São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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A Malásia pagou US$ 1 milhão...A seleção paga mico


Atletas reclamam do clima e da péssima condição dos gramados na Malásia, escala imposta à delegação para a CBF engordar seu caixa


FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KUALA LUMPUR

Por US$ 700 mil, a Confederação Brasileira de Futebol levou a seleção para jogar um amistoso contra a Catalunha, o penúltimo antes da Copa, e incentivar a causa nacionalista daquela região espanhola. Por US$ 1 milhão, a confederação determinou que o time de Luiz Felipe Scolari enfrentasse, no sábado, a fraquíssima Malásia.
Mas tanto dinheiro não tem compensado os transtornos do Brasil em sua última escala a caminho do Mundial na Ásia.
Desde que chegou a Kuala Lumpur, na segunda-feira passada, a seleção acumulou problemas, apesar de faltarem somente 11 dias para a sua estréia na Copa, em 3 de junho, contra a Turquia, em Ulsan, na Coréia do Sul.
O principal obstáculo são as condições para os treinos. Hoje, no estádio Nacional de Bukit Jalil, local do amistoso contra os malaios, o time da Copa treinaria no quarto local diferente em quatro dias. As três mudanças ocorreram pelo mesmo motivo, o péssimo estado dos gramados malaios.
"O campo é uma merda, a bola é uma merda, tá tudo uma merda aqui. Não sei por que a seleção veio para a Malásia", protestou, irritado, o atacante Edílson.
Ele afirmou que as más condições fazem crescer as chances de os jogadores se contundirem.
"Os campos aqui prejudicam demais. Tem gente que fica sentindo dor no joelho, no tornozelo, é muito duro. Aí é complicado, você quer treinar, fazer um trabalho forte, e não consegue. Eu mesmo estou saindo daqui com o tornozelo dolorido", disse Edílson.
"Eles [a comissão técnica] sabem que a gente corre risco [de se machucar], mas também ficar sem treinar é complicado. A gente não sabia que pegaria tudo ruim assim na Malásia", completou o jogador do Cruzeiro.
Até atletas mais reservados, como o volante Gilberto Silva, não esconderam a insatisfação.
"A dificuldade é muito grande em termos de gramado porque dificulta o domínio e o toque de bola, principalmente de jogadores como os Ronaldos, Denílson e Rivaldo. Infelizmente é o que nós temos aqui. Precisamos nos adaptar à situação. Espero que na Coréia a gente tenha uma situação melhor para treinar e jogar."
Outro grande contratempo dos brasileiros na Malásia é o clima excessivamente quente, úmido e instável. Logo no primeiro dia, um treino físico foi quase perdido por causa da chuva em Kuala Lumpur. O calor e a umidade relativa do ar, que chega a 80%, contribuíram para mudar a programação de treinos -programados para dois períodos e diminuídos para apenas um.
O adversário, para completar, não deve ajudar em nada a preparação da seleção para a Copa, dada a sua fragilidade (a Malásia é a 112ª colocada no ranking da Fifa).
A inutilidade técnica do amistoso foi admitida pelo próprio Scolari, que viu na adaptação ao fuso horário asiático a grande vantagem na escala em Kuala Lumpur.
A seleção poderia ter optado em seguir de Barcelona, sua última parada, direto para a Coréia, mas havia muito dinheiro no meio do caminho. Segundo a Folha apurou, a empresa ProEvents, que organiza o amistoso, pagou US$ 1 milhão, equivalente a R$ 2,48 milhões, para levar o time brasileiro a Kuala Lumpur.
O valor condiz com as cifras cobradas pela CBF em outros amistosos na Ásia, segundo já revelou o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, que não está na Malásia. Pela "tabela" da confederação, o cachê da seleção no continente não fica abaixo de US$ 800 mil.
A escolha da Malásia também ajuda o presidente da Fifa, Joseph Blatter, candidato à reeleição e aliado de Teixeira, que tem a Ásia como um dos pontos fracos de seu mapa eleitoral.
O representante mais graduado da comissão técnica em Kuala Lumpur, Américo Faria, administrador da seleção, afirmou que a "escala" na Malásia já estava definida antes que ele assumisse o cargo, em março. Assim, eximiu-se de comentar o assunto.
O argumento utilizado pela Confederação Brasileira de Futebol é o de que amistosos como esses são vitais para manter a saúde financeira da entidade.



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