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FUTEBOL
Fantasias de um colunista
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No momento que lerem esta
coluna, estarei a caminho de
Ulsan, na Coréia do Sul. Deixei o
Brasil na segunda e só chegarei
na quinta. Parece até que estou
indo para outro planeta.
Quando viajo (sempre viajo na
imaginação), as coisas nunca
acontecem como fantasio. A realidade e os fatos são sempre bem
diferentes. Meu mundo imaginário é minha verdade e só meu.
Sei, por leitura de um almanaque, que a Coréia do Sul é um
grande exportador de tecnologia,
que está na 20ª posição no índice
de desenvolvimento humano (o
Brasil está em 69º), que a mortalidade infantil é de 7,1 por mil (no
Brasil é de 28 por mil), que é do
tamanho de Pernambuco, mas
tem uma população de quase 50
milhões, e muitas outras coisas
que interessam pouco aos leitores.
Na minha fantasia, a Coréia é
um país estranho, artificial e totalmente computadorizado. Imagino que, na entrada do país, pedirão meu e-mail e me perguntarão qual a marca de meu laptop.
Se descobrirem que escrevo à
mão, com caneta esferográfica (o
grande poeta Manoel de Barros
escreve a lápis e borracha), e que
talvez envie minha coluna por telefone ou por um pombo-correio,
não me deixarão entrar no país.
Talvez me internem num hospital
psiquiátrico, com diagnóstico de
bloqueio mental. O prognóstico
do médico será sombrio. Pode ser
também que me coloquem num
museu, como exemplo de uma espécie rara, em extinção.
Até hoje não sei se minha recusa a aprender a usar o computador, a ler manual de instruções e
a usar caixas 24 horas é devido a
uma postura ideológica, um distúrbio psicológico ou uma falta de
alguma enzima no cérebro.
Deve ser tudo isso.
Imagino também que, na Coréia e Japão, as pessoas só conversam por e-mails. No Brasil, já está
mais ou menos assim e andam
com duas antenas na cabeça e um
micro no bolso. A mente pensa e a
máquina registra, imprime e ainda manda lembranças.
Estou cada vez mais perdido e
pressionado. Tenho de tomar
uma decisão. Aprendo a mexer
no computador (já sei ligar) ou
abandono tudo e vou morar numa cidade bem longe, onde o correio só passa uma vez por mês, as
pessoas andam nas ruas, conversam, trocam gentilezas desinteressadas e não têm medo de serem assaltadas.
Variações táticas
Não haverá novidade no desenho tático das seleções durante a
Copa. A principal variação será a
presença de dois ou três autênticos zagueiros.
Na prática, os times que atuam
com três zagueiros e dois alas formam uma linha de cinco defensores quando são atacados.
A maioria dos times que atua
com quatro defensores utiliza
quatro no meio-campo e dois atacantes. Os quatro armadores podem formar vários desenhos.
A Espanha joga com dois volantes e um armador ofensivo de cada lado (4-2-2-2).
A Inglaterra faz uma linha de
quatro armadores. Todos defendem e atacam (4-4-2).
A França joga com três armadores e um quarto livre (Zidane)
na ligação com os dois atacantes.
Forma um losango (4-3-1-2).
A Alemanha, que sempre jogou
com três zagueiros, deve atuar como a França. Portugal joga com
quatro defensores, dois volantes,
três armadores ofensivos (direita,
centro e esquerda) e somente um
atacante fixo (4-2-3-1).
Argentina, Brasil e Itália jogam
com três autênticos zagueiros. A
Argentina usa só um volante, um
armador ofensivo e três atacantes
(3-3-1-3). Os alas argentinos, ao
contrário dos brasileiros e italianos, participam do meio-campo.
Brasil e Itália jogam com dois
volantes e um armador na ligação com os dois atacantes. Na
prática é o 5-2-1-2, em vez do 3-4-1-2. A Itália freqüentemente utiliza três volantes, além dos três zagueiros (5-3-2).
Para saber se um time é mais
defensivo ou ofensivo, mais importante do que o desenho tático
é o tipo de marcação. Ela poderá
se iniciar no próprio campo, no
círculo central ou no campo adversário. Dessa forma o time se
torna mais ofensivo.
A única virtude coletiva do Brasil contra a Catalunha, em poucos
momentos, foi a marcação por
pressão. Assim aconteceram os
dois primeiros gols.
Habitualmente, a Argentina e,
às vezes, o Brasil e a França utilizam dois atacantes pelos lados e
um centroavante. Se todos recuarem para marcar, e depois contra-atacar, formarão o 4-6-0, sonho do Zagallo e do Parreira, materializado em alguns momentos
na equipe do Corinthians.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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