São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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RECRUTA ZERO

Piloto da Minardi infla própria carreira e reclama de abandono

Sem-ponto, Bruni quer espaço

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

Torcedores não o reconhecem, sua agenda de entrevistas e compromissos comerciais está sempre folgada, ele é motivo de piadas na própria equipe e seu nome nem sequer aparece na tábua de classificação do Mundial de pilotos. O italiano Gianmaria Bruni, 23, da Minardi, é a outra ponta do novelo dourado da F-1 puxado pelo alemão Michael Schumacher.
Trata-se do único, entre os 20 participantes do campeonato, zerado na pontuação. Das 17 corridas deste ano, só concluiu oito. Sua melhor colocação foi o 14º lugar, obtido em três GPs, Malásia, Europa e Hungria.
Tão desastrosa performance reflete no cotidiano de Bruni fora do cockpit. Em contraste com a correria do alemão heptacampeão mundial, os dias do italiano são uma calmaria.
O piloto, estreante na F-1, recebeu a Folha ontem para uma conversa no final da tarde. Foi a segunda entrevista que concedeu no dia -a outra foi para um jornal italiano especializado em automobilismo. Um ótimo número, considerando que ele costuma dar de um a quatro depoimentos à imprensa por corrida. O recorde ocorre nas provas na Itália: dez a 11 nos três dias de atividades, segundo cálculos do próprio Bruni.
"Sei que poucas pessoas sabem quem eu sou, mas não me incomodo, procuro não pensar nisso", afirmou, sobre o fato de ser quase um anônimo no circo da F-1. Até entre jornalistas que cobrem a categoria é fácil achar quem não o reconheça.
E com os italianos, fanáticos por automobilismo, a situação muda? Não, diz ele. "A Itália é diferente dos outros países. Lá todo mundo só quer saber da Ferrari. Fora isso, poucos são conhecidos. [Jarno] Trulli [Toyota] e [Giancarlo] Fisichella [Sauber] são exceções, porque estão há muitos anos na F-1."
Como bom anônimo, Bruni é também um solitário. Questionado sobre quem são seus amigos na F1, é seco: "Não tenho".
Nascido em Roma, onde vive, ouve piadinhas de colegas da Minardi sobre a origem. "É um legítimo corredor de biga romana", brincou ontem um integrante do time.

Azar
O lanterna do Mundial reconhece que correr pela Minardi, sinônimo de últimos lugares na F-1, contribuiu bastante para a pífia performance. Mas sua explicação vai além. O diabo, segundo Bruni, é o azar. "Nesse negócio você precisa ter sorte, e esse ano não foi de sorte para mim. A F-1 é como um jogo."
Ele busca amparar sua justificativa com o seu currículo no automobilismo. Como quase todo piloto, começou no kart.
Em 1998, ganhou a F-Renault italiana. No ano seguinte, a F-Renault européia -o vice foi o brasileiro Antonio Pizzonia, que pode assumir o cockpit da Williams. "Os brasileiros têm a Petrobras investindo, estão com mais oportunidades. O maior problema dos jovens talentos italianos é a falta desse apoio."
Ao discorrer sobre seu histórico, Gimmi, como é conhecido na Minardi, vitamina alguns números. Disse ter terminado em quarto a F-3 inglesa em 2000, mas o site de sua equipe informa que foi quinto. Conta que acabou em terceiro na mesma categoria em 2001, mas a Minardi divulga que ele foi quarto.
Em 2002 ficou praticamente parado, segundo ele por falta de dinheiro. Em 2003, ia bem na F-3000 (três vitórias em seis provas), quando foi chamado para ser piloto de testes do atual time.
Alheio às especulações de que a Minardi pode acabar em 2005 e às cobranças do dono da equipe, Paul Stoddart, sobre sua performance, Bruni diz que pretende continuar onde está. "Gostaria de ter mais uma temporada para mostrar meu talento."


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