São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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VÔLEI

Norte-americana suspensa por doping em 95 e argentino algoz do Brasil em Sydney-2000 são destaque na competição

Importados roubam a cena na Superliga

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Superliga é a principal vitrine para os atletas que ainda tentam convencer os técnicos de que merecem um lugar em Atenas.
Mas Bernardinho e Zé Roberto não poderão convocar os principais destaques dos Nacionais.
Na Olimpíada, Keba Phipps, melhor atacante da competição, estará postada do outro lado da quadra, com a camisa dos EUA.
Marcos Milinkovic, dono da mais poderosa artilharia do torneio masculino, vestirá o azul e branco da Argentina.
A dupla importada tem feito estragos nas quadras brasileiras.
Phipps aproveita 33,8% de seus ataques e, com cortadas potentes, conquistou os mineiros, acostumados a louvar Cristina Pirv.
A norte-americana não lembra em nada a musa romena. Usa cabelo rastafári e não tira os óculos de proteção para evitar lesões, conselho do amigo holandês Davids, jogador de futebol com quem é sempre comparada.
Milinkovic, oposto da Unisul, não precisou se apresentar. O argentino, que soma 270 pontos na Superliga -43 a mais do que o segundo colocado-, é velho conhecido dos brasileiros. De 1996 a 2000, o oposto defendeu os extintos Chapecó e Olympikus.
Mas foi na seleção que ele marcou a história do time verde-amarelo. Com um bloqueio perfeito, parou o novato Dante e selou o placar de um dos maiores vexames do Brasil: o time estava fora dos Jogos de Sydney-2000. A Argentina avançava às semifinais.
"Apesar disso, a torcida brasileira sempre me tratou bem. Essa é uma das maiores lembranças que eu tenho do vôlei. A atuação em Sydney e no Pan de 95", conta.
Em Mar del Plata, sua seleção desbancou os favoritos norte-americanos e ficou com o ouro.
Naquele ano, enquanto Milinkovic celebrava, Keba Phipps se envolvia em um escândalo na Itália. Um antidoping positivo para maconha arranhou sua carreira.
Phipps ficou suspensa por nove jogos, um a menos que o brasileiro Giba, flagrado no ano passado.
Hoje ela faz piadas, mas não esconde as marcas do episódio.
"Como aquilo afetou minha carreira? Eu perdi dinheiro", brinca. "É muito complicado lidar com isso, as pessoas te julgam, você vira "a drogada"... Imagino como o Giba se sentiu. Mas eu tentei tirar uma lição de tudo isso."
Phipps conseguiu refazer sua imagem. O escândalo não diminuiu o interesse das poderosas equipes italianas e, em 12 temporadas, ela conquistou oito Nacionais, a torcida e os críticos.
Virou a "pantera negra" -imagem que tatuou no quadril- e defendeu sete times na Itália antes de chegar ao Minas.
"A Superliga é forte, mas a Itália reúne as melhores jogadoras. É o melhor campeonato do mundo."
Phipps chegou à Europa "fugida". Aos 19 anos, após despontar em Seul-1988, brigou com a comissão técnica e deixou a seleção.
Para Milinkovic, a Itália também foi refúgio. Sem equipes fortes na Argentina, o jogador teve de sair de casa aos 21 anos.
O oposto ficou na Europa até 1996, quando veio para o Brasil. Em 2000, entrava em outro avião: ficou dois anos na Itália antes de se unir ao ex-companheiro de seleção Javier Weber, seu técnico.
Fora de casa, o melhor jogador do Mundial-02 viu o declínio de seu país. Por denúncias de corrupção, a federação argentina foi extinta, e as seleções foram suspensas de torneios internacionais.
O esporte do país só voltou a respirar neste ano. Com uma federação provisória, Milinkovic pôde comandar a equipe no Pré-Olímpico e assegurar vaga em Atenas. Na Grécia, o jogador da figurante Argentina encontrará Phipps em situação bem distinta.
A atacante, que fez as pazes com a seleção em 2002, estará na Olimpíada para lutar por medalhas.
Um exemplo do que os EUA podem fazer foi dado do Mundial-02, quando o time ficou com a prata. Phipps só não jogou a decisão devido a uma lesão no olho.


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