São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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"Gringa" alavanca o golfe nacional

Angela Park deixou o Brasil aos 8 anos, brilha nos EUA e incrementa o esporte

Atleta acaba de ser eleita a novata do ano na liga profissional americana e é a estrela, a partir de hoje, de competição em São Paulo

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Angela Park dá tacada ontem no Clube de Campo São Paulo


FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Angela Park, 20, mal fala português. Aos oito anos, saiu do Paraná para morar nos EUA. Em casa, comunica-se em coreano com os pais, que nasceram na Coréia do Sul e imigraram para o Brasil nos anos 80.
Mas ela fez questão de manter a cidadania brasileira e chegou a feitos históricos no golfe para o país, com pouca tradição internacional na modalidade.
Ela acabou de ser escolhida a novata do ano pela LPGA, a liga profissional feminina dos EUA. Na primeira temporada, foi vice-campeã do US Open, um dos torneios mais importantes do esporte. Até a eleição de melhor estreante, acumulava seis resultados entre os dez primeiros lugares em 23 competições.
A golfista diz estar ciente da mudança. "Passei a ter mais responsabilidade, mais pressão. É um país todo atrás de mim. Vejo que tenho a capacidade de deixar as pessoas mais felizes", afirma Angela, que está na capital paulista como a estrela de um torneio no Clube de Campo São Paulo.
Nos EUA, para onde seguiu com o pai, empresário em busca de novos negócios, e três irmãos mais velhos, Angela teve o primeiro contato com o golfe.
Hoje, acorda, no máximo, às 9h e dá de 200 a 300 tacadas por dia. Cuida da parte física com um preparador quatro vezes por semana, em sessões de uma hora de duração cada uma.
"Sei que estou jogando bem, e isso representa muito, chama a atenção para o golfe brasileiro", afirma ela, que não vinha ao país havia um ano.
Angela mantém a ligação com o Brasil apesar de pouco falar português. "Posso responder em inglês?", pediu ela, logo depois da terceira pergunta.
Ela só compete com um par de sapatos com a bandeira brasileira no calcanhar. "Sei que as pessoas no Paraná têm orgulho de mim, do que eu venho conquistando. Faço questão de dizer que nasci lá."
Pouco acostumada ao país, ela conta ter vontade de conhecer Foz do Iguaçu. "Saí muito nova", fala a novata. Ela diz que pretende comprar livros para aprender mais português.
A atleta foi a atração do clube ontem. Posou para fotos com fãs golfistas. A cada momento era parada para dar autógrafos, assinados com canetas coloridas que ela levou.
Profissional desde abril de 2006, Angela Park disputa a primeira temporada na LPGA. Já acumulou premiação de US$ 983.922 (R$ 1,75 milhão).
Como amadora, venceu cinco vezes na AJGA, a associação júnior de golfe dos EUA.
No site da liga profissional norte-americana, Angela é descrita como o prodígio brasileiro. No ranking desta semana, ela aparece na 29ª posição.
Seu 1,65 m de altura faz com que o taco desenhe um círculo curto no ar, tirando velocidade da bola. Se sua deficiência é nas tacadas longas, ela compensa com a precisão nos tiros curtos, seu principal ponto forte.
"No US Open, não fiquei nervosa. Pensei que, se tivesse de ganhar, venceria. Mas sabia que era difícil para uma novata ganhar. Quando liderei, procurei orar e não ver quem estava em segundo ou terceiro lugares", fala ela, que usa bichos de pelúcia para proteger seus tacos na bolsa de competição.
Mantendo-se como atleta brasileira, Angela consegue sobressair. Se optasse pela cidadania dos pais, seria apenas a nona da Coréia do Sul. Se virasse norte-americana, apareceria como a décima do país. No Brasil, ela é a número um.


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