São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem terno, Lars Grael mira Olimpíada

Velejador, que retorna à equipe olímpica pela 1ª vez desde que sofreu acidente, revela ter se decepcionado com a política

Com uma preparação física arrojada e disposto a "ir ao limite da força de vontade", atleta prioriza Mundial e diz não descartar Londres-12


Lula Marques/Folha Imagem
Lars Grael (esq.) e proeiro treinam em início de tarde, no lago Paranoá, em Brasília, para o ano mais agitado desde que o medalhista olímpico voltou às competições

GIULLIANA BIANCONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A incursão pela cena política foi bem-sucedida, e o velejador Lars Grael chegou a ser cogitado para o cargo de vice-governador de São Paulo na campanha de José Serra, em 2006.
Diz que pensou, avaliou o que realmente o realizava na vida e deu meia-volta. Sua decisão foi deixar o terno e a gravata para uso eventual e reeleger a lycra, a camiseta e o boné o seu traje oficial de trabalho.
Agora, dias após retornar à equipe olímpica permanente de vela, afirma ter certeza de ter escolhido, há três anos, o caminho certo. Em entrevista à Folha deixou claro que, se alguma candidatura ainda o apetece, é a olímpica.
Apressou-se, entretanto, em tentar dissipar as expectativas em torno dos seus resultados na classe star, na qual tem Renato Moura como proeiro.
"Seria pretensioso da minha parte falar que vou estar nos Jogos de Londres, em 2012, mas não descarto essa possibilidade", afirmou Lars Grael, que havia 11 anos não chegava tão perto de engrenar uma nova campanha olímpica, a quinta em uma carreira que já lhe rendeu dois bronzes em Jogos.
A cautela do atleta, cuja trajetória é dividida em antes e depois do acidente sofrido em 1998, no qual teve a perna direita decepada pela hélice de uma lancha, contrasta com o entusiasmo que demonstra ao falar do desafio de voltar a enfrentar conhecidos de longa data.
"Eu quero ir ao limite da minha força de vontade. Sei que o meu exemplo de dar a volta por cima inspira muita gente, sei que apenas o fato de eu estar lá, competindo com nomes como Torben Grael e Robert Scheidt, causa orgulho em muita gente com deficiência física ou não. E essa consciência que tenho é uma enorme motivação", diz.
A dimensão de até onde pode chegar, Lars Grael, 45, espera ter já em 2010, quando disputará o Mundial de vela. O objetivo é fazer a melhor preparação possível até essa competição, com sessões de musculação na academia adaptada que montou na própria casa, natação, canoagem, treinos no barco quatro vezes por semana e disputas no Brasil e no exterior.
A estimativa do atleta é participar, ao lado de Renato Moura, de ao menos 17 torneios ao longo desta temporada.
A agenda cheia o impede de pensar até mesmo em cargos semelhantes ao que tem hoje, na CBVM (Confederação Brasileira de Vela e Motor), onde atua como diretor técnico.
"Também gosto de contribuir com o esporte repassando meu conhecimento técnico, mas, no momento, não estou aberto nem a esses convites."
Na bagagem onde acumula títulos, o velejador carrega também a experiência nos cargos de secretário nacional do Esporte do governo Fernando Henrique Cardoso e de secretário da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo no mandato de Geraldo Alckmin.
Conta que, devido a essas atuações, recebeu -e recusou- convites de partidos que queriam lançá-lo candidato.
"Fui sondado para cargos de deputado federal e vice-governador, mas, quando acompanhei bem de perto o nosso quadro político, fiquei muito desapontado com o que vi e ali percebi que a minha contribuição para o país teria mesmo que ser de outro jeito, no esporte."
Em 2007, chegou a aceitar a presidência da CBVM. Doze dias após assumir, anunciou a renúncia ao posto por discordar da parceria da entidade com uma casa de bingo.


Texto Anterior: Paulo Vinicius Coelho: Os bandidos estão vencendo
Próximo Texto: Crias: Filhos de Torben reforçam clã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.