São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Antes da queda, cartola disse que US$ 10 milhões o salvariam

DA REPORTAGEM LOCAL

Os últimos dias de Alberto Dualib na presidência do Corinthians foram de muita agonia para o cartola que comandou o clube mais popular de São Paulo por 14 anos. O dirigente agora lamenta o fato de não ter sido salvo, como achava que seria, pela parceira que tanto defendeu no clube.
Dualib acreditava que com a chegada de US$ 10 milhões manteria o acordo com a MSI e, além disso, escaparia do afastamento pelos conselheiros.
Em uma longa conversa de 25 minutos com Renato Duprat, até então seu braço direito, ocorrida em 5 de julho e interceptada pela Polícia Federal na Operação Perestroika, Dualib mostra desespero, diz estar sendo enganado e conta que a parceria lava dinheiro, o que desmente as afirmações dele de que não sabia que os recursos do negócio eram ilícitos.
"Dia 24 vai ter reunião. Antes disso vai ter dinheiro?", perguntou Dualib a Duprat. O encontro, em 24 de julho, votou o fim da parceria com a MSI.
"US$ 4 milhões agora", respondeu Duprat. "Não adianta. Tem que vir os US$ 10 milhões", suplicou o presidente. "Vamos tentar. Eu sei que vêm quatro", insistiu o intermediário do acordo, em tom calmo.
"Não estou entendendo bem o "vamos tentar!". (...) Se eles querem ter parceria, eles têm que meter a mão no bolso. Mandar dinheiro. Se não tem dinheiro não pode segurar a parceria", disse Dualib.
Em seguida, o dirigente reclamou que estava sofrendo pressão insuportável no clube. "Estou sendo linchado por estar sendo enganado."
Fazia dez dias que Dualib chegara de Londres. Foi à Europa em busca de dinheiro. Voltou de mãos vazias, enfraquecido. E sofreu derrota contundente no Conselho Deliberativo. Pela primeira vez durante seus anos no poder as contas de sua administração foram rejeitadas. "As contas não foram aprovadas por culpa deles [investidores]", concluiu.
O cartola reclamou que não podia mais enganar o "povo" e que tinha dificuldade para honrar a folha de pagamento do clube. A partir daquele momento passou a criticar o acordo que fizera, com aprovação do conselho, três anos antes.
Para amenizar a crise financeira, Duprat dizia que a parceria tinha capital de jogadores. E prometeu que o dinheiro da venda do volante Marcelo Mattos ao Panathinaikos, da Grécia, ficaria com o clube, o que, de fato, ocorreu. Mas Dualib não se dava por satisfeito.
"Dou até razão pra quem está contra. Isso [a parceria] virou um engodo. Estou sendo enganado conscientemente", falou.
E passou a criticar Kia Joorabchian, presidente da MSI, apontado na investigação da PF e do Ministério Público como "laranja" de Boris Berezovski, o verdadeiro dono da MSI.
"É o Kia quem manda e desmanda. Quando ele falou que só ia vir uns pingadinhos, parece que é isso mesmo."
Dualib criticou também Badri Patarkatsishivili, empresário que tem ligações com Berezovski e que o cartola apontou como um dos investidores.
"O Badri fala e não cumpre porra nenhuma. Ele mandou assinar aqueles 20 milhões e não cumpriu", falou o dirigente. "Eu vou ter que fazer esse discurso se eu quiser me salvar", acrescentou, para em seguida falar em lavagem.
"Você viu o Badri falando, que o meu nome, não posso falar em lavagem. Vai tomar no cu. Todo o dinheiro deles é lavado. Como tiveram essa puta fortuna toda que veio da Rússia? Caiu do céu? No Corinthians, não está dando certo porque botaram um gerente de merda [Kia] que jogou o dinheiro no lixo e agora não sabe como recuperar", disparou. "É verdade", concordou Duprat.
"Jogaram no lixo o dinheiro deles. Você está em desgraça porque ele jogou US$ 150 milhões na mão de todo mundo, gozando como se fosse um magnata. E você não consegue R$ 1. Estão te iludindo. Precisa tomar uma posição enérgica. Não temos parceria há um ano. Não estou falando isso para te agredir, mas esses filhos da puta... Passei 60 dias lá para não ter nada. Vão tomar no cu. (...) Sabia que estava me arrebentando sozinho, esperando para falar com o homem", prosseguiu Dualib em seu desabafo.
Como se sabe, os US$ 10 milhões não chegaram. A parceria foi encerrada pelo conselho, e Dualib, inclusive, votou pelo fim dela. Uma semana depois, os conselheiros o afastaram da presidência. (EAR E PGA)


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