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FUTEBOL
Além do computador
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No gol do Barcelona contra
o Milan, enquanto toureava
o Gattuso em um minúsculo espaço, Ronaldinho Gaúcho, sem
olhar para a bola, calculava a sua
distância da meta, a altura dos
zagueiros que estavam perto da
área, a velocidade da bola e a do
Giuly, que entrava em diagonal, e
ainda os imprevistos que poderiam interferir na trajetória da
bola no momento do passe.
Nem os mais modernos e megacomputadores das universidades
de Milão e de Barcelona seriam
capazes de tanta exatidão.
Fora esse e alguns belíssimos
lances, o jogo foi bastante tático.
Pela primeira vez, vi o técnico Rijkaard mudar o esquema tático
após o gol para proteger a sua defesa. Isso pode ter sido bom para
manter a vantagem na decisão
em casa ou ruim, já que o Milan
ficou tonto após o gol e o Barcelona poderia fazer outros que lhe
garantiriam a classificação.
Carlos Alberto Parreira tem razão quando diz que a seleção não
pode mudar todo o esquema tático para o Ronaldinho jogar como
no Barcelona. Não se tem certeza
se daria certo.
O time espanhol é eficiente com
apenas um volante e três atacantes porque, em vez de colocar
mais armadores para proteger a
sua defesa, pressiona e transfere
essa preocupação para o adversário. Parreira não gosta dessa marcação.
É correto o conceito, mas é um
rigor, um exagero, dizer que no
futebol moderno todos os grandes
craques têm de marcar e que o
Ronaldinho corre atrás do lateral.
Isso raramente acontece. Se ele recuar demais, não terá condições
de fazer tantas jogadas espetaculares perto da área. Não seria
bom para o Barcelona.
Edmilson fez uma boa partida e
foi novamente muito elogiado pelo Parreira. Não será surpresa se
ele se tornar titular durante a Copa, ou ser uma opção freqüente
no segundo tempo, ou até ser titular na estréia.
Edmilson pode entrar no lugar
de Emerson -estão no mesmo
nível-, sem mudar o esquema
tático, ou a seu lado e do Zé Roberto, como fez Parreira no segundo tempo do amistoso contra
a Rússia. Ronaldinho passaria a
jogar no ataque.
Quando faço essas análises táticas, não pretendo ditar regras, ser
dono da verdade. Nem acho o esquema tático tão decisivo.
A beleza do espetáculo e os craques é que são importantes e essenciais.
Mas não posso analisar o espetáculo, o conteúdo e o talento individual sem conhecer a forma, o
conjunto e a estratégia do treinador, que vai além do esquema tático.
Seria como um crítico de cinema que não conhecesse a técnica
de filmagem ou um médico que
tratasse dos doentes sem saber
bem como funciona o corpo de
uma pessoa sadia.
Medíocre hábito
Contra o Deportivo Cali, Mascherano mostrou seu enorme talento, no desarme e no passe longo, rápido, para a frente e preciso,
como em dois gols do Corinthians.
É preciso derrubar o medíocre
hábito de que o volante tem apenas de desarmar e tocar a bola
curta e de lado para o outro volante ou para o meia, que passa
ao atacante. O time fica lento e
previsível.
O passe do volante pode também ser direto e para frente. A
maioria dos volantes não sabe fazer isso, mas os técnicos precisam
treiná-los e incentivá-los.
Mestre Telê
Telê foi bicampeão mundial pelo São Paulo e um dos melhores
treinadores de todos os tempos.
Ele era tão bom e querido que foi
técnico seleção na Copa de 86,
com total apoio popular, após ter
sido o treinador da excepcional
seleção de 82, derrotada pela Itália. Telê driblou o chavão de que
técnico vive de vitórias.
A seleção de 82 perdeu, mas o
técnico e o time não perderam o
eterno encanto.
Telê morava no clube, cuidava
da bola, da grama, do vestiário e
dos jogadores.
Fora do horário normal de treinamentos, ele corrigia as deficiências técnicas de cada atleta, separadamente.
Telê não era chamado de professor somente pelo hábito e pela
repetição, como acontece hoje.
Ele era um mestre de verdade.
Comandava o time e ensinava
não só a parte técnica mas também o comportamento ético e
profissional.
Se o futebol tivesse dois Telês,
seria muito melhor, dentro e fora
de campo.
E-mail - tostao.folha@uol.com.br
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