São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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Seleção perde para o Paraguai, estádio não lota e torcida pede Romário

Era Scolari termina do jeito que começou

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Como começou, terminou. A era Scolari acabou ontem à tarde de modo anticlimático. No primeiro jogo após a conquista da Copa-2002, em Fortaleza, a seleção brasileira perdeu por 1 a 0 para o Paraguai e não conseguiu reproduzir nem de longe o bom futebol apresentado no Mundial.
Além disso, jogou para um estádio com vários clarões nas arquibancadas -33.611 pagantes, para 60 mil lugares- e para um público bem menos empolgado do que aquele que festejou alucinadamente pelas ruas o título conquistado na Ásia em 30 de junho.
O técnico Luiz Felipe Scolari, que estreou na seleção em 1º de julho do ano passado, com derrota para o Uruguai, 1 a 0, se despediu após colocar em campo os 21 jogadores que tinha à disposição, arremedos dos atletas da Ásia.
Em início de temporada -portanto fora de forma- e desarrumados em campo, os brasileiros erraram muito e não conseguiram realizar jogadas de efeito, algo que prescinde de preparo físico ou treino. Por causa da péssima atuação do time, os cearenses chegaram, no final do amistoso, a gritar o nome de Romário, atacante idolatrado pelos brasileiros às vésperas da Copa-2002, desprezado por Scolari e, durante o Mundial, esquecido pela torcida.
Quando o jogo terminou, parte do público vaiou a seleção, enquanto outra parcela aplaudiu.
Alguns chegaram a atirar copos d'água no campo quando a seleção descia para os vestiários.
A partida foi realizada no Ceará para beneficiar Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência -que construiu sua carreira política no Estado-, e Tasso Jereissati, candidato ao Senado pelo PSDB do Ceará e amigo do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
A seleção não perdia havia 15 jogos e mais de nove meses, desde 7 de novembro do ano passado, quando caiu diante da Bolívia, em La Paz, pelas eliminatórias.
O insucesso diante do Paraguai, eliminado na segunda fase da Copa e que foi ao Ceará desfalcado de seus principais craques, quebrou também uma sequência de nove vitórias da seleção.
Quando os pentacampeões entraram em campo, os aplausos da torcida foram contidos.
A primeira manifestação de euforia só apareceu quando Cafu, instantes antes do início do jogo, subiu num pedestal no centro do gramado para levantar a taça, repetindo gesto realizado no estádio de Yokohama, no Japão, no último dia 30 de junho. Três dos 23 atletas que foram à Copa não puderam jogar ontem: Lúcio, Roque Júnior e Juninho, machucados.
Os maiores destaques da seleção brasileira no Mundial -Rivaldo e Ronaldo- sumiram ontem durante o pouco tempo que estiveram em campo. O primeiro apenas por 33 minutos, o segundo por toda a etapa inicial.
O único que teve uma atuação razoável contra os paraguaios foi o meia-atacante Ronaldinho.
E o único gol do jogo foi marcado aos 28min do primeiro tempo, por intermédio de Cuevas, que chutou rasteiro da entrada da área. A bola bateu na trave direita de Marcos antes de entrar.
A seleção, que fizera duas mudanças no primeiro tempo, voltou para a segunda etapa com outras sete substituições, e a confusão em campo perdurou.
A limitação física dos jogadores foi potencializada pelo forte calor em Fortaleza: o termômetro do placar eletrônico do estádio marcou entre 30C e 33C durante a partida. No final do segundo tempo, a torcida foi à loucura quando Edílson balançou as redes aos 39min -o atacante estava impedido, e o gol foi anulado.
Ao final da partida, Scolari considerou a derrota um bom resultado para os brasileiros.
"É um jogo de festa, não tem que cobrar. Sempre que se fizer um jogo de festa dentro do Brasil, com nossos jogadores, temos que esperar um trabalho tranquilo, leve, light, sem exigências. Além disso, cerca de oito jogadores acabaram de começar uma pré-temporada, não estão no melhor de sua forma. 1 a 0 está bom demais", resignou-se o técnico, que se dedicará nos próximos meses a projetos pessoais e aguarda convite para treinar um clube europeu.
Ontem, Ricardo Teixeira reafirmou que o nome do sucessor de Scolari só será anunciado em janeiro. Para um possível amistoso em novembro, o time seria comandado por um homenageado.
"Começamos com derrota, terminamos com outra. Mas, no meio, teve a Copa. Acho que as duas derrotas serão esquecidas e que o penta será lembrado", sintetizou assim Scolari sua era, que durou pouco mais de um ano, à frente da seleção brasileira.



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