São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Palavras, obsessão e blitz

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Na última segunda, o chefe -digo, o Melk, ou Melchiades- escreveu no primeiro caderno da Folha um artigo muito interessante ("Assim é, se lhe parece") sobre o quanto a versão de um fato, com o tempo, se sobrepõe ao próprio. "Imprima-se a lenda!", rendia-se o jornalista de "O Homem que Matou o Facínora", de John Ford, e muitas lendas foram (e serão) impressas sobre Copa do Mundo.
Pois bem, enquanto não temos a oportunidade de ver a seleção em ação (a não ser por alguns minutos no noticiário), praticamente só temos as versões do fato, segundo os repórteres, os jogadores e o técnico. E as palavras deste último oferecem uma visão preocupante do trabalho que está sendo feito na Malásia.
Nos últimos dias, Felipão tem falado obsessivamente em marcação. Quando todos consideraram que a atuação de Ronaldo na Catalunha foi a mais apagada desde a sua volta, Luiz Felipe o elogiou. Não por uma bela jogada de ataque. "Ele dificultou a saída de bola, foi participativo. Está melhorando." Melhorando?
No segundo tempo, segundo ele, "Ronaldo, Ronaldinho e Denílson ficaram muito na frente e não ajudaram na marcação". Ronaldinho, o mais entusiasmante do time (além de dar show, faz gol!), revela-se sensível à preocupação número um do técnico: "Olho para o Felipão e já sei que é para voltar e marcar". Santa idéia fixa!
Em princípio, a idéia da marcação por pressão é muito mais promissora do que a do contra-ataque. Pressionar a saída do adversário para tentar retomar a bola perto do gol é uma tática ofensiva; recuar o time todo na marcação para sair lá de trás em velocidade é um modelo defensivo. O problema é que o Brasil não tem executado bem nenhuma dessas funções/estratégias: a pressão, o recuo, e muito menos o ataque!
Quando a seleção toma a bola, seja na intermediária do adversário ou na nossa, não tem diversas opções ofensivas de modo a tornar-se perigosa, mortal. O Brasil tem os talentos individuais, mas não o ataque arrasador que desorienta a defesa adversária.
E poderia ter, com Roberto Carlos abrindo o jogo e rolando a bola para Denílson fazer a festa na área; Ronaldo fazendo o pivô para Ronaldinho entrar desmarcado; Rivaldo, Denílson e Ronaldinho triangulando em direção ao gol; Cafu atraindo a marcação para a linha de fundo antes de cruzar rasteiro para o Ronaldo; Vampeta vindo de trás...
Pareço disco riscado, mas reclamo mais uma vez: o Brasil não tem uma jogada! O Corinthians de Parreira, por exemplo, tinha muitas, mesmo que o cérebro Ricardinho estivesse preso (marcando ou sendo marcado).
A uma certa altura, os jogadores se entendiam perfeitamente. Antes do jogo contra o Brasiliense no Morumbi, Gil já sabia que Deivid se posicionaria no segundo pau para receber a bola -e assim foi feito nos dois gols.
Leandro também sabia que Deivid preferia receber adiante dos zagueiros e cruzou com perfeição para o gol no Serejão. Mas Felipão ainda não tem o time definido e entrosado e fez SEIS substituições no jogo em Barcelona!
Mas há esperança. Como Luiz Felipe inúmeras vezes diz uma coisa e faz outra, pode ser que os fatos desmintam as palavras. Ou confirmem só a melhor parte delas e tenhamos uma seleção que marca o adversário com afinco e avança com perfeição, em uma blitz (de ataque!) irresistível.

Jornal velho
Nota publicada no Painel FC de 4/05/2000, com o título "Ou vai ou racha": "O Clube dos 13 marcou para a segunda uma reunião em que discutirá o sistema de disputa do Brasileiro-2000. O dirigente Eurico Miranda insiste em deixar o Gama fora (...) A ala liderada por Fabio Koff, que tem apoio dos times paulistas e é contra a virada de mesa, diz que tem o apoio de pelo menos 14 dos 20 membros do Clube dos 13. Ela defende a implantação da Liga de Clubes, totalmente independente da CBF, apenas para 2001 e não para agora, como quer Miranda". A dança das cadeiras -apoio para cá, dissidência para lá- só não tem mais ares de déja-vu porque havia o caso Gama para dividir os clubes grandes. Mas a promessa de implantação da Liga "totalmente independente" parece videoteipe. Nem as moscas mudam!

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



Texto Anterior: Futebol: Portugal exclui atleta pego em antidoping
Próximo Texto: Futebol: São Paulo tem chance de salvar semestre
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.