São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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Análise

Campeão é estranho no ninho da F1

DA REPORTAGEM LOCAL

O Kimi Raikkonen que venceu o campeonato ontem em Interlagos é o mesmo que precisou ser acordado por um mecânico da Sauber, em Melbourne, 30 minutos antes da estréia na F-1.
Ele precisava levar o carro para o grid de largada. Mas estava dormindo profundamente, alheio ao frenesi que acontecia à sua volta. Despertado, espreguiçou-se, colocou o macacão e foi à pista. Voltou duas horas depois, com um ponto conquistado. Era apenas a 24ª corrida de carros da sua vida.
O Raikkonen que venceu ontem em Interlagos é o mesmo que, no Brasil, faltou à homenagem para Michael Schumacher. Pelé apareceu para entregar um troféu ao heptacampeão, que se aposentava, o que atraiu a atenção, claro, de todos os outros pilotos. O finlandês não foi.
E, quando questionado por Martin Brundle, hoje comentarista, do porquê da ausência, explicou que estava no banheiro.
O Raikkonen que tornou-se campeão em Interlagos não tem o sorriso fácil de Hamilton.
Não tem o sangue quente de Alonso. Não tem a empatia de Massa. Não tem sequer a fissura pelo fitness lançada por Senna, defendida por Schumacher e seguida por todos os outros, todos os outros, cordeirinhos do establishment. Não tem a preocupação doentia da F-1 com relações-públicas. Faz o que faz do jeito que quer e pronto.
Para quê tudo isso, afinal? Para quê o sorriso, o sangue quente, a empatia, o marketing?
Raikkonen, campeão, nos faz essa pergunta. E já nos responde. Não, não é preciso nada disso.
Basta ser um "racer". E Raikkonen o é. Um "racer" da estirpe de um Rindt, de um Clark. E que carrega o charme desencanado e baladeiro de um Hunt.
Ufa! A F-1, e o esporte, ainda produz gente assim.


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