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Foco
Artesão japonês lança, no peso, primeiro boicote técnico a Pequim-2008
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Um artesão japonês septuagenário é responsável pelo
primeiro boicote técnico aos
Jogos Olímpicos de Pequim.
Lideranças políticas pelo
mundo já debateram faltar à
cerimônia de abertura, como
forma de protesto contra a
violação de direitos humanos
na China. Mas até o momento
houve anúncio de apenas um
boicote que pode prejudicar a
performance atlética.
Masahisa Tsujitani, 75, fabricante das esferas de ferro
usadas em provas de arremesso de peso desde os Jogos
de Seul-1988, anunciou que
não fornecerá seus produtos
à Olimpíada chinesa.
Com isso, o fornecedor que
dominou todos os pódios
masculinos da prova nas últimas três edições dos Jogos ficará ausente de Pequim.
"A China não está qualificada para os Jogos Olímpicos",
disse o fabricante à agência
France Presse há uma semana. "Estou decidido. Quando
um artesão faz um anúncio,
ele não pode mudar de posição", completou ele.
À Folha Masako Tsujitani,
mulher do artesão, narrou os
bastidores da decisão do patriarca da família, que tem
outros membros dedicados à
fabricação dos acessórios
usados na prova de atletismo.
"A repressão no Tibete
apenas confirmou sua decisão. Ele havia decidido não
fornecer para Pequim depois
das vaias dos chineses à seleção feminina de futebol do
Japão no Mundial do ano
passado [realizado no país-sede da Olimpíada]", contou
Masako, que nem sequer
lembrava o número de medalhas obtidas pelos implementos de seu marido em campeonatos mundiais.
Ela explicou que Masahisa,
que pretende voltar à condição de fornecedor olímpico
em Londres-2012, deve à sua
audição a excelência na produção das esferas do arremesso de peso -ele diferencia a densidade do ferro a
partir do som do choque da
esfera com outro metal.
Com um cinzel, dá forma às
bolas. Atua como um escultor, com a finalidade de assegurar que o centro de gravidade do implemento fique
posicionado exatamente no
ponto central da esfera.
Masako conta que a peça
metálica é vendida por 1.500
yens (cerca de R$ 270). E que,
apesar de o filho deles estar
desenvolvendo seus dotes na
produção das esferas de ferro, só Masahisa tem ouvido
treinado para produzi-las
perfeitamente.
João Paulo Cunha, treinador da seleção brasileira de
atletismo na área de lançamentos, minimiza o boicote.
"Se fosse um disco ou um
dardo, os atletas sentiriam
mais. Mas o peso produzido
pelos diversos fabricantes são
bastante similares."
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