São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

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Em manual, COI ensina a lidar com tocha polêmica

Comitê padroniza posições sobre os protestos antichineses no périplo da chama

Documento confidencial aborda temas controversos como saída de Taiwan de revezamento internacional e manifestações pró-Tibete

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia seguinte ao acendimento da pira dos Jogos de Pequim, o COI decidiu blindar o Movimento Olímpico contra as polêmicas despertadas em torno do revezamento da tocha.
Documento confidencial do Comitê Olímpico Internacional obtido pela Folha é um autêntico manual de como responder sobre temas mais espinhosos -notadamente políticos- relacionados aos Jogos.
Com sete páginas, o relatório, na forma de perguntas e respostas, foi enviado no dia 26 de março aos comitês olímpicos nacionais, federações esportivas e até patrocinadores.
Na véspera, haviam ocorrido distúrbios durante a cerimônia em Olímpia (Grécia), que deu início ao périplo mundial da tocha. Manifestações se tornaram rotina nas etapas seguintes do revezamento mundial, com incidentes mais sérios em Paris, Londres e San Francisco.
Ontem, em Kuala Lumpur, na Malásia, houve novo distúrbio (uma família acabou detida por mostrar a bandeira do Tibete). Hoje, a tocha segue para a Indonésia. Para o COI, os protestos já eram esperados.
"Estamos preparados para a possibilidade de ocorrerem manifestações durante a rota da tocha olímpica. O Bocog [comitê organizador dos Jogos de Pequim] e as autoridades locais não hesitarão em tomar atitudes quando e se necessário para garantir a segurança dos corredores e do público."
Criticada por ONGs por fazer vista grossa às violações dos direitos humanos no país-sede da Olimpíada, a entidade defende sua posição: "O COI não é uma organização política".
"Mas reconhecemos que o alcance global de nossas atividades freqüentemente realçam questões não esportivas, que despertam paixões profundas", continua o comunicado oficial.
O "manual" não foge nem a questões relacionadas à passagem da tocha pelo monte Everest e à provável reação dos tibetanos, que reivindicam mais autonomia em relação à China.
"Respeitamos o direito de organizações realizarem manifestações pacíficas. Também respeitamos o direito de as autoridades locais controlarem manifestações pacíficas e não pacíficas [e manifestantes] da maneira que acharem necessário para manter a ordem."
Ainda no item Tibete, depois de ressaltar que não irá interferir em caso de repressão violenta, o comitê relata que nada fará caso a polícia "faça prisões ou tome outras atitudes".
A cerimônia de chegada da tocha, programada para a praça Tiananmen, em Pequim, é mais um evento em que o comitê teme distúrbios. O local foi cenário de violenta repressão a protestos estudantis ocorridos em 1989. Foi a última grande manifestação pública local contra o governo chinês.
O COI se exime de responsabilidade sobre o uso da praça na festa da tocha e na rota da maratona olímpica. "As decisões sobre o uso dos locais para os eventos olímpicos são tomadas essencialmente pelo comitê organizador de Pequim."
Outros assuntos embaraçosos ao Bocog são abordados no relatório, como a saída de etapa de Taiwan do revezamento.
Considerada pela China como Província rebelde, a ilha não aceitou fazer parte da rota nacional da tocha, reivindicando o direito de integrar o percurso internacional da chama.
O COI explica que Taiwan ficou de fora do itinerário por não haver acordo e pelo fato de "o tempo para completar o planejamento de logística se esgotou e tornou-se claro que a tocha teria que seguir adiante sem passar por Taiwan".


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