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Antes da queda, cartola disse que US$ 10 milhões o salvariam
DA REPORTAGEM LOCAL
Os últimos dias de Alberto
Dualib na presidência do Corinthians foram de muita agonia para o cartola que comandou o clube mais popular de
São Paulo por 14 anos. O dirigente agora lamenta o fato de
não ter sido salvo, como achava
que seria, pela parceira que
tanto defendeu no clube.
Dualib acreditava que com a
chegada de US$ 10 milhões
manteria o acordo com a MSI e,
além disso, escaparia do afastamento pelos conselheiros.
Em uma longa conversa de
25 minutos com Renato Duprat, até então seu braço direito, ocorrida em 5 de julho e interceptada pela Polícia Federal
na Operação Perestroika, Dualib mostra desespero, diz estar
sendo enganado e conta que a
parceria lava dinheiro, o que
desmente as afirmações dele de
que não sabia que os recursos
do negócio eram ilícitos.
"Dia 24 vai ter reunião. Antes
disso vai ter dinheiro?", perguntou Dualib a Duprat. O encontro, em 24 de julho, votou o
fim da parceria com a MSI.
"US$ 4 milhões agora", respondeu Duprat. "Não adianta.
Tem que vir os US$ 10 milhões", suplicou o presidente.
"Vamos tentar. Eu sei que vêm
quatro", insistiu o intermediário do acordo, em tom calmo.
"Não estou entendendo bem
o "vamos tentar!". (...) Se eles
querem ter parceria, eles têm
que meter a mão no bolso.
Mandar dinheiro. Se não tem
dinheiro não pode segurar a
parceria", disse Dualib.
Em seguida, o dirigente reclamou que estava sofrendo
pressão insuportável no clube.
"Estou sendo linchado por estar sendo enganado."
Fazia dez dias que Dualib
chegara de Londres. Foi à Europa em busca de dinheiro. Voltou de mãos vazias, enfraquecido. E sofreu derrota contundente no Conselho Deliberativo. Pela primeira vez durante
seus anos no poder as contas de
sua administração foram rejeitadas. "As contas não foram
aprovadas por culpa deles [investidores]", concluiu.
O cartola reclamou que não
podia mais enganar o "povo" e
que tinha dificuldade para honrar a folha de pagamento do
clube. A partir daquele momento passou a criticar o acordo que fizera, com aprovação
do conselho, três anos antes.
Para amenizar a crise financeira, Duprat dizia que a parceria tinha capital de jogadores. E
prometeu que o dinheiro da
venda do volante Marcelo Mattos ao Panathinaikos, da Grécia, ficaria com o clube, o que,
de fato, ocorreu. Mas Dualib
não se dava por satisfeito.
"Dou até razão pra quem está
contra. Isso [a parceria] virou
um engodo. Estou sendo enganado conscientemente", falou.
E passou a criticar Kia Joorabchian, presidente da MSI,
apontado na investigação da PF
e do Ministério Público como
"laranja" de Boris Berezovski, o
verdadeiro dono da MSI.
"É o Kia quem manda e desmanda. Quando ele falou que só
ia vir uns pingadinhos, parece
que é isso mesmo."
Dualib criticou também Badri Patarkatsishivili, empresário que tem ligações com Berezovski e que o cartola apontou
como um dos investidores.
"O Badri fala e não cumpre
porra nenhuma. Ele mandou
assinar aqueles 20 milhões e
não cumpriu", falou o dirigente. "Eu vou ter que fazer esse
discurso se eu quiser me salvar", acrescentou, para em seguida falar em lavagem.
"Você viu o Badri falando,
que o meu nome, não posso falar em lavagem. Vai tomar no
cu. Todo o dinheiro deles é lavado. Como tiveram essa puta
fortuna toda que veio da Rússia? Caiu do céu? No Corinthians, não está dando certo
porque botaram um gerente de
merda [Kia] que jogou o dinheiro no lixo e agora não sabe como recuperar", disparou. "É
verdade", concordou Duprat.
"Jogaram no lixo o dinheiro
deles. Você está em desgraça
porque ele jogou US$ 150 milhões na mão de todo mundo,
gozando como se fosse um
magnata. E você não consegue
R$ 1. Estão te iludindo. Precisa
tomar uma posição enérgica.
Não temos parceria há um ano.
Não estou falando isso para te
agredir, mas esses filhos da puta... Passei 60 dias lá para não
ter nada. Vão tomar no cu. (...)
Sabia que estava me arrebentando sozinho, esperando para
falar com o homem", prosseguiu Dualib em seu desabafo.
Como se sabe, os US$ 10 milhões não chegaram. A parceria
foi encerrada pelo conselho, e
Dualib, inclusive, votou pelo
fim dela. Uma semana depois,
os conselheiros o afastaram da
presidência.
(EAR E PGA)
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