São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Andando nas nuvens

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Ontem, andando pela Paulista, vi alguns sujeitos flutuando. Estavam a mais ou menos um metro do chão e olhavam para cima e para baixo sem saber direito o que estava acontecendo. Porém, não pareciam ter medo. Pelo contrário. Estavam gostando daquela sensação.
Para atravessar a rua, eles nem esperavam o sinal fechar. Batiam os braços e voavam por cima dos automóveis que circulavam.
Curiosamente, eles se cumprimentavam entre si. E tinham um sinal em comum: juntavam o mindinho com o polegar e mostravam os outros três dedos, perfeitamente esticados. Só aí é que entendi. Eram são-paulinos.
Pois é, eles estão assim. Os tricolores andam tão convencidos, que caminham a um metro do chão. E têm razão para isso. Afinal, são tricampeões do mundo.
Agora, quando eles cruzarem com um santista, dirão: "Tadinhos, são apenas bicampeões mundiais". Quando passarem por um corintiano vão falar: "Campeão brasileiro? Ah, os títulos nacionais... Teve uma época em que eu dava importância para isso". E, quando encontrarem com palmeirenses, não dirão nada. Apenas colocarão a mão em seu ombro como quem dá força a um amigo em dificuldade.
Sim, eles estão insuportáveis. Mas com razão. Afinal de contas, são tricampeões do mundo.
Os são-paulinos, agora, só aceitam conversar com seus iguais, os torcedores de Peñarol, Nacional do Uruguai, Boca Juniors, Milan e Real Madrid. Logo, logo, as seis torcidas vão fazer um grupo no Orkut chamado "Só entra tricampeão" ou "Tribo dos Tri".
Ah, sim, e há os trocadilhos, como Moruntri, porque agora eles falam tudo com tri.
"Aceita uma trixícara de trichá, caro tricolega?"
"Não, triamigo. Vou querer apenas um tricafé com trileite."
Aliás, eles nem chamam mais trocadilho de trocadilho. Sim, isso mesmo que você pensou: tricadilho! Triste, triste...
Os são-paulinos agora andam fumando cigarros de palha como se fossem piteiras francesas, fazem sinais para os ônibus como se chamassem sua limusine e comem um reles ovo frito como se fosse uma iguaria internacional.
Os tricolores agora andam de queixo empinado, olhando todos por cima. Eles não terão mais escolioses, dores na coluna ou bicos de papagaio. Doravante, andarão como lordes em meio a plebeus, como milionários em meio a pobretões, como gigantes em meio a anões. E eles podem, porque são tricampeões do mundo.
Mas, para consolo dos não-tricolores, nada na vida dura para sempre (nem a vida, diga-se de passagem). Chegará o dia em que o São Paulo será derrotado por um time do interior, o dia em que perderá um clássico para um rival, o dia em que não vencerá um campeonato. E assim, aos poucos, seus torcedores voltarão ao chão.
Essa é a graça do futebol. E, talvez, da vida. Nenhuma vitória é eterna, da mesma forma que nenhuma derrota é para sempre. Mas, enquanto esse dia não chega, tricolores, andem nas nuvens.

O mais querido
Fiz uma pesquisa no meu blog para saber quem era o personagem mais importante da história do São Paulo. Pensei que Rogério Ceni seria votado maciçamente após o jogo de domingo e venceria com folga. Mas me enganei. A memória do torcedor são-paulino é melhor do que eu esperava, e o goleiro-artilheiro ficou apenas em segundo lugar. Sim, há um ídolo maior que ele no Morumbi. E o sujeito nunca fez um gol sequer pelo São Paulo. Quem é ele? Telê Santana, é claro, que, para muitos -e me incluo nessa-, é o melhor técnico do Brasil em todos os tempos. Ele teve mais do que o dobro dos votos de Rogério e quatro vezes mais que Raí. Informações, números e comentários em http://blogdotorero.blog.uol.com.br.


E-mail - blogdotorero@uol.com.br

Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Honolua e Pipeline
Próximo Texto: Futebol: Exame livra Rogério de cirurgia no joelho
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.