São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Torcida grita "olé" pela 1ª vez

Goleada faz brasileiros criarem coro em Dortmund, além de exaltarem performance de Ronaldo

Japoneses, que invadiram as lojas antes do jogo, ditam a festa no 1º tempo e não deixam de cantar mesmo com o revés e a eliminação


DOS ENVIADOS A DORTMUND

No início do jogo, o Estádio de Dortmund, com 65 mil torcedores, estava dividido. Mas os japoneses, que dominaram as lojas do entorno do estádio, cantavam mais do que os brasileiros, que arriscavam sambas.
"Nippon, Nippon" foi o grito mais entoado de todo o primeiro tempo, especialmente quando a seleção japonesa abriu o placar. A torcida brasileira, por sua vez, passou a maior parte do tempo silenciosa.
No decorrer da segunda etapa, com a virada, os fãs da seleção se soltaram. Um grupo exaltou os primeiros gols de Ronaldo, com um "Ih, fodeu, Ronaldo emagreceu".
Outro preferiu adaptar um samba do Salgueiro: "É lindo o meu Brasil, contagiando e sacudindo esta cidade...".
Mas a novidade, e o mais marcante, pelo menos para a seleção brasileira, foi que pela primeira vez na Copa da Alemanha as arquibancadas gritaram "olé" a cada toque de bola dos comandados do técnico Carlos Alberto Parreira.
A festa, que incluiu japoneses, que, apesar da derrota, seguiam cantando, tornou-se quase um coro uníssono com um "sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor" que tomou o Estádio de Dortmund.
Mesmo eliminados do Mundial sem vencer, os japoneses, que terão de esperar ao menos mais quatro anos para a próxima Copa, na África do Sul, em 2010, não pararam de gritar.
O clima dentro da arena foi reflexo do que ocorreu em seu entorno antes do jogo.
"Está muito mais calmo do que imaginávamos, felizmente", declarou o comissário Thomas Richlewski, chefe da tropa policiais, que reuniu mais de 300 agentes.
A polícia, inclusive, fez parte da confraternização entre as torcidas. Em meio à fila imensa de veículos parada diante do estádio, eles, apesar de vestidos para uma guerra, conversavam tranqüilamente e se mostravam solícito a cada pedido de torcedores japoneses para mais uma fotografia.
Além da gentileza, de sorrirem a cada flash, eles ainda distribuíam de presente aos fãs broches com a inscrição "Polícia, Copa do Mundo 2006".
"A ordem é para sermos educados com todos. É o primeiro passo para evitar a violência", contou o comissário alemão.
Uniformizados com boinas, coturnos e roupas verdes, que escondem os coletes à prova de balas, eles afirmavam que podiam se transformaram em atração turística graças à falta de trabalho, ou melhor, de confusão -no Mundial da Alemanha, a violência tem sido coisa rara, e os problemas foram registrados somente com os hooligans ingleses e poloneses.
Mas não era só a polícia que comemorava o clima festivo. Os comerciantes também.
Nas lojas oficiais de suvenires do Mundial, os japoneses faziam fila para gastar. E compravam muito. "Quando o Japão joga, é lucro certo", dizia a vendedora Jahne Kuclovicz.
Ao contrário do que ocorreu pouco depois, durante o primeiro tempo do jogo, fora do estádio eram os brasileiros quem mais cantavam, improvisando sambas e batucadas.
Era o início de um final feliz para os torcedores japoneses e, mais ainda, para os brasileiros.
(EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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