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FUTEBOL
Andando nas nuvens
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Ontem, andando pela
Paulista, vi alguns sujeitos
flutuando. Estavam a mais ou
menos um metro do chão e olhavam para cima e para baixo sem
saber direito o que estava acontecendo. Porém, não pareciam ter
medo. Pelo contrário. Estavam
gostando daquela sensação.
Para atravessar a rua, eles nem
esperavam o sinal fechar. Batiam
os braços e voavam por cima dos
automóveis que circulavam.
Curiosamente, eles se cumprimentavam entre si. E tinham um
sinal em comum: juntavam o
mindinho com o polegar e mostravam os outros três dedos, perfeitamente esticados. Só aí é que
entendi. Eram são-paulinos.
Pois é, eles estão assim. Os tricolores andam tão convencidos, que
caminham a um metro do chão. E
têm razão para isso. Afinal, são
tricampeões do mundo.
Agora, quando eles cruzarem
com um santista, dirão: "Tadinhos, são apenas bicampeões
mundiais". Quando passarem
por um corintiano vão falar:
"Campeão brasileiro? Ah, os títulos nacionais... Teve uma época
em que eu dava importância para
isso". E, quando encontrarem
com palmeirenses, não dirão nada. Apenas colocarão a mão em
seu ombro como quem dá força a
um amigo em dificuldade.
Sim, eles estão insuportáveis.
Mas com razão. Afinal de contas,
são tricampeões do mundo.
Os são-paulinos, agora, só aceitam conversar com seus iguais, os
torcedores de Peñarol, Nacional
do Uruguai, Boca Juniors, Milan
e Real Madrid. Logo, logo, as seis
torcidas vão fazer um grupo no
Orkut chamado "Só entra tricampeão" ou "Tribo dos Tri".
Ah, sim, e há os trocadilhos, como Moruntri, porque agora eles
falam tudo com tri.
"Aceita uma trixícara de trichá,
caro tricolega?"
"Não, triamigo. Vou querer
apenas um tricafé com trileite."
Aliás, eles nem chamam mais
trocadilho de trocadilho. Sim, isso
mesmo que você pensou: tricadilho! Triste, triste...
Os são-paulinos agora andam
fumando cigarros de palha como
se fossem piteiras francesas, fazem sinais para os ônibus como se
chamassem sua limusine e comem um reles ovo frito como se
fosse uma iguaria internacional.
Os tricolores agora andam de
queixo empinado, olhando todos
por cima. Eles não terão mais escolioses, dores na coluna ou bicos
de papagaio. Doravante, andarão como lordes em meio a plebeus, como milionários em meio
a pobretões, como gigantes em
meio a anões. E eles podem, porque são tricampeões do mundo.
Mas, para consolo dos não-tricolores, nada na vida dura para
sempre (nem a vida, diga-se de
passagem). Chegará o dia em que
o São Paulo será derrotado por
um time do interior, o dia em que
perderá um clássico para um rival, o dia em que não vencerá um
campeonato. E assim, aos poucos,
seus torcedores voltarão ao chão.
Essa é a graça do futebol. E, talvez, da vida. Nenhuma vitória é
eterna, da mesma forma que nenhuma derrota é para sempre.
Mas, enquanto esse dia não chega, tricolores, andem nas nuvens.
O mais querido
Fiz uma pesquisa no meu blog
para saber quem era o personagem mais importante da história do São Paulo. Pensei que
Rogério Ceni seria votado maciçamente após o jogo de domingo e venceria com folga.
Mas me enganei. A memória do
torcedor são-paulino é melhor
do que eu esperava, e o goleiro-artilheiro ficou apenas em segundo lugar. Sim, há um ídolo
maior que ele no Morumbi. E o
sujeito nunca fez um gol sequer
pelo São Paulo. Quem é ele? Telê Santana, é claro, que, para
muitos -e me incluo nessa-,
é o melhor técnico do Brasil em
todos os tempos. Ele teve mais
do que o dobro dos votos de
Rogério e quatro vezes mais
que Raí. Informações, números
e comentários em http://blogdotorero.blog.uol.com.br.
E-mail - blogdotorero@uol.com.br
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