São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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AUTOMOBILISMO

Categoria desembarca na China, país que flertava havia mais de dez anos e que deve ser novo mercado

F-1 esquece título e saúda "corrida do ouro"

Liu Jin/France Presse
Visitantes observam modelo de piloto em exposição em Xangai, que recebe a F-1 pela primeira vez


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

Para as montadoras, um eldorado. Para as fabricantes de cigarro, um respiro. Para Xangai, um golpe em Pequim. Para a F-1, o circuito mais moderno do mundo. Para todos, as certezas de que o GP da China era necessário e é definitivo. De que veio para ficar.
Após mais de dez anos de flerte, o país recebeu ontem os carros da categoria. Os de verdade. Porque dezenas de protótipos estão espalhados há seis meses pelas principais avenidas e shoppings de Xangai para promover a corrida.
Obra desses carros-manequins ou não, o fato é que a promoção funcionou. Também ontem, os organizadores anunciaram que todos os 150 mil ingressos foram vendidos, o que já faz do GP da China o mais bem-sucedido entre os últimos que estrearam na F-1.
É a cereja do bolo para um evento que vem sendo tratado de forma especial. Na China, é como se Michael Schumacher ainda não fosse campeão. A ponto de Norbert Haug, diretor da Mercedes-Benz, classificar a corrida como "provavelmente a mais importante da história do esporte a motor".
Haug, assim como seus colegas de Honda, BMW, Renault, Ford, Fiat e Toyota, está de olho no mercado chinês. Por Xangai, outdoors com os carros das principais equipes disputam espaço, como que em clima de eleição. E, de certa forma, é. A marca, ou a máquina, que cair no gosto do consumidor poderá pagar várias vezes os gastos com a F-1. A vitória no domingo ajudaria muito.
A economia chinesa cresce 9% ao ano desde o início do processo de abertura do país, em 1978. Em conseqüência disso, surge um forte grupo consumidor entre o 1,3 bilhão de habitantes do país: em 2002, a China superou o Japão como segundo país no ranking do consumo, só atrás dos EUA.
O setor automobilístico é um dos que experimentam o maior ritmo de expansão. As vendas de carros na China subiram 75% em 2003 e devem crescer mais 40% neste ano, segundo projeções.
"A China é a nova fronteira, é o novo Klondike", disse David Richards, chefe da BAR, parceira da Honda, referindo-se à corrida do ouro na América do Norte em fins do século 19. "Em termos de potencial de marketing, nada do que fizemos no passado pode ser comparado a isso, uma corrida de F-1 na China", completou Mario Theissen, diretor da BMW.
Nos oito primeiros meses do ano, a montadora alemã viu suas vendas no país crescerem 24%.
Para as fabricantes de cigarro, o GP chinês vem também em ótima hora. No momento em que a F-1 começa a se despedir da Europa, com a proibição total da publicidade tabagista a partir de 2006, a China abriu uma brecha na sua legislação para receber a prova.
Como se tudo isso não bastasse, a China tornou-se também atrativa do ponto de vista técnico.
A um custo de US$ 300 milhões, Xangai ergueu uma obra de arte: seu autódromo superou o da Malásia e já é considerado o mais bonito e moderno do planeta. "O traçado é incrível. Tem curvas de todos os tipos, longas retas e alguns hairpins que devem propiciar ultrapassagens", disse Kimi Raikkonen, da McLaren.
Até o início dos treinos, à 0h (de Brasília) de sexta, porém, Raikkonen e seus 19 colegas estarão com as agendas lotadas de atividades promocionais. E é só o começo dessa nova corrida do ouro.


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