DO ENVIADO A JUNDIAÍ E ITU

O campeonato começa com uma oração. Em pé no corredor central do ônibus, os jogadores formam um grande círculo, entoam um pai-nosso, uma ave-maria e pedem boa ventura para a viagem que vai começar.
Foi assim que o elenco do Paulista se despediu de Jundiaí e rumou para Santo André na última terça, um dia antes da estréia no Estadual.
Assim que o motorista ligou o motor, veio à tona o primeiro grito de alívio.
"Agora vai! Não agüento mais treinar. Finalmente vamos jogar!", diz um atleta.
Mas o futebol logo some do repertório das conversas. Como o ônibus inicia o trajeto em perímetro urbano, o que se vê pelas janelas vira o assunto do momento.
O primeiro alvo é uma morena com vestido verde decotado nas costas, que caminha na calçada enquanto o veículo aguarda no farol vermelho. Fuzuê entre os jogadores. Depois de rápida discussão, disparam notas de 0 a 10 para a mulher. Os que cantam avaliações ruins ganham vaias.
Ainda há tempo, antes de entrar na rodovia dos Bandeirantes, para namorar os carros nas vitrines das concessionárias. A discussão acalorada sobre preços e modelos mostra que se trata de uma paixão comum.
Nos primeiros quilômetros da estrada surge uma má notícia. O tráfego está intenso nas cercanias de São Paulo. É preciso alterar a rota para evitar o trânsito.
"Esse caminho é mais longo, não é? Pô, então não vai dar tempo de acompanhar o Big Brother", reclama um dos membros do elenco.
Um som ruidoso, abafado e com muitos grunhidos surpreende ao irromper das caixas de som. Trata-se de um CD que alguém resolveu compartilhar com o grupo.
Críticas surgem de todos os lados. "Isso aí tá estragado?", pergunta o técnico, Vágner Mancini. Em tom de brincadeira, a discussão segue até que o motorista acende as luzes, denunciando o fim da viagem. (GR)


Texto Anterior: Futebol: Ônibus expõe manias e vícios dos boleiros
Próximo Texto: A viagem de volta: Celular e cãibra partem silêncio na rota para Itu
Índice