São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL
CPI da Câmara já se articula para tentar derrubar acordo que aproximou o ex-jogador do presidente da CBF Aval da Fifa sela união entre Pelé e Ricardo Teixeira

DO PAINEL FC

E DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, apoiou a reaproximação do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, com o ex-jogador e ex-ministro Pelé.
No dia 14 de fevereiro, o dirigente da entidade máxima do futebol enviou uma carta a Teixeira ""para expressar a alegria ao ser informado de que você e outro eminente brasileiro, Pelé, finalmente se reconciliaram após anos de posições contrárias".
A carta foi divulgada ontem pela CBF. No início do ano, Teixeira, que está sendo investigado pelas CPIs do Congresso, iniciou um processo de reaproximação com Pelé. O dirigente disse que um dos seus maiores erros foi ter se distanciado do ex-jogador.
As duas partes do acordo afirmam que estão se unindo para tirar o futebol brasileiro da crise.
Desde o início dos anos 90, o presidente da CBF e Pelé, que havia apoiado sua eleição para presidente da entidade, eram desafetos. Teixeira foi um dos articuladores do lobby do futebol contra a aprovação da Lei Pelé, projeto elaborado pelo ex-jogador quando era ministro do Esporte no primeiro mandato de FHC.
O ex-jogador também não era visto com bons olhos pela Fifa, já que havia se desentendido com o presidente de honra da entidade, João Havelange, ex-sogro de Ricardo Teixeira.
Pelé também fez campanha contra a eleição de Blatter no pleito pela sucessão de Havelange. Ele apoiou o sueco Lennart Johanson, candidato de oposição.
De acordo com Blatter, a reaproximação dos dois antigos desafetos ""é uma boa notícia não apenas para o futebol brasileiro, mas, para o futebol do mundo todo. Ao dar as mãos, vocês dão uma demonstração de sabedoria, magnanimidade e visão".
O presidente da Fifa chegou a prometer realizar uma reunião com os dois brasileiros.
No final da carta, o dirigente da entidade máxima do futebol disse a Teixeira que espera ""poder recebê-los no círculo mais reservado de nossa comunidade futebolística, na primeira oportunidade".
Os primeiros sinais da aproximação entre Pelé e a Fifa haviam sido dados no processo que elegeu o melhor jogador do século.
No ano passado, o brasileiro, campeão de três Copas do Mundo, havia perdido uma eleição, promovida pela entidade, para o argentino Diego Maradona.
Mas a Fifa e Blatter, na última hora, decidiram, dar o prêmio máximo para Pelé.

Contra-ataque
Indignada com o acordo entre Ricardo Teixeira e Pelé, visto como uma conspiração contra as CPIs no Congresso, pelo menos uma delas começou a se mexer.
A da Câmara, que investiga o contrato entre a CBF e a Nike, iniciou uma contra-operação a fim de minar a parceria.
Deputados que fazem parte da comissão já se reuniram com Pelé e tentaram convencer o ex-jogador que não pega bem para sua imagem a reaproximação com Ricardo Teixeira.
Segundo eles, o acordo com a Confederação Brasileira de Futebol será um marco negativo na vida do ex-ministro, que estaria cometendo um grande erro aos 60 anos de idade.
A união entre o dirigente e o ex-jogador, que também é empresário, envolveria, na opinião dos deputados, interesses comerciais. As duas partes negam.
Além de Pelé, a CPI da CBF/Nike tem procurado pessoas que trabalharam com ele na época em que foi ministro do esporte no Brasil (1995-1998) na tentativa de afastá-lo da atual cúpula do futebol brasileiro.
O presidente da CPI da CBF/Nike, Aldo Rebelo (PC do B-SP), classifica como um "complô" o acordo que uniu Pelé e Teixeira.
Os termos do acordo entre o presidente da CBF e o ex-jogador ainda não foram revelados. Uma porta, no entanto, está aberta para Pelé, a da sucessão de Teixeira na CBF, em 2003.
Pelé afirma que não pretende se candidatar para o cargo de Teixeira e que não tem interesses comerciais. (JOÃO CARLOS ASSUMP ÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)

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