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JOHN CARLIN
A missão sul-africana
Se a Copa for bem-sucedida, a África do Sul poderá mudar sua imagem aos olhos do mundo
PARA A ÁFRICA DO SUL, a Copa do Mundo é uma
oportunidade de o país se equiparar ao Brasil.
Não só em termos de futebol mas também como
um país com a economia em alta e com um papel
crescente nos assuntos internacionais. Em ambos
os casos e na melhor das circunstâncias, isso vai
levar tempo. Porém, a Copa do Mundo pode assinalar um começo importante.
O futebol, na realidade, é a menor parte de tudo
isso. A África do Sul é um país louco por futebol e
com potencial para montar uma seleção atraente
e bem-sucedida. Mas nenhum sul-africano crê seriamente que os Bafana Bafana se sairão bem em
campo desta vez. A esperança é que seja dado um
salto gigante em 2014, no Brasil.
O que o torneio do próximo mês vai fazer, sobretudo, é dar à África do Sul a oportunidade de elevar
sua autoestima nacional, além de projetar ao mundo uma nova imagem dela mesma.
Até agora, as percepções do país vêm sendo moldadas por Nelson Mandela e pelo sistema de apartheid que ele lutou para superar.
Muitos comentaristas estrangeiros insistem em
acreditar que o significado mais
profundo desta Copa do Mundo
será curar feridas antigas e unir
o que, há 20 anos, quando Mandela emergiu da prisão, era a
nação racialmente mais dividida do mundo.
Não é verdade.
A África do Sul é um país em
que pessoas brancas e negras comuns se relacionam com mais respeito, menos tensão, mais cordialidade e menos ressentimento do que acontece nos
Estados Unidos. As instituições democráticas
-eleições legítimas, Estado de Direito, liberdade de
expressão- são fortes também.
O objetivo dos realizadores agora é converter a
África do Sul em um país organizado e eficiente, capaz de combater a pobreza em seu interior e de
competir no mercado global.
É por isso que a Copa do Mundo é tão importante.
Se tudo correr em tranquilidade e paz, se os torcedores e a mídia internacional ficarem satisfeitos e se o
torneio for um sucesso logístico, a África do Sul terá
conseguido transformar sua imagem aos olhos de
todo o mundo.
O otimismo do povo sul-africano em relação ao
futuro também receberá uma grande injeção de
ânimo. A oportunidade é imensa. O preço do fracasso, também.
O jornalista britânico JOHN CARLIN é colunista do diário espanhol "El País"
e autor de "Conquistando o Inimigo - Nelson Mandela e o Jogo que Uniu a
África do Sul", livro que inspirou o filme "Invictus"
Tradução de CLARA ALLAIN
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