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FUTEBOL
Gênese e metamorfose
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Neste ano de 2003, talvez pela profusão de novos talentos, talvez pela saudável provocação lançada por Armando Nogueira, debateu-se muito, na imprensa e nas mesas de bar, o tema
do craque. Quem é craque? O que
é preciso para ser craque? Qual é a
diferença entre o craque e o jogador excelente?
Cada uma dessas perguntas
basta para motivar uma discussão interminável.
Mas a questão que mais me intriga é como surge um craque.
Aliás, para não desviar o foco,
deixemos de lado a palavra craque. Como desponta, como se forma, como floresce um grande jogador?
Claro que não há uma resposta
única. Existem aqueles que, logo
nos primeiros chutes, já mostram
que serão grandes, desde que não
ocorram acidentes de percurso.
Alguém que tenha visto as imagens do pequeno Maradona fazendo embaixadas, ou do pirralho Ronaldinho Gaúcho jogando
futsal, sabe muito bem do que estou falando.
Mas existem também os jogadores que demoram para engrenar, para se entender com a bola,
para encontrar o lugar no campo.
Às vezes é muito fina a linha
que separa o destino de um artilheiro do de um empacotador de
mercado (penso em Liedson) ou
de um assaltante (penso em Dadá
Maravilha).
Conheci de perto exemplos das
duas trajetórias: a do craque que
"nasce pronto" e a do jogador que
se aprimora por força de muito
empenho. Tive a sorte de jogar
bola com dois garotos da minha
geração que depois se tornariam
profissionais destacados: Muricy
Ramalho e Zé Sérgio.
Conheci o primeiro aos 11 ou 12
anos, jogando no campeonato interno do São Paulo, onde éramos
sócios. Muricy já era famoso no
clube, com o apelido de Mojica.
Na primeira vez que o vi atuar,
ele deu bicicleta, fez gol de cabeça
e por cobertura. Tudo isso sem nenhuma máscara. Concentrava as
energias em jogar bem e vencer.
Pensei: nunca vou jogar como esse cara.
Com Zé Sérgio ocorreu quase o
contrário. Jogávamos na seleção
do colégio público onde estudávamos, mas ele não era nem de longe o craque do time. Havia três ou
quatro mais valorizados que ele.
Franzino, Zé Sérgio parecia-nos
firuleiro e pouco produtivo. Nós o
olhávamos de cima. Sua fama vinha mais do fato de ser, segundo
se dizia, "primo do Rivellino".
Tudo mudou quando ele tinha
uns 16 anos e foi treinar no São
Paulo. Em poucos meses, ganhou
massa muscular, velocidade, técnica e personalidade. Parecia outra pessoa. Destro, foi jogar na esquerda e acabou se tornando um
dos pontas mais endiabrados do
futebol brasileiro.
Ambos se encontraram no São
Paulo em meados dos anos 70.
Castigado por contusões, o craque
anunciado Muricy acabou não
rendendo todo o seu potencial.
O "primo do Rivellino" teve
mais sorte: chegou à seleção e foi
considerado um dos melhores jogadores do país.
Este mundo é mesmo uma caixinha de surpresas.
Caros amigos
Antes que eu me esqueça, quero desejar Feliz Natal a todos os
leitores que me aturaram ao
longo de mais um ano, sobretudo àqueles que contribuíram
para esta coluna com críticas,
informações, sugestões... e carinho também, é claro, pois já
disse o poeta que "sem um carinho, ninguém segura esse rojão".
Para ler nas férias
E por falar em Natal, um presente indicado para dar a qualquer amigo -secreto ou conhecido, oculto ou manifesto,
invisível ou visível- é "Meninos, Eu Vi" (DBA/Lance), de
Juca Kfouri. Ninguém deixará
de se deliciar com as histórias
rememoradas nesse pequeno
grande livro com humor, paixão e elegância por um craque
do jornalismo.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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