São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998

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O momento do Cruzeiro é nebuloso

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Visto assim, em cima dos resultados mais recentes, o Cruzeiro é o favorito hoje, mesmo jogando na casa do Palmeiras. Ganhou, com todos os méritos, lá em Belo Horizonte, joga um futebol mais vistoso e insinuante, tem uns quatro ou cinco jogadores de alta classe, como Dida, Djair, Muller, Fábio Júnior e Valdo, e, se vencer hoje, nem que seja pelo escasso 1 a 0, já está nas semifinais.
Mas, futebol é momento, já dizia Rubens Minelli antes da Revolução Francesa.
E o momento do Cruzeiro, pra mim, ficou nebuloso, a partir da vitória de 1 a 0 sobre o San Lorenzo, pela Mercosul, na quinta à noite, no Mineirão. Nem tanto pelo placar apertado, que foi injusto, pois os mineiros mereciam muito mais, mas, sobretudo, pelo ar vesgo que pairou no estádio após a substituição de Muller e Fábio Júnior naquela partida.
Restou-me a sensação de que o relacionamento entre o treinador e suas duas mais cintilantes estrelas sofre perigosas interferências.
Ora, num instante decisivo como o de hoje, mais do que a qualidade técnica dos jogadores ou a justeza do esquema tático, prevalece aquele traço de união entre todos -elenco e comissão técnica.
É o que mantém acesa a tocha do vencedor.
Já o Palmeiras é puro fogo. Jogadores e técnico estão ali, ó, um só, em busca do único resultado que lhes interessa -a vitória.
Isso, para um time que faz do empenho e da disciplina seus maiores atributos, muito além da técnica, é fundamental.
Em todo caso, o jogo é jogado.

Uma coisa é certa: a Lusa vai ter de se desdobrar lá no Couto Pereira para eliminar de vez o Coxa.
Time por time, ambos se equivalem. Portanto, mais do que nunca haverá de pesar o tal do fator campo.
O diabo pra Lusa é o canto de sereia que parte do vizinho Parque São Jorge e ecoa nos ouvidos do técnico Candinho. Mais do que aliciamento, isso é proposta de adultério.

Uma declaração de Luxemburgo, bem no auge das ações da dupla Amoroso-Élber, contra a Rússia, no meio da semana, vale certas reflexões.
Disse o técnico da seleção brasileira ao repórter da "Globo" (seria o Tino Marcos?), ao responder sobre onde entraria Ronaldinho nesse ataque, qualquer coisa do gênero de que já tinha a solução na cabeça.
Como, antes da partida, Luxemburgo cogitara aproveitar Amoroso na meia-direita, ficou-me a sensação de que ele está engendrando a hipótese de contar com os três: Amoroso, Élber e Ronaldinho.
Nesse caso, vai sobrar ou para Denílson ou para Rivaldo.
Como Denílson está em fase de adaptação no futebol espanhol, ainda por cima jogando num time pequeno, sem conjunto nem projeção, e Rivaldo teve no Palmeiras de Luxemburgo seu melhor momento, quem deve dançar de imediato é o ex- tricolor.
De um lado, resolveria o problema causado pela presença de dois meias canhotos; por outro, nos roubaria a alegria de ver Denílson encapetando pela esquerda, na mais justa expressão do verdadeiro futebol brasileiro.
Mas, que fazer?


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, às segundas e quartas-feiras



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