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FUTEBOL
Assinado pelo presidente do clube, Amílcar Casado, documento nunca foi registrado pela Federação Paulista
Lusa contratou goleiro 'por fora'
do enviado a Itumbiara (GO)
Principal indício de que havia
um esquema de manipulação de
resultados no Paulista-98, o contrato entre o goleiro Nasser e a Lusa, que a Folha revela hoje, foi assinado e rescindido "por fora".
Segundo o próprio goleiro, o
acordo jamais foi registrado na Federação Paulista de Futebol. Segundo o próprio Conselho Deliberativo, não há registro no clube.
O presidente da FPF, Eduardo
José Farah, disse que também não
tem conhecimento dele. "Esse é
um assunto interno deles. Eu não
vi nenhum documento."
Além de Nasser, assinam o contrato o presidente da Lusa, Amílcar
Casado, o médico Júlio Cezar Lolla, que está no clube há mais sete
anos e, como testemunhas, duas
pessoas. Uma é o gerente de futebol do clube, Eraldo Luís da Silva,
conhecido como Biro. A outra assinatura supostamente pertence a
outra funcionária do clube.
O papel que foi usado é o documento-padrão da Confederação
Brasileira de Futebol. Pela legislação em vigor na época, os contratos com jogadores de futebol tinham que ser expedidos pela entidade federal. O contrato em questão tem o número 266694 (veja
quadro ao lado).
Segundo Nasser, o vice-presidente de futebol, Ilídio Lico, o procurou em abril por intermédio de
um empresário para assinar contrato com o clube. De acordo com
seu relato, ele foi recebido no dia
27 de abril no aeroporto de Guarulhos por um veículo do clube ("o
mesmo que foi receber o Zagallo")
e levado ao Lord Hotel, no centro
da cidade de São Paulo. O Lord é o
hotel que costuma hospedar a Lusa
quando ela se concentra.
Quando houve o contato pessoal,
no saguão do hotel, a primeira pergunta de Lico teria sido: "Quanto
do dinheiro ficou para você?".
"Eu não entendi nada. Ele insistiu. Fiquei louco, reagi. Depois, ele
reconheceu que eu não tinha nada
com essa história", disse Nasser.
Segundo o goleiro, a partir da hora em que se convenceu de que
Nasser era inocente, Lico recuou
da intenção de fazer o contrato.
O goleiro disse que para conseguir o acordo ameaçou tornar público o escândalo. "Se ele tinha me
chamado para assinar o contrato,
eu exigi que fizesse. Quem não
quer jogar num time grande?"
O contrato foi assinado em 1º de
maio, dois meses após o "jogo da
armação", entre Lusa e Santista.
O valor de R$ 12 mil mensais representa mais do que o dobro do
que os R$ 5 mil que o goleiro recebia na Portuguesa Santista e mais
do que seis vezes seu salário atual,
R$ 1,8 mil, no Itumbiara.
"Eles me disseram que era para
eu jogar. Eu contratei um treinador de goleiros e fiquei treinando
três semanas em Brasília."
Mas, no dia 22, divulgaram-se as
primeiras suspeitas envolvendo o
caso, e, segundo o goleiro, Lico
mandou dizer-lhe que ele não
atuaria mais na Lusa.
Nasser afirmou que, ao receber a
notícia de que Lico o procurara para assinar contrato, suspeitou.
"Afinal, foi ele quem me mandou
embora da Lusa, em 1992."
Lico, o único dirigente que admitiu ter mantido contato com Nasser, disse que não o procurou, mas
que foi procurado pelo atleta
-que lhe teria relatado que sabia
de um suposto esquema envolvendo seu nome e lhe pedido "ajuda".
Lico disse que o clube queria um
goleiro reserva, mas que, quando o
escândalo se esboçou, recuou.
Nasser rebateu. "Como saberia?"
Ontem, Lico afirmou que não daria mais entrevistas por telefone à
Folha, que, segundo ele, teria distorcido suas declarações.
O presidente do Conselho Deliberativo da Lusa, Carlos Alberto
da Conceição Lima, confirma que
nunca foi avisado do acerto com
Nasser. "A diretoria sempre nos
informa de todas as contratações."
A Folha procurou Amílcar Casado em sua casa e pelo seu celular,
mas não o localizou até o fechamento desta edição. O presidente
havia negado três vezes à Folha, na
quarta-feira, a existência do documento.
(MARCELO DAMATO)
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