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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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FUTEBOL

Após discutir possibilidade de promover partidas com portões fechados, Teixeira quebra silêncio e ressuscita rodada

Acordo fechado, CBF esquece paralisação

Vanderlei Almeida/France Presse
Funcionário trabalha no hall de entrada do Maracanã, estádio que neste Brasileiro tem abrigado os jogos em que Flamengo e Fluminense atuam como mandantes


FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Um dia depois de patrocinar a reunião que suspendeu o futebol no país, a CBF resolveu manter a disputa da rodada do final de semana do Campeonato Brasileiro.
A decisão foi tomada por Ricardo Teixeira, presidente da CBF, por volta das 23h de ontem. O cartola, que não fez nenhum pronunciamento, quer diluir entre os 48 clubes das duas principais divisões a decisão ou não de paralisar o esporte mais popular do país.
Teixeira cogitou agendar uma reunião do Conselho Técnico das duas séries, na próxima terça-feira, para decidir o futuro do campeonato. Desistiu. Fará chegar aos clubes que eles terão que convocar o conselho se quiserem parar.
A decisão do dirigente, revelada a amigos no fim da noite de ontem, aconteceu menos de duas horas depois da reunião entre dirigentes de clubes e o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, na qual foi feito um acordo para amenizar pontos do Estatuto do Torcedor que afetavam os cartolas.
O presidente da CBF, com seu ato, quer se desvincular totalmente da negociação para parar o futebol. Desde o encontro que referendou a suspensão do torneio, o presidente da CBF não falou. Tampouco a entidade oficializou a interrupção da competição, seja por nota oficial ou declaração.
O silêncio da entidade e de seus dirigentes fazia parte da estratégia de não inviabilizar uma saída negociada com o governo federal.
A pauta inicialmente alardeada para o evento de terça dava conta de que o encontro definiria vagas na Copa Sul-Americana e na Libertadores de 2004. Mas desde a véspera pelo menos três dos integrantes mais importantes da reunião sabiam que o que seria discutido era o motim contra pontos do Estatuto do Torcedor.
Primeiro, Teixeira ouviu as ponderações dos clubes, feitas especialmente por Eurico Miranda (Vasco) e Mario Celso Petraglia (Atlético-PR). Eduardo Viana, o Caixa D'Água (Federação do Rio), defendia a manutenção dos jogos, mas sem público. Foi apoiado por alguns dos cartolas.
O presidente da CBF posicionou-se contra. Disse que não queria se parecer com um deputado da ala radical do PT, mas com alguém com poder de negociação nos bastidores.
"Não quero ser radical. Não quero ser o Babá dos cartolas. Quero assumir um papel conciliador como o de Tancredo Neves, o de José Sarney", declarou Teixeira, segundo interlocutores.
O dirigente afirmou ainda que o ato poderia ser entendido como uma afronta por integrantes do governo. Propôs-se, então, a paralisação para forçar o ministério do Esporte a negociar.

Passeata
Durante a reunião na sede da CBF, que durou duas horas e meia, os cartolas cogitaram levar os principais jogadores do país para uma passeata em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.
No encontro, que contou ainda com as presenças de Fábio Koff (Clube dos 13), Marcelo de Campos Pinto (Globo Esportes), Marco Antonio Teixeira (secretário-geral da CBF), Carlos Eugênio Lopes (Diretor Jurídico da CBF) e Onaireves Moura (Federação do PR), os dirigentes decidiram se organizar para barrar pontos do estatuto. Citaram mais de uma vez o caso do torcedor Rui Nelson de Moura Jr., que caiu sobre uma grade com lanças no Morumbi há uma semana. Se o estatuto estivesse em vigor, o presidente do Corinthians, Alberto Dualib, poderia ser responsabilizado.
Discutiu-se também o cancelamento dos jogos de ida das semifinais da Copa do Brasil de ontem à noite. Desta vez, a Globo foi contra. Disse que sua grade já estava feita. Ponderou-se também que ingressos já tinham sido vendidos, o que poderia dar margem para mais confusões no tribunal.
Na terça, ficou combinado que só os dirigentes de clubes falariam. Eurico foi um dos escalados para dar entrevista à Globo. Teixeira e os representantes da Globo Esportes acertaram não falar.
Para os presentes, a suspensão do Brasileiro, amplificada pela presença de repórteres da TV Globo no saguão (o que significaria uma entrada ao vivo no "Jornal Nacional"), faria o governo ouvir a proposta dos cartolas, o que de fato aconteceu.
Na avaliação da CBF, a paralisação não sairia mesmo do papel. Haveria uma "solução negociada" com o governo. Clube dos 13 e Globo também apostavam em um acordo de cavalheiros.
Mesmo assim, um advogado da CBF foi avisado de que, logo após a reunião com o ministro, poderia ter que procurar um partido político para entrar imediatamente no Supremo Tribunal Federal com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Após o acordo dos clubes com Queiroz, essa estratégia foi descartada.


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