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FUTEBOL
Palavras, obsessão e blitz
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Na última segunda, o chefe
-digo, o Melk, ou Melchiades- escreveu no primeiro caderno da Folha um artigo muito
interessante ("Assim é, se lhe parece") sobre o quanto a versão de
um fato, com o tempo, se sobrepõe
ao próprio. "Imprima-se a lenda!", rendia-se o jornalista de "O
Homem que Matou o Facínora",
de John Ford, e muitas lendas foram (e serão) impressas sobre Copa do Mundo.
Pois bem, enquanto não temos
a oportunidade de ver a seleção
em ação (a não ser por alguns minutos no noticiário), praticamente só temos as versões do fato, segundo os repórteres, os jogadores
e o técnico. E as palavras deste último oferecem uma visão preocupante do trabalho que está sendo
feito na Malásia.
Nos últimos dias, Felipão tem
falado obsessivamente em marcação. Quando todos consideraram
que a atuação de Ronaldo na Catalunha foi a mais apagada desde
a sua volta, Luiz Felipe o elogiou.
Não por uma bela jogada de ataque. "Ele dificultou a saída de bola, foi participativo. Está melhorando." Melhorando?
No segundo tempo, segundo ele,
"Ronaldo, Ronaldinho e Denílson
ficaram muito na frente e não
ajudaram na marcação". Ronaldinho, o mais entusiasmante do
time (além de dar show, faz gol!),
revela-se sensível à preocupação
número um do técnico: "Olho para o Felipão e já sei que é para voltar e marcar". Santa idéia fixa!
Em princípio, a idéia da marcação por pressão é muito mais promissora do que a do contra-ataque. Pressionar a saída do adversário para tentar retomar a bola
perto do gol é uma tática ofensiva; recuar o time todo na marcação para sair lá de trás em velocidade é um modelo defensivo. O
problema é que o Brasil não tem
executado bem nenhuma dessas
funções/estratégias: a pressão, o
recuo, e muito menos o ataque!
Quando a seleção toma a bola,
seja na intermediária do adversário ou na nossa, não tem diversas
opções ofensivas de modo a tornar-se perigosa, mortal. O Brasil
tem os talentos individuais, mas
não o ataque arrasador que desorienta a defesa adversária.
E poderia ter, com Roberto Carlos abrindo o jogo e rolando a bola para Denílson fazer a festa na
área; Ronaldo fazendo o pivô para Ronaldinho entrar desmarcado; Rivaldo, Denílson e Ronaldinho triangulando em direção ao
gol; Cafu atraindo a marcação
para a linha de fundo antes de
cruzar rasteiro para o Ronaldo;
Vampeta vindo de trás...
Pareço disco riscado, mas reclamo mais uma vez: o Brasil não
tem uma jogada! O Corinthians
de Parreira, por exemplo, tinha
muitas, mesmo que o cérebro Ricardinho estivesse preso (marcando ou sendo marcado).
A uma certa altura, os jogadores se entendiam perfeitamente.
Antes do jogo contra o Brasiliense
no Morumbi, Gil já sabia que
Deivid se posicionaria no segundo pau para receber a bola -e
assim foi feito nos dois gols.
Leandro também sabia que
Deivid preferia receber adiante
dos zagueiros e cruzou com perfeição para o gol no Serejão. Mas
Felipão ainda não tem o time definido e entrosado e fez SEIS substituições no jogo em Barcelona!
Mas há esperança. Como Luiz
Felipe inúmeras vezes diz uma
coisa e faz outra, pode ser que os
fatos desmintam as palavras. Ou
confirmem só a melhor parte delas e tenhamos uma seleção que
marca o adversário com afinco e
avança com perfeição, em uma
blitz (de ataque!) irresistível.
Jornal velho
Nota publicada no Painel FC
de 4/05/2000, com o título
"Ou vai ou racha": "O Clube
dos 13 marcou para a segunda uma reunião em que discutirá o sistema de disputa do
Brasileiro-2000. O dirigente
Eurico Miranda insiste em
deixar o Gama fora (...) A ala
liderada por Fabio Koff, que
tem apoio dos times paulistas
e é contra a virada de mesa,
diz que tem o apoio de pelo
menos 14 dos 20 membros do
Clube dos 13. Ela defende a
implantação da Liga de Clubes, totalmente independente da CBF, apenas para 2001 e não para agora, como quer
Miranda". A dança das cadeiras -apoio para cá, dissidência para lá- só não tem
mais ares de déja-vu porque
havia o caso Gama para dividir os clubes grandes. Mas a
promessa de implantação da
Liga "totalmente independente" parece videoteipe.
Nem as moscas mudam!
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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