São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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FUTEBOL

O Brasil, o Real e a realidade

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na semana passada, estive na Espanha e impressionou-me o prestígio do Ronaldinho Gaúcho, principalmente em Barcelona. Os espanhóis acham que ele é hoje o melhor do mundo, superior ao Ronaldo e Romário, que brilharam no Barcelona.
Em Madri, assisti, com meu filho, a uma partida do Real contra o Numancia no famoso estádio Santiago Bernabéu. Como temia não encontrar ingressos, fui na véspera ao estádio, mas só havia entradas para sócios.
Como cidadão, não deveria comprar de cambistas, mas a vontade de ver o jogo foi maior. Minutos depois, descobri que poderia adquirir os ingressos por telefone, pelo preço normal, e retirá-los no banco mais próximo.
Na Europa, como no Brasil, existem cambistas, espertalhões e também turistas distraídos. Turistas costumam perder o senso crítico, o bom senso e a lucidez.
O jogo foi ruim, com exceção dos toques belíssimos do Zidane. Os craques do Real andavam em campo, não desarmavam e só ganharam por 1 a 0 porque o Numancia seria um dos últimos se disputasse o Brasileiro. O futebol está fraco em todo o mundo.
O estádio do Real é bonito, confortável e organizado. Pegamos um metrô perto do hotel e descemos em poucos minutos na porta do campo. Por esse e muitos outros motivos, os estádios estão sempre cheios. Os preços são diferenciados, de acordo com a posição em campo, mas todos os torcedores desfrutam de direitos básicos, como banheiros limpos e cadeiras numeradas.
No Brasil, aumentaram os preços dos ingressos, sem melhorar os estádios. Querem expulsar os pobres dos campos.
Enquanto isso, o Estatuto do Desporto, que poderia representar avanços importantes, arrasta-se pela câmara e não será votado neste ano. Sumiram do projeto os artigos que limitavam em uma reeleição os mandatos dos presidentes das confederações e federações e que estabelecia responsabilidade civil para os dirigentes, como acontece em qualquer empresa. Só restarão as perfumarias. Nada de importante deve mudar.

Mudanças de conceitos
O Cruzeiro faz uma campanha mediana, mas há uma grande esperança na dupla de atacantes formada pelos jovens Jussiê e Fred. Os dois são hábeis e velozes. Fred finaliza muito bem. Porém, para minha surpresa, Fred estava na reserva do Guilherme contra o Atlético-PR. Guilherme tocou uma vez na bola e fez o gol.
A torcida foi indelicada com o técnico Marco Aurélio ao chamá-lo de burro (mesmo depois que o Guilherme fez o gol) por deixar o Fred na reserva, mas tinha razão em protestar. Apenas exagerou nas palavras. Fred entrou e fez também o seu gol. Os centroavantes artilheiros, que se movimentam bastante na frente, atuam de pivô e finalizam muito bem, como Washington, são muito importantes. Mas os técnicos, em todo o mundo, precisam se libertar dos centroavantes lentos, que não participam do jogo, não dão um passe nem driblam e só sabem empurrar a bola para as redes. Geralmente só eles fazem gols, o ataque joga mal, e o time perde.

Nem tudo está ruim
Santos e Atlético-PR podem disparar na reta final. As duas equipes estão no mesmo nível e têm ótimos jogadores do meio para frente. Outros destaques individuais são Roger e Petkovic. Roger é o principal responsável pela boa campanha do Flu. Se não fosse Petkovic, o Vasco estaria junto ou atrás do Botafogo. Como se esperava, o São Caetano já está entre os primeiros. O Palmeiras está também onde deveria, na oitava posição, e não na frente, como antes. O Goiás, dirigido pelo então "retranqueiro" Celso Roth, apostou no ataque e é o quarto. O time marca e leva muitos gols.
Ponte Preta e Juventude que estão nos sexto e sétimo lugares e possuem equipes modestas, são as surpresas.O Corinthians teve ótima reação, mas parece ter atingido o seu limite. O São Paulo, sem Luis Fabiano, Gustavo Nery e até o Fabio Simplicio, faz o que pode: corre e marca. Com Gabriel no lugar do Cicinho, fica ainda pior.

Compor o grupo
Na coluna que escrevi sobre os clichês no futebol, faltaram muitos chavões, como "o jogador chegou para compor o grupo e para somar". Quando dizem isso, no máximo é um atleta mediano que só vai jogar se não houver outro. Alguns chegam para diminuir, como Fernando Diniz, recente contratação do Cruzeiro.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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