São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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JOHN CARLIN

A missão sul-africana

Se a Copa for bem-sucedida, a África do Sul poderá mudar sua imagem aos olhos do mundo

PARA A ÁFRICA DO SUL, a Copa do Mundo é uma oportunidade de o país se equiparar ao Brasil.
Não só em termos de futebol mas também como um país com a economia em alta e com um papel crescente nos assuntos internacionais. Em ambos os casos e na melhor das circunstâncias, isso vai levar tempo. Porém, a Copa do Mundo pode assinalar um começo importante.
O futebol, na realidade, é a menor parte de tudo isso. A África do Sul é um país louco por futebol e com potencial para montar uma seleção atraente e bem-sucedida. Mas nenhum sul-africano crê seriamente que os Bafana Bafana se sairão bem em campo desta vez. A esperança é que seja dado um salto gigante em 2014, no Brasil.
O que o torneio do próximo mês vai fazer, sobretudo, é dar à África do Sul a oportunidade de elevar sua autoestima nacional, além de projetar ao mundo uma nova imagem dela mesma.
Até agora, as percepções do país vêm sendo moldadas por Nelson Mandela e pelo sistema de apartheid que ele lutou para superar.
Muitos comentaristas estrangeiros insistem em acreditar que o significado mais profundo desta Copa do Mundo será curar feridas antigas e unir o que, há 20 anos, quando Mandela emergiu da prisão, era a nação racialmente mais dividida do mundo.
Não é verdade.
A África do Sul é um país em que pessoas brancas e negras comuns se relacionam com mais respeito, menos tensão, mais cordialidade e menos ressentimento do que acontece nos Estados Unidos. As instituições democráticas -eleições legítimas, Estado de Direito, liberdade de expressão- são fortes também.
O objetivo dos realizadores agora é converter a África do Sul em um país organizado e eficiente, capaz de combater a pobreza em seu interior e de competir no mercado global.
É por isso que a Copa do Mundo é tão importante. Se tudo correr em tranquilidade e paz, se os torcedores e a mídia internacional ficarem satisfeitos e se o torneio for um sucesso logístico, a África do Sul terá conseguido transformar sua imagem aos olhos de todo o mundo.
O otimismo do povo sul-africano em relação ao futuro também receberá uma grande injeção de ânimo. A oportunidade é imensa. O preço do fracasso, também.


O jornalista britânico JOHN CARLIN é colunista do diário espanhol "El País" e autor de "Conquistando o Inimigo - Nelson Mandela e o Jogo que Uniu a África do Sul", livro que inspirou o filme "Invictus"

Tradução de CLARA ALLAIN


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