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FUTEBOL
O Brasil, o Real e a realidade
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana passada, estive
na Espanha e impressionou-me o prestígio do Ronaldinho
Gaúcho, principalmente em Barcelona. Os espanhóis acham que
ele é hoje o melhor do mundo, superior ao Ronaldo e Romário, que
brilharam no Barcelona.
Em Madri, assisti, com meu filho, a uma partida do Real contra
o Numancia no famoso estádio
Santiago Bernabéu. Como temia
não encontrar ingressos, fui na
véspera ao estádio, mas só havia
entradas para sócios.
Como cidadão, não deveria
comprar de cambistas, mas a
vontade de ver o jogo foi maior.
Minutos depois, descobri que poderia adquirir os ingressos por telefone, pelo preço normal, e retirá-los no banco mais próximo.
Na Europa, como no Brasil,
existem cambistas, espertalhões e
também turistas distraídos. Turistas costumam perder o senso
crítico, o bom senso e a lucidez.
O jogo foi ruim, com exceção
dos toques belíssimos do Zidane.
Os craques do Real andavam em
campo, não desarmavam e só ganharam por 1 a 0 porque o Numancia seria um dos últimos se
disputasse o Brasileiro. O futebol
está fraco em todo o mundo.
O estádio do Real é bonito, confortável e organizado. Pegamos
um metrô perto do hotel e descemos em poucos minutos na porta
do campo. Por esse e muitos outros motivos, os estádios estão
sempre cheios. Os preços são diferenciados, de acordo com a posição em campo, mas todos os torcedores desfrutam de direitos básicos, como banheiros limpos e cadeiras numeradas.
No Brasil, aumentaram os preços dos ingressos, sem melhorar os
estádios. Querem expulsar os pobres dos campos.
Enquanto isso, o Estatuto do
Desporto, que poderia representar avanços importantes, arrasta-se pela câmara e não será votado
neste ano. Sumiram do projeto os
artigos que limitavam em uma
reeleição os mandatos dos presidentes das confederações e federações e que estabelecia responsabilidade civil para os dirigentes,
como acontece em qualquer empresa. Só restarão as perfumarias.
Nada de importante deve mudar.
Mudanças de conceitos
O Cruzeiro faz uma campanha
mediana, mas há uma grande esperança na dupla de atacantes
formada pelos jovens Jussiê e
Fred. Os dois são hábeis e velozes.
Fred finaliza muito bem. Porém,
para minha surpresa, Fred estava
na reserva do Guilherme contra o
Atlético-PR. Guilherme tocou
uma vez na bola e fez o gol.
A torcida foi indelicada com o
técnico Marco Aurélio ao chamá-lo de burro (mesmo depois que o
Guilherme fez o gol) por deixar o
Fred na reserva, mas tinha razão
em protestar. Apenas exagerou
nas palavras. Fred entrou e fez
também o seu gol. Os centroavantes artilheiros, que se movimentam bastante na frente, atuam de
pivô e finalizam muito bem, como Washington, são muito importantes. Mas os técnicos, em todo o mundo, precisam se libertar
dos centroavantes lentos, que não
participam do jogo, não dão um
passe nem driblam e só sabem
empurrar a bola para as redes.
Geralmente só eles fazem gols, o
ataque joga mal, e o time perde.
Nem tudo está ruim
Santos e Atlético-PR podem disparar na reta final. As duas equipes estão no mesmo nível e têm
ótimos jogadores do meio para
frente. Outros destaques individuais são Roger e Petkovic. Roger
é o principal responsável pela boa
campanha do Flu. Se não fosse
Petkovic, o Vasco estaria junto ou
atrás do Botafogo. Como se esperava, o São Caetano já está entre
os primeiros. O Palmeiras está
também onde deveria, na oitava
posição, e não na frente, como antes. O Goiás, dirigido pelo então
"retranqueiro" Celso Roth, apostou no ataque e é o quarto. O time
marca e leva muitos gols.
Ponte Preta e Juventude que estão nos sexto e sétimo lugares e
possuem equipes modestas, são as
surpresas.O Corinthians teve ótima reação, mas parece ter atingido o seu limite. O São Paulo, sem
Luis Fabiano, Gustavo Nery e até
o Fabio Simplicio, faz o que pode:
corre e marca. Com Gabriel no lugar do Cicinho, fica ainda pior.
Compor o grupo
Na coluna que escrevi sobre os
clichês no futebol, faltaram muitos chavões, como "o jogador chegou para compor o grupo e para
somar". Quando dizem isso, no
máximo é um atleta mediano que
só vai jogar se não houver outro.
Alguns chegam para diminuir,
como Fernando Diniz, recente
contratação do Cruzeiro.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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