São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

Volta, Robinho


Infeliz em Manchester, o craque poderia se mirar no exemplo de Adriano e vir em busca da alegria perdida


QUEM GOSTA de futebol, seja ou não santista, torce para que o Santos consiga fazer o malabarismo financeiro e de marketing que traga Robinho de volta à Vila Belmiro, ainda que por empréstimo. Não cabe aqui discutir se o jogador fez besteira ao se transferir do Real Madrid para o Manchester City, mas é um crime contra a alegria do povo um atleta com tamanho talento e carisma ficar encostado, como tem acontecido.
Seu eventual retorno teria o efeito suplementar de reunir no time atual do Santos craques de três gerações do clube: Giovanni, Robinho e os jovens Paulo Henrique Ganso e Neymar. Uma experiência que valeria a pena acompanhar de perto. Uma repatriação desse tipo já não parece tão utópica, depois dos casos bem-sucedidos de Ronaldo, no Corinthians, Adriano, no Flamengo, e Fred, no Fluminense.
Vários fatores parecem se combinar para tornar viável, hoje, o retorno temporário ou definitivo ao país de futebolistas de primeira linha: a incerteza financeira internacional, as estratégias ousadas de marketing experimentadas pelos clubes brasileiros, o interesse de investidores e da mídia etc. Mas o vetor principal desse movimento, a meu ver, é o cambiante desejo do próprio atleta, um magma complexo em que se misturam em doses variadas o gosto pelo dinheiro, a vaidade de estar em evidência, o banzo da pátria, entendida esta última como o lugar onde a gente se sente em casa.
Em certos casos, como o de Adriano, esse banzo pode ser o elemento decisivo. Embora ninguém dispense os grandes contratos e salários, em alguns momentos o interesse financeiro pode ficar em segundo plano. "Dinheiro, pra que dinheiro/ se ela não me dá bola?/ Em casa de batuqueiro/ quem fala alto é viola", cantava Martinho da Vila. E Adriano certamente faria coro com ele. Robinho, como já notou Sócrates no "Cartão Verde", da TV Cultura, está triste na cinzenta Manchester. Talvez esteja sentindo falta da praia, do pagode, da alegria cotidiana que é a seiva do seu futebol. Deve estar sentindo, principalmente, falta de jogar bola.
Ninguém rasga dinheiro, repito. Mas isso deve ser relativizado. Os jogadores, quando mudam de clube e de país, geralmente se justificam dizendo: "Tenho que pensar no futuro da minha família". Ora, Robinho ganha no Manchester City um salário mensal de 450 mil (cerca de R$ 1,1 milhão). Só em 16 meses no clube, ganhou, portanto, o equivalente a R$ 18 milhões. É um pé-de-meia razoável, não? Já daria para passar, digamos, um ano no Santos, jogando e se divertindo, sem prejuízo para o "futuro da família".
Claro que um raciocínio desse tipo nem passa pela cabeça de agentes e empresários, que têm cifrões no lugar das íris, como personagens de desenho animado. Para eles o atleta é uma máquina de fazer dinheiro que tem de estar o tempo todo operando em capacidade plena -mesmo que isso signifique, paradoxalmente, ficar parado, no banco.
Posso ser tolo, mas tenho esperança de que os jogadores, ou pelo menos alguns, escapem dessa armadilha e percebam que, às vezes, mais importante do que acumular riquezas é simplesmente viver.

jgcouto@uol.com.br


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