São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Comissão da FPF se reúne hoje para discutir caso de árbitro que deu reversão nas cobranças de lateral maneta

Juiz pune jogador sem mão por lateral

RODRIGO ROSSI
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol vai se reunir hoje para avaliar o caso do juiz Jenhins Barbosa dos Santos, que marcou reversão em todas as cobranças de lateral de um jogador do Botafogo-SP, durante uma partida do Campeonato Paulista sub-15, porque o atleta não tinha uma das mãos.
O caso ocorreu no último final de semana, durante o clássico entre os times de Ribeirão Preto -Botafogo e Comercial-, válido pela abertura do torneio. A situação chocou a família do jogador e toda a comissão técnica do time, que teve até o treinador Zito expulso de campo pelo fato.
O lateral-esquerdo Waine Raphael Dantas Araújo, 15, titular do Botafogo há oito anos, não tem a mão esquerda devido a uma má formação congênita durante a gravidez. Ele cobrou três vezes um arremesso lateral, até o árbitro intervir. Santos alegou que a cobrança estava irregular pelo fato de o garoto não ter segurado a bola com as duas mãos, como manda a regra.
"Foi uma discriminação. A única coisa que eu quero é continuar jogando", disse o lateral.
A família do atleta e todo o time acusaram o árbitro de preconceito. O caso foi parar na polícia.
"Foi uma atitude infeliz e isolada do árbitro e não reflete a atitude de nenhum membro da escola. Vamos nos reunir para discutir o fato ocorrido", disse Almir Laguna, que é um dos membros da comissão de arbitragem da FPF.
Laguna afirmou que a reunião vai tentar encontrar uma solução para que novos casos não aconteçam. A comissão de arbitragem descartou punir o árbitro, mas somente após a reunião de hoje um parecer será dado.
"Queremos apenas saber se a interpretação do árbitro está correta ou errada", disse o irmão do garoto, William Dantas Araújo. Segundo ele, a família não quer indenização ou alteração do resultado da partida -que terminou empatada, sem gols.
"Só queremos que o caso seja apurado para que situações constrangedoras não se repitam e meu irmão possa dar sequência à carreira dele", afirmou.
O secretário de futebol do Botafogo, Rodrigues Galo, disse que o clube solicitou à comissão que observe o episódio pelo aspecto humano para não prejudicar a ascensão do atleta. "Queremos que o árbitro explique o motivo que o levou a ter uma atitude indelicada, pois o trabalho de formação de um atleta deve partir do clube e de todos os envolvidos com o futebol", disse o dirigente.
O Botafogo já teve um atleta deficiente na década de 80: o atacante Rinaldo, que não tinha todo o antebraço direito. O jogador, no entanto, nunca teve problemas semelhantes em campo.
Além de recorrer à federação, a família enviou ofício ao Sindibol (Sindicato dos Clubes de Futebol Profissional). "Esse garoto é um verdadeiro exemplo", afirmou Laguna, da FPF.
A Folha não conseguiu falar com o árbitro Jenhins Barbosa dos Santos ontem. No dia da partida, ele também não se pronunciou sobre o caso.



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