São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Atual presidente da Fifa é recebido por um de seus opositores em sua chegada a país que não o apóia em eleição

Blatter desembarca na Coréia e acirra campanha eleitoral

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Foi constrangedora a chegada de Joseph Blatter à Coréia do Sul, na madrugada de hoje.
Numa atitude diplomática, Chung Mong-joon, que preside o Comitê Organizador sul-coreano e a federação de futebol do país, recebeu o dirigente às 5h no aeroporto internacional de Seul.
"Eu gostei muito de ter sido recebido por ele", fez questão de dizer Blatter, logo de cara.
Tiradas as fotos protocolares, porém, os dois voltaram ao mundo real -aquele em que não têm se dado muito bem.
Blatter, na defensiva, implorando para que a imprensa pare de falar sobre os problemas internos da Fifa a seis dias da eleição que decidirá se ele continua no cargo. "Vamos falar sobre futebol."
O dirigente sul-coreano, por sua vez, dizendo-se constrangido, a menos de dois metros de Blatter e em voz baixa, para que o suíço não escutasse: "Eu apóio o candidato que, segundo eu espero, vai limpar a Fifa".
Tal pessoa, para Chung, não é Blatter, mas, sim, o camaronês Issa Hayatou, candidato de oposição que congrega, além do dirigente coreano, votos de federações da Europa e do continente africano. O suíço, por sua vez, tem o grosso de sua base de apoio nas Américas e na Ásia.
Sobra assim a Oceania como alvo potencial da campanha, justamente a região em que tanto Blatter quanto Hayatou passaram seus últimos dias. Lá, discutiram um assunto que interessa diretamente ao Brasil: a concessão de uma vaga fixa na Copa à região.
Atualmente, o time que vence as eliminatórias locais tem de enfrentar o quinto colocado da América do Sul. Foi neste jogo, no ano passado, que o Uruguai derrotou a Austrália e garantiu sua vaga no Mundial. Se cumprida a promessa que a confederação local exigiu dos dois candidatos, a América do Sul ficaria com um time a menos na Copa do Mundo.
Apesar de se dizer confiante em sua reeleição, Blatter deixou a Oceania adotando um tom cauteloso em suas declarações.
"As eleições são como um jogo de futebol. Você pode até falar que esse time tem mais ou menos chances, mas você nunca sabe como vai ser", afirmou o presidente da Fifa, que chamou de "artificiais" os problemas apontados em sua administração.
Embora Blatter tenha culpado a mídia pela discussão sobre os tais problemas "artificiais" da Fifa, foi seu próprio braço-direito, o secretário-geral Michel Zen-Ruffinen, quem os divulgou.
Ele apontou uma série de procedimentos irregulares que teriam sido cometidos por Blatter, e 11 dos 24 membros do Comitê Executivo da Fifa, todos de oposição, foram à Justiça contra o dirigente. Blatter, em sua resposta, negou os problemas e usou argumentos curiosos para atacar seu desafeto: "Ele era a única pessoa na Fifa que tinha três carros à disposição [um Audi A8 e duas Mercedes, uma C AMG e uma S-Class"".
É desse nível que a campanha eleitoral da Fifa aterrissou nesta madrugada na Coréia do Sul, onde seu final será conhecido.
De qualquer forma, com uma hospitalidade como a que encontrou ontem, o atual presidente da Fifa já tomou sua decisão. Passada a abertura da Copa, vai fazer as malas e rumar para o Japão, de onde acompanhará o Mundial.



Texto Anterior: O Motivador: "Juntos somos fortes; unidos, imbatíves"
Próximo Texto: Relatório da Fifa revela buraco de US$ 85 milhões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.