São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

O Brasil está no mapa

Nos últimos 30 anos, criou-se a ideia de que a única maneira de ter sucesso é jogar no exterior

NA HISTÓRIA do futebol brasileiro, existe pelo menos um caso semelhante ao de Neymar. Em 1981, Zico tinha sondagens de clubes da Itália, ao mesmo tempo em que se aproximava o final de seu contrato com o Flamengo.
Para mantê-lo, o clube estudou a criação de um "pool" de empresas para ajudar a pagar o salário. Só a Coca-Cola aceitou arcar com um terço do ordenado. O Flamengo ficou com outro terço do salário e convenceu o presidente da CBF, Giulite Coutinho, a pagar a terceira parcela. O argumento era manter Zico perto da seleção até a Copa de 82. Criatividade sempre ajuda. Conformismo atrapalha.
Nos últimos 30 anos, a sequência de transferências criou a ideia de que a única maneira de ter sucesso é jogar no exterior.
Vale atuar na Turquia com salários atrasados, como aconteceu com Felipe, do Vasco, ou ter seu passaporte apreendido no Oriente Médio, como Marcelinho Carioca.
Tanto os jogadores quanto os clubes reforçaram o complexo de vira-lata. O clube espera a hora de vender, o craque sonha com o momento de ir. Quem fica é perna de pau.
A decisão de Neymar continuar no Santos devolve a luz.
Como em qualquer outra profissão, jogador de futebol tem o direito de analisar as propostas que lhe são feitas, pesar prós e contras e decidir seu futuro.
Em 1980, Falcão quis jogar na Itália, para mostrar seu talento ao mundo. Em 1981, Zico ficou no Flamengo para estar mais perto da seleção antes da Copa de 82.
O Santos não é o único caso de resistência. O Inter, campeão da Libertadores na quarta-feira, recusou ofertas por Taison, Giuliano e D'Alessandro nos últimos dois anos. Por Taison, havia propostas do Wolfsburg, da Alemanha, do Saint-Etienne, da França, e do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. "Nossa filosofia era manter a equipe", diz o vice-presidente de futebol, Fernando Carvalho. Para recusar a proposta do Porto por Giuliano, o Inter comprou os 50% que pertenciam à Traffic por 3 milhões -a parceira queria vender.
Ninguém imagina que daqui para a frente todos os seus craques terão a mesma decisão de Neymar. Cada caso sempre merecerá uma análise particular. É possível jogar bem e ter sucesso jogando em clubes de Itália, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, Japão, Ucrânia, Qatar ou Emirados Árabes Unidos...
O que Santos e Inter mostraram nesta semana é que o mapa do futebol também pode ter o Brasil.

pvc@uol.com.br


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