeiro e único Mundial organizado pela Fifa que será anual, algo impensável até a última semana. Para quem não dava muita bola até o final do século 20 para os clubes (oficialmente), é uma mudança de direção radical.
Com discurso de "solidarismo", o presidente da Fifa deu a cartada final para manter vivo seu Mundial (os outros foram de outros presidentes). A solidariedade de Blatter, porém, soou como apropriação indébita para a Conmebol e para muitos. A Fifa tomou para si o Mundial interclubes.
É cruz ou espada. Teremos em 2005 o Mundial de clubes mais politicamente correto da história ou talvez não tenhamos Mundial.

A melhor Copa dos Campeões!
O formato atual é bem bom. Os mais poderosos fazem menos jogos para ficar com o título, e há mais partidas emocionantes. As oitavas-de-final, fase que não existia, começam na terça-feira. Show!

A melhor Libertadores?
O formato atual é bem estranho. Na última rodada da fase de classificação, como os vices dos grupos dependem de outras chaves e os jogos não serão no mesmo dia e no mesmo horário, pode ter mutreta ou, no mínimo, time levando vantagem por causa da tabela. Argh!

O melhor Mundial de futsal...
O futebol de salão teve Mundiais, e bons, antes de 1989, quando a Fifa abraçou a modalidade. E ela não dá o Brasil como pentacampeão.

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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