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Em manual, COI ensina a lidar com tocha polêmica
Comitê padroniza posições sobre os protestos antichineses no périplo da chama
Documento confidencial aborda temas controversos como saída de Taiwan de revezamento internacional e manifestações pró-Tibete
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia seguinte ao acendimento da pira dos Jogos de Pequim, o COI decidiu blindar o
Movimento Olímpico contra as
polêmicas despertadas em torno do revezamento da tocha.
Documento confidencial do
Comitê Olímpico Internacional obtido pela Folha é um autêntico manual de como responder sobre temas mais espinhosos -notadamente políticos- relacionados aos Jogos.
Com sete páginas, o relatório, na forma de perguntas e
respostas, foi enviado no dia 26
de março aos comitês olímpicos nacionais, federações esportivas e até patrocinadores.
Na véspera, haviam ocorrido
distúrbios durante a cerimônia
em Olímpia (Grécia), que deu
início ao périplo mundial da tocha. Manifestações se tornaram rotina nas etapas seguintes do revezamento mundial,
com incidentes mais sérios em
Paris, Londres e San Francisco.
Ontem, em Kuala Lumpur,
na Malásia, houve novo distúrbio (uma família acabou detida
por mostrar a bandeira do Tibete). Hoje, a tocha segue para
a Indonésia. Para o COI, os
protestos já eram esperados.
"Estamos preparados para a
possibilidade de ocorrerem
manifestações durante a rota
da tocha olímpica. O Bocog [comitê organizador dos Jogos de
Pequim] e as autoridades locais
não hesitarão em tomar atitudes quando e se necessário para garantir a segurança dos corredores e do público."
Criticada por ONGs por fazer
vista grossa às violações dos direitos humanos no país-sede
da Olimpíada, a entidade defende sua posição: "O COI não
é uma organização política".
"Mas reconhecemos que o
alcance global de nossas atividades freqüentemente realçam
questões não esportivas, que
despertam paixões profundas",
continua o comunicado oficial.
O "manual" não foge nem a
questões relacionadas à passagem da tocha pelo monte Everest e à provável reação dos tibetanos, que reivindicam mais
autonomia em relação à China.
"Respeitamos o direito de organizações realizarem manifestações pacíficas. Também
respeitamos o direito de as autoridades locais controlarem
manifestações pacíficas e não
pacíficas [e manifestantes] da
maneira que acharem necessário para manter a ordem."
Ainda no item Tibete, depois
de ressaltar que não irá interferir em caso de repressão violenta, o comitê relata que nada
fará caso a polícia "faça prisões
ou tome outras atitudes".
A cerimônia de chegada da
tocha, programada para a praça
Tiananmen, em Pequim, é
mais um evento em que o comitê teme distúrbios. O local
foi cenário de violenta repressão a protestos estudantis
ocorridos em 1989. Foi a última
grande manifestação pública
local contra o governo chinês.
O COI se exime de responsabilidade sobre o uso da praça
na festa da tocha e na rota da
maratona olímpica. "As decisões sobre o uso dos locais para
os eventos olímpicos são tomadas essencialmente pelo comitê organizador de Pequim."
Outros assuntos embaraçosos ao Bocog são abordados no
relatório, como a saída de etapa
de Taiwan do revezamento.
Considerada pela China como Província rebelde, a ilha
não aceitou fazer parte da rota
nacional da tocha, reivindicando o direito de integrar o percurso internacional da chama.
O COI explica que Taiwan ficou de fora do itinerário por
não haver acordo e pelo fato de
"o tempo para completar o planejamento de logística se esgotou e tornou-se claro que a tocha teria que seguir adiante
sem passar por Taiwan".
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