São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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SONINHA

Alguém perdeu o sono?


Se não estamos torcendo ou secando um rival, ligamos tanto para o Mundial da Fifa quanto os "europeus"

QUANDO ALGO não nos diz respeito diretamente, parece não ter importância nenhuma, seja a novela "das oito", o show da Madonna, uma competição esportiva. Se um acontecimento não nos interessa, ficamos atônitos com o envolvimento dos outros: "Como podem se abalar tanto por causa disso?". (Como se nunca nos descabelássemos por algo fundamental para nós e insignificante para o resto da humanidade.)
Ontem foi encerrado mais um Mundial interclubes -o "verdadeiro", oficial. Quantos no Brasil terão perdido o sono por causa dele? Procurado notícias na internet, combinado ver os jogos com os amigos? Durante muito tempo eu repeti, com a maior convicção, que a versão anterior do torneio não era Mundial coisíssima nenhuma.
"Desde quando o mundo é só América do Sul e Europa?" Desde que o samba é samba... Ou melhor, desde que o futebol se consolidou nesses dois continentes muito mais do que em qualquer outro. Tirando a edição de 2000 com seu formato esdrúxulo (dois times do país-sede, sendo um o penúltimo campeão continental e o outro nem isso), o Mundial de Clubes da Fifa sempre termina com o confronto entre o campeão da Libertadores e o da Champions League.
"E os europeus dão ao Mundial [na versão atual ou na anterior] a mesma importância que nós?" Pergunta típica de quem estava fora da disputa... "E daí que Flamengo, Grêmio e São Paulo venceram? Os adversários não estavam nem aí." Baseada em imagens de jogadores "europeus" arrasados depois de uma derrota, eu concluía: "Claro que eles jogam para valer! Ninguém quer perder um título, mesmo que seja um Mundial meio "mandrake'".
De uns anos para cá, mudei duplamente de idéia. 1) Aquele interclubes equivalia, sim, a um confronto entre os melhores do mundo. 2) Os clubes da Europa não querem mesmo perder nenhuma competição da qual participem, mas nunca verão no Japão o Olimpo que nós vemos. Não tem como. A Copa dos Campeões da Europa é o torneio de clubes de maior prestígio no planeta. Sua conquista é um ponto final glorioso em si -não porque classifica para outro torneio...
O título da Libertadores também é uma glória, especialmente por permitir medir forças com um clube europeu todo-poderoso, recheado dos jogadores mais caros e famosos do mundo. Eles têm o cinturão; nós os desafiamos.
Eles precisam vencer porque seria humilhante a derrota para alguém "inferior". A vitória, assim, é dever cumprido, confirmação da superioridade. Para nosotros, ela é um sonho, a jóia da coroa, motivo de inveja para todos os clubes rivais. O Manchester saiu de campo orgulhoso, aliviado e feliz, mas não em êxtase. Já a LDU perdeu a chance de comemorar o Natal mais feliz de sua história... Alguns ficaram muito tristes com o resultado, mas no fundo ficarão satisfeitos: "Perdemos por um gol e ainda demos trabalho a eles".
No fim podemos concluir, com honestidade, que não são só os europeus que não dão muita bola para o Mundial da Fifa. Se um time brasileiro (ou rival argentino) não estiver no páreo, nós não estamos nem aí. Que venha a Libertadores-2009.

soninha.folha@uol.com.br


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