São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Dois pesos, duas medidas


Em um mês, cartolas de SP dão exemplos de imaturidade, e Andres Sanchez esteve envolvido nos dois casos

O PRESIDENTE do Santos, Marcelo Teixeira, recebeu educado telefonema de seu colega corintiano, Andres Sanchez, no início desta semana. Andres pedia desculpas pelo tratamento destinado à torcida do Santos, no clássico de hoje, no Pacaembu. Entre outras coisas, afirmou que faria esse pedido de desculpas de maneira pública e formal, o que pode ocorrer em entrevista coletiva hoje, após o clássico. Mas que até agora não se confirmou.
Teixeira desligou o telefone também de forma educada, mas deixou claro ao colega corintiano que as desculpas não foram aceitas. Hoje, no Pacaembu, o Santos terá direito a 2.100 dos 34.500 ingressos à venda, ou 6% da carga total. À parte o pedido da Polícia Militar para diminuir a cota de bilhetes para os visitantes, um mês mudou muita coisa na maneira como o Corinthians enxerga a divisão de torcidas nos clássicos. Lembra das reclamações na semana de São Paulo x Corinthians?
Menos cordato do que Andres Sanchez, o diretor de futebol Mário Gobbi reclamou no início da semana do tratamento oferecido aos corintianos, quando estes visitam a Vila Belmiro. Marcelo Teixeira retrucou pedindo à sua assessoria que selecionasse imagens dos que são recebidos na Vila. Quer mostrar que o Santos oferece conforto em sua casa e rejeita a ideia de jogar no interior o clássico no Brasileirão, como Andres Sanchez diz ter combinado.
O episódio é a segunda demonstração em um mês da imaturidade dos dirigentes paulistas, no que diz respeito ao mando de campo nos clássicos. Comportam-se como se ainda vivêssemos nos anos 40, quando o poder público construía estádios e os jogos entre os grandes aconteciam num Pacaembu neutro.
Esse tempo passou. É justo que cada clube mande seu jogo, venda ingressos e seja obrigado a oferecer conforto e segurança a cada cidadão que deseje ir ao espetáculo. Errado é ter dois pesos e duas medidas.
Há um mês, antes do clássico contra o São Paulo, a direção corintiana contribuiu para a desinformação. Evitou comentar o fato de hoje ser IMPOSSÍVEL dividir o Morumbi ao meio, como se fez nas décadas passadas, porque o São Paulo tem compromissos comerciais com clientes/torcedores, que ocupam os dois setores centrais da arquibancada. O São Paulo poderia oferecer, digamos, 20% dos ingressos. Metade, só se violasse direitos de seus clientes.
Hoje, quando toca no caso, Andres Sanchez é mais ponderado do que era há um mês: "O São Paulo poderia fazer o que quisesse, desde que dialogasse". Com o Santos, ele tentou o diálogo, mas demorou tanto que teve rejeitado o pedido de desculpas.
O debate do mando de campo tem importância muito maior do que a discussão vazia da segurança. O futebol viveu do estádio público, como um adolescente do apoio irrestrito dos pais. É mais do que tempo de serem adultos e responsáveis por suas próprias casas. Isso significa acolher seus convidados e oferecer-lhes conforto e segurança. Agora, que o Corinthians manda clássicos no Pacaembu, o Santos na Vila, o Palmeiras no Palestra e o São Paulo no Morumbi... Agora que os clubes precisam se comportar como adultos responsáveis por seus atos e suas casas... Agora, que tal abandonar os cartolas adolescentes?

pvc@uol.com.br


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