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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Parreira e os tempos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Chora agora, ri depois", diz o título do novo CD dos Racionais MC. Pensei na frase ao lembrar que Parreira foi muito atacado pelo futebol acanhado e insosso apresentado pela seleção nas eliminatórias da Copa-94. Depois, ganhou o título e "tivemos de engoli-lo".
Breque. Não pensem que vou fazer o papel do advogado do diabo, defendendo Parreira e dizendo que ele vai rir por último e melhor. Só quero matizar um pouco as coisas para aprender com os erros (os nossos e os dele).
Não se pode comparar as seleções de 94 e de 2003 só pelo fato de as duas terem Parreira como técnico. O elenco era outro, as circunstâncias eram outras, e o esquema do treinador era outro (não havia, por exemplo, três jogadores de frente, como hoje).
A única coisa que permaneceu igual foi a resistência de Parreira às mudanças, sua tendência à inércia. Há quem chame isso de prudência, há quem chame de coerência e há quem chame de falta de ousadia. O fato é que o treinador só muda sua escalação em último caso, geralmente de modo tardio e previsível.
Pois bem. Na quarta-feira, em Curitiba, confrontaram-se, de um lado, uma equipe de grande talento e treinador conservador e, do outro, uma equipe de talento limitado e treinador audacioso. Não preciso dizer qual era qual.
Depois de um início de marcação por pressão que revelou toda a fragilidade de nossa estabanada zaga, o Uruguai sucumbiu ao toque de bola flagrantemente superior do time brasileiro (do meio-campo para a frente).
No intervalo, todo mundo criticou o atrevimento do treinador Carrasco em armar um time ofensivo para jogar contra o Brasil. Muitos previam uma goleada. Inclusive eu. Ainda bem que não sou comentarista de rádio ou TV.
Ocorre que, no segundo tempo, o Brasil voltou igual, na escalação e na postura, contra um time que voltou completamente diferente em ambas. Além de reposicionar a defesa (abandonando a suicida marcação em linha), Carrasco propiciou uma melhor ligação do meio com o ataque mediante a entrada de Recoba e Chevantón.
O resultado foi o prodígio que se viu: a vertiginosa virada uruguaia e o sufoco brasileiro para tentar empatar.
Culpa de Parreira? Não sei. Talvez eu tivesse feito o mesmo e sido igualmente surpreendido. É fácil falar depois do acontecido.
Algumas perguntas, entretanto, se impõem. Se a idéia era manter a posse de bola e alimentar os contra-ataques contra um Uruguai que, previsivelmente, viria para cima, por que não começar o segundo tempo com Alex?
E por que, sobretudo, não escalá-lo no lugar de Zé Roberto, por exemplo, em vez de tirar de campo Kaká, que é sempre bom para puxar contragolpes?
A conclusão a que chego, pensando na comparação com 94, é que Parreira é melhor para trabalhar na escassez (de talento) do que na fartura.
O que pode ser uma péssima notícia para uma das melhores safras de nosso futebol.

Esperança e agonia
Voltando à vaca fria do Brasileirão, o torneio pode acabar neste fim de semana, em termos de definição, ao menos virtual, do campeão (Cruzeiro) e de um dos dois rebaixados (Grêmio) para a Série B em 2004. Mas tudo indica que a decisão será adiada, prolongando um pouco a esperança de uns e a agonia de outros.

Fenômeno, mesmo
Tudo bem: Ronaldo está gordo, Ronaldo perdeu gols feitos. Isso pode ser dito de inúmeros outros atacantes que atuam pelo mundo afora. Mas quantos outros, se é que algum, seriam capazes de fazer um gol como o primeiro que ele marcou contra o Uruguai, tirando o goleiro da jogada com um toque de ombro? Vá ser bom assim no meu time.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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