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FUTEBOL
Parreira e os tempos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Chora agora, ri depois",
diz o título do novo CD
dos Racionais MC. Pensei na frase ao lembrar que Parreira foi
muito atacado pelo futebol acanhado e insosso apresentado pela
seleção nas eliminatórias da Copa-94. Depois, ganhou o título e
"tivemos de engoli-lo".
Breque. Não pensem que vou
fazer o papel do advogado do diabo, defendendo Parreira e dizendo que ele vai rir por último e melhor. Só quero matizar um pouco
as coisas para aprender com os erros (os nossos e os dele).
Não se pode comparar as seleções de 94 e de 2003 só pelo fato de
as duas terem Parreira como técnico. O elenco era outro, as circunstâncias eram outras, e o esquema do treinador era outro
(não havia, por exemplo, três jogadores de frente, como hoje).
A única coisa que permaneceu
igual foi a resistência de Parreira
às mudanças, sua tendência à
inércia. Há quem chame isso de
prudência, há quem chame de
coerência e há quem chame de
falta de ousadia. O fato é que o
treinador só muda sua escalação
em último caso, geralmente de
modo tardio e previsível.
Pois bem. Na quarta-feira, em
Curitiba, confrontaram-se, de um
lado, uma equipe de grande talento e treinador conservador e,
do outro, uma equipe de talento
limitado e treinador audacioso.
Não preciso dizer qual era qual.
Depois de um início de marcação por pressão que revelou toda
a fragilidade de nossa estabanada zaga, o Uruguai sucumbiu ao
toque de bola flagrantemente superior do time brasileiro (do
meio-campo para a frente).
No intervalo, todo mundo criticou o atrevimento do treinador
Carrasco em armar um time
ofensivo para jogar contra o Brasil. Muitos previam uma goleada.
Inclusive eu. Ainda bem que não
sou comentarista de rádio ou TV.
Ocorre que, no segundo tempo,
o Brasil voltou igual, na escalação
e na postura, contra um time que
voltou completamente diferente
em ambas. Além de reposicionar
a defesa (abandonando a suicida
marcação em linha), Carrasco
propiciou uma melhor ligação do
meio com o ataque mediante a
entrada de Recoba e Chevantón.
O resultado foi o prodígio que se
viu: a vertiginosa virada uruguaia e o sufoco brasileiro para
tentar empatar.
Culpa de Parreira? Não sei. Talvez eu tivesse feito o mesmo e sido
igualmente surpreendido. É fácil
falar depois do acontecido.
Algumas perguntas, entretanto,
se impõem. Se a idéia era manter
a posse de bola e alimentar os
contra-ataques contra um Uruguai que, previsivelmente, viria
para cima, por que não começar o
segundo tempo com Alex?
E por que, sobretudo, não escalá-lo no lugar de Zé Roberto, por
exemplo, em vez de tirar de campo Kaká, que é sempre bom para
puxar contragolpes?
A conclusão a que chego, pensando na comparação com 94, é
que Parreira é melhor para trabalhar na escassez (de talento) do
que na fartura.
O que pode ser uma péssima notícia para uma das melhores safras de nosso futebol.
Esperança e agonia
Voltando à vaca fria do Brasileirão, o torneio pode acabar neste fim de semana, em termos de
definição, ao menos virtual, do
campeão (Cruzeiro) e de um
dos dois rebaixados (Grêmio)
para a Série B em 2004. Mas tudo indica que a decisão será
adiada, prolongando um pouco a esperança de uns e a agonia
de outros.
Fenômeno, mesmo
Tudo bem: Ronaldo está gordo,
Ronaldo perdeu gols feitos. Isso
pode ser dito de inúmeros outros atacantes que atuam pelo
mundo afora. Mas quantos outros, se é que algum, seriam capazes de fazer um gol como o
primeiro que ele marcou contra o Uruguai, tirando o goleiro
da jogada com um toque de
ombro? Vá ser bom assim no
meu time.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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