São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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ENTREVISTA
CARLOS ARTHUR NUZMAN


O Comitê Olímpico Brasileiro não tem e não forma atletas


EM CINGAPURA PARA OS JOGOS DA JUVENTUDE, PRESIDENTE DA ENTIDADE DIZ QUE FORMAÇÃO

MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA

Carlos Arthur Nuzman, 68, não gosta de ser responsabilizado pelas falhas e resultados ruins do esporte nacional, apesar de acumular os dois principais cargos do esporte olímpico no Brasil.
O presidente do Comitê Organizador dos Jogos do Rio- -2016 e do Comitê Olímpico Brasileiro atendeu a Folha em Cingapura, onde acompanha os Jogos Olímpicos da Juventude, evento que reúne parte da geração que competirá na Olimpíada brasileira.
Na entrevista, Nuzman afirma que problemas de detecção de novos talentos e de formação de atletas devem ser atribuídos às confederações nacionais, aos clubes, às secretarias estaduais, mas não ao COB. "O COB não tem atletas nem forma atletas", repetiu diversas vezes em uma hora de entrevista.
Além disso, prometeu, a contragosto, entregar uma projeção de medalhas para a Rio-2016 até o fim do ano.

 

Folha - Os Jogos de Cingapura servem de parâmetro para determinar quem pode brilhar na Olimpíada do Rio?
Carlos Arthur Nuzman - Não. Os Jogos da Juventude têm 3.600 atletas, contra 10.500 dos Jogos Olímpicos, então não se pode comparar. Não há muitas modalidades, e o COI também limitou o número de representantes por país. Então, nós não somos os donos da composição da delegação. Muitos atletas ficaram no Brasil por não ter suas provas nos Jogos.

O desempenho dos atletas brasileiros aqui tem que condizer com o do Brasil em Olimpíadas?
Não se pode comparar. É uma coisa completamente diferente e nova. A maneira com que esses atletas foram trabalhados ocorreu no desconhecimento. Alguns qualificatórios terminaram neste ano, em cima da hora, então não teve preparação.

Se o Brasil não conquistar nenhum ouro não vai ser uma decepção?
Não. Não viemos por causa da medalha. Viemos para poder entrar na busca de talentos. Mas estes Jogos trazem um benefício para países como o Brasil, que ficam longe do centro do esporte do mundo. Na Europa, os atletas já têm bagagem internacional porque é fácil viajar e competir. Aqui, os atletas brasileiros estão lidando com um foco novo, uma competição mundial, com mídia, com coisas que jamais passaram pela cabeça deles.

Mesmo com as limitações do COI, o Brasil não trouxe atletas de levantamento de peso, lutas, taekwondo e badminton, que respondem por 20% das medalhas em Cingapura. Isso não demonstra uma ineficiência de formar novos atletas para a Rio-2016?
Eles não vieram porque não conseguiram se classificar. Isso é um trabalho que a confederação tem que desenvolver, e elas estão em uma encruzilhada. Ou a confederação vai começar a preparar atletas para os Jogos Olímpicos ou vai fazer um trabalho grande expandindo seu esporte pelo Brasil, mas isso não levará a 2016.

Mas não cabe ao COB ter um projeto olímpico para tentar ajudar os esportes que distribuem mais medalhas?
Sim. É o que estamos procurando fazer. Mas o COB não tem atletas, não forma atletas. Não somos os responsáveis pelos resultados das confederações. Eu não tenho como entrar em uma confederação e dizer o que tem que fazer. O vôlei não veio para Cingapura por uma decisão da confederação. Eu topo o seguinte desafio: acaba com as confederações e eu dirijo tudo, mas não acho justo me cobrarem por um trabalho que não é meu.

Em Cingapura, a delegação está muito mais concentrada no sul do país do que a delegação de Pequim-2008 estava. O Brasil falha em detectar talentos em outros lugares, nos quais o esporte não é tão desenvolvido?
Isso não é nossa responsabilidade. Nós trabalhamos no alto rendimento. O trabalho de detecção tem que ser desenvolvido por secretarias estaduais e clubes. Se queremos entrar no grupo de elite do esporte mundial, precisamos de mais recursos. Aí, sim, as cobranças podem surgir. Os recursos da Lei Piva correspondem a um quarto das nossas necessidades.

Por que o contribuinte brasileiro tem que investir dinheiro público em esporte de alto rendimento?
Como contribuinte? Que dinheiro público? Não existe lei que obrigue o contribuinte a dar dinheiro ao esporte. Se ele joga na loteria, é em benefício próprio e não está contribuindo para o esporte.

Você vislumbra, em curto prazo, parar de repassar verba significativa da Lei Piva para o vôlei e distribuir para outras confederações?
Sim. Já penso sobre isso.

E o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Ary Graça, já sabe disso?
Mais ou menos. Ele ganhou um presente meu: negociará sozinho com a fornecedora de material esportivo que estampará a marca na Olimpíada. O vôlei conseguirá muito mais dinheiro com a camisa do que se eu der o dinheiro da Lei Piva para ele.


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