São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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TOSTÃO

A emoção e a beleza do esporte


Melhor que entender os detalhes técnicos de uma modalidade é vê-la como algo prazeroso e belo


UMA COMPETIÇÃO esportiva pode ser vista de várias maneiras. Alguns, principalmente treinadores e jornalistas mais pragmáticos, enxergam no esporte uma disputa quase apenas de técnica, de estratégia e de eficiência. São os "entendidos", como dizia Nelson Rodrigues.
Nem todos que falam de esporte são "entendidos". De médico, louco e comentarista de esporte, todo mundo tem um pouco. Como o futebol é o esporte mais imprevisível, todos se acham no direito de opinar. E ainda dizem: "É a sua opinião contra a minha". Todos são colocados dentro do mesmo saco.
Grande número de torcedores quer apenas torcer por seu clube e/ou país, como no Pan. É também uma forma de exteriorizar as emoções e de participar de um grupo, de uma nação.
Muitos torcedores projetam também nos seus ídolos os seus sonhos de ser um campeão, um medalhista de ouro, de fazer algo grandioso e de ser imortalizado. Esse desejo está presente em todos nós.
Os psicólogos, com diploma ou de botequim, tentam analisar as emoções dos atletas e como eles lidam com a pressão e a ansiedade. A profissão da moda é o motivador, psicólogo ou não. Todo atleta ou equipe tem o seu motivador. Para ser um bom motivador, é preciso ser esperto, falar bem e ser um grande sedutor, capaz de sugestionar. Isso não se aprende na escola.
Os sociólogos enxergam o esporte como um espelho na sociedade. Os moralistas, como uma metáfora do bem e do mal, do certo e do errado.
Muitos preconceituosos intelectuais vêm o esporte como algo menor, puramente corporal, pouco inteligente. O clichê de que esporte é cultura não ocorre na prática. A cultura costuma ignorar o esporte.
Na maior parte da vida, os afetos estão ligados a uma idéia, a uma história. Gosto ou não, fico alegre ou triste por algum motivo, mesmo quando não sei o que é.
A música é uma das exceções. Quando escutamos uma bela melodia, sem letra, viajamos por um mundo imaginário, que vai além da palavra e do pensamento. Nesses momentos, nos sentimos mais humanos e mais próximos da natureza.
As emoções de uma disputa esportiva costumam também não chegar à consciência e se manifestar diretamente no corpo dos atletas. Ao sofrer uma falta, um atleta, sem racionalizar, solta o braço e agride ao adversário. A falta de intenção não o livra de punição.
Em outra situação, o craque, sem pensar, executa um belo lance. É um saber que antecede ao raciocínio lógico. Ele sabe, mas não sabe que sabe.
Melhor que entender os detalhes técnicos de um esporte, é vê-lo como algo prazeroso e belo.
"O essencial é saber ver, sem estar a pensar, sem pensar quando se vê." (Fernando Pessoa).
Nesse momento trágico e de indignação, por causa do acidente aéreo, eu me distraio com as competições do Pan, mesmo sem compreender bem a maioria dos esportes.
O que mais me fascinou, pela beleza dos movimentos, foi a apresentação do ginasta Mosiah Rodrigues, medalhista de ouro na barra fixa. Ele voou como um pássaro. Nada mais belo.

tostao.folha@uol.com.br


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