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MOTOR
A vitória de um perdedor
História de Tommy Byrne, rival de Senna no início dos 80, mostra a importância da imagem no esporte a motor
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FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A MELHOR leitura das férias foi
"O Melhor Piloto que Você
Nunca Viu". É a biografia de
Tommy Byrne, escrita em conjunto
com o jornalista Mark Hughes. Foi
publicada há dois anos, no Reino
Unido, pela Icon Books. É fácil de
encontrar, o Google existe pra isso.
"Tommy Byrne? Quem é o cara?"
Pois é, não vi. Ou não lembro. Você, muito provavelmente, está na
mesma. Ainda bem -também por
isso- que existem os livros. Byrne,
ao contrário de pilotos que lançam
biografias a rodo, tem o que contar.
Irlandês, criado numa família católica, endividada e desequilibrada
na zona rural de Dundalk, começou
a trabalhar aos 10, operando tratores. Ali, pegou gosto pelo volante e
talvez ficasse nisso não tivesse sido
demitido ao ser flagrado pelo patrão
tirando um racha num lamaçal.
Aos 17, era um ladrãozinho. A especialidade, depenar carros. Chegou
a ser preso ao tentar algo maior, um
depósito de pneus de caminhão. Foi
nessa época, sem experiência com
karts ou coisa parecida, que resolveu
se aventurar na velocidade. Foi a
Mondello e pagou 25 libras irlandesas para dar 25 voltas num F-Ford.
O ano era 1976, e sua vida mudou.
Byrne tinha um talento nato. Fez
voltas rápidas, chamou a atenção do
dono da escola, foi incentivado a
continuar. Comprou um chassi antigo, começou a correr campeonatos
locais. Mostrou ser um fenômeno.
Daí pra frente, apesar de muitos
tombos pelo caminho, deslanchou.
Um ano mais velho do que Senna,
disputava com ele o status de jovem
sensação das pistas inglesas no início dos 80. Duelo feroz: era Byrne levar um título batendo todos os recordes para Senna superá-lo na
temporada seguinte. Rixa que quase
virou pancadaria quando o irlandês
decidiu roubar as rodas da Alfa do rival, parada diante da Van Diemen.
Fora das pistas, porém, a vantagem era toda do brasileiro: um rapaz
educado, bem comportado, com dinheiro. Byrne bebia, fumava, cheirava, não tinha onde morar. Sua imagem era tão ruim que, em 1982, ao
ganhar um teste com a McLaren pelo título da F-Ford 2000, foi boicotado. Os mecânicos deixaram o pedal
do acelerador mais alto para não haver o risco de ele ser mais rápido que
Boutsen, outro bom moço.
Chegou à F-1, era inevitável. Mas
pela Theodore, equipe aventureira.
Tentou se classificar para cinco GPs
em 82, largou em dois. Desceu ao inferno, correu nos EUA, no México,
traficou cocaína em tacos de golfe,
levou um tiro. Hoje, reabilitado, é
instrutor de pilotagem em Mid-
-Ohio, tem uma bela família, é feliz.
Um relato cru, sobre erros, acertos, vitórias, derrotas. Que escancara a importância da imagem no esporte, que a recuperação é possível e
que ganhar fortunas pode não ser
tudo. Que mostra que a felicidade é
possível, mesmo que demore para
acontecer. Sempre. Feliz 2010.
fabioseixas.folha@uol.com.br
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