São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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FUTEBOL

Fantasias de um colunista

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No momento que lerem esta coluna, estarei a caminho de Ulsan, na Coréia do Sul. Deixei o Brasil na segunda e só chegarei na quinta. Parece até que estou indo para outro planeta.
Quando viajo (sempre viajo na imaginação), as coisas nunca acontecem como fantasio. A realidade e os fatos são sempre bem diferentes. Meu mundo imaginário é minha verdade e só meu.
Sei, por leitura de um almanaque, que a Coréia do Sul é um grande exportador de tecnologia, que está na 20ª posição no índice de desenvolvimento humano (o Brasil está em 69º), que a mortalidade infantil é de 7,1 por mil (no Brasil é de 28 por mil), que é do tamanho de Pernambuco, mas tem uma população de quase 50 milhões, e muitas outras coisas que interessam pouco aos leitores.
Na minha fantasia, a Coréia é um país estranho, artificial e totalmente computadorizado. Imagino que, na entrada do país, pedirão meu e-mail e me perguntarão qual a marca de meu laptop.
Se descobrirem que escrevo à mão, com caneta esferográfica (o grande poeta Manoel de Barros escreve a lápis e borracha), e que talvez envie minha coluna por telefone ou por um pombo-correio, não me deixarão entrar no país. Talvez me internem num hospital psiquiátrico, com diagnóstico de bloqueio mental. O prognóstico do médico será sombrio. Pode ser também que me coloquem num museu, como exemplo de uma espécie rara, em extinção.
Até hoje não sei se minha recusa a aprender a usar o computador, a ler manual de instruções e a usar caixas 24 horas é devido a uma postura ideológica, um distúrbio psicológico ou uma falta de alguma enzima no cérebro.
Deve ser tudo isso.
Imagino também que, na Coréia e Japão, as pessoas só conversam por e-mails. No Brasil, já está mais ou menos assim e andam com duas antenas na cabeça e um micro no bolso. A mente pensa e a máquina registra, imprime e ainda manda lembranças.
Estou cada vez mais perdido e pressionado. Tenho de tomar uma decisão. Aprendo a mexer no computador (já sei ligar) ou abandono tudo e vou morar numa cidade bem longe, onde o correio só passa uma vez por mês, as pessoas andam nas ruas, conversam, trocam gentilezas desinteressadas e não têm medo de serem assaltadas.

Variações táticas
Não haverá novidade no desenho tático das seleções durante a Copa. A principal variação será a presença de dois ou três autênticos zagueiros.
Na prática, os times que atuam com três zagueiros e dois alas formam uma linha de cinco defensores quando são atacados.
A maioria dos times que atua com quatro defensores utiliza quatro no meio-campo e dois atacantes. Os quatro armadores podem formar vários desenhos.
A Espanha joga com dois volantes e um armador ofensivo de cada lado (4-2-2-2).
A Inglaterra faz uma linha de quatro armadores. Todos defendem e atacam (4-4-2).
A França joga com três armadores e um quarto livre (Zidane) na ligação com os dois atacantes. Forma um losango (4-3-1-2).
A Alemanha, que sempre jogou com três zagueiros, deve atuar como a França. Portugal joga com quatro defensores, dois volantes, três armadores ofensivos (direita, centro e esquerda) e somente um atacante fixo (4-2-3-1).
Argentina, Brasil e Itália jogam com três autênticos zagueiros. A Argentina usa só um volante, um armador ofensivo e três atacantes (3-3-1-3). Os alas argentinos, ao contrário dos brasileiros e italianos, participam do meio-campo.
Brasil e Itália jogam com dois volantes e um armador na ligação com os dois atacantes. Na prática é o 5-2-1-2, em vez do 3-4-1-2. A Itália freqüentemente utiliza três volantes, além dos três zagueiros (5-3-2).
Para saber se um time é mais defensivo ou ofensivo, mais importante do que o desenho tático é o tipo de marcação. Ela poderá se iniciar no próprio campo, no círculo central ou no campo adversário. Dessa forma o time se torna mais ofensivo.
A única virtude coletiva do Brasil contra a Catalunha, em poucos momentos, foi a marcação por pressão. Assim aconteceram os dois primeiros gols.
Habitualmente, a Argentina e, às vezes, o Brasil e a França utilizam dois atacantes pelos lados e um centroavante. Se todos recuarem para marcar, e depois contra-atacar, formarão o 4-6-0, sonho do Zagallo e do Parreira, materializado em alguns momentos na equipe do Corinthians.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br



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