São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2008

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Artesão japonês lança, no peso, primeiro boicote técnico a Pequim-2008

LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Um artesão japonês septuagenário é responsável pelo primeiro boicote técnico aos Jogos Olímpicos de Pequim.
Lideranças políticas pelo mundo já debateram faltar à cerimônia de abertura, como forma de protesto contra a violação de direitos humanos na China. Mas até o momento houve anúncio de apenas um boicote que pode prejudicar a performance atlética.
Masahisa Tsujitani, 75, fabricante das esferas de ferro usadas em provas de arremesso de peso desde os Jogos de Seul-1988, anunciou que não fornecerá seus produtos à Olimpíada chinesa.
Com isso, o fornecedor que dominou todos os pódios masculinos da prova nas últimas três edições dos Jogos ficará ausente de Pequim.
"A China não está qualificada para os Jogos Olímpicos", disse o fabricante à agência France Presse há uma semana. "Estou decidido. Quando um artesão faz um anúncio, ele não pode mudar de posição", completou ele.
À Folha Masako Tsujitani, mulher do artesão, narrou os bastidores da decisão do patriarca da família, que tem outros membros dedicados à fabricação dos acessórios usados na prova de atletismo.
"A repressão no Tibete apenas confirmou sua decisão. Ele havia decidido não fornecer para Pequim depois das vaias dos chineses à seleção feminina de futebol do Japão no Mundial do ano passado [realizado no país-sede da Olimpíada]", contou Masako, que nem sequer lembrava o número de medalhas obtidas pelos implementos de seu marido em campeonatos mundiais.
Ela explicou que Masahisa, que pretende voltar à condição de fornecedor olímpico em Londres-2012, deve à sua audição a excelência na produção das esferas do arremesso de peso -ele diferencia a densidade do ferro a partir do som do choque da esfera com outro metal.
Com um cinzel, dá forma às bolas. Atua como um escultor, com a finalidade de assegurar que o centro de gravidade do implemento fique posicionado exatamente no ponto central da esfera.
Masako conta que a peça metálica é vendida por 1.500 yens (cerca de R$ 270). E que, apesar de o filho deles estar desenvolvendo seus dotes na produção das esferas de ferro, só Masahisa tem ouvido treinado para produzi-las perfeitamente.
João Paulo Cunha, treinador da seleção brasileira de atletismo na área de lançamentos, minimiza o boicote. "Se fosse um disco ou um dardo, os atletas sentiriam mais. Mas o peso produzido pelos diversos fabricantes são bastante similares."


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