São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na Vila Mimosa, prostitutas faturam em dia de jogo

CRISTINA TARDÁGUILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Durante a partida, o movimento é baixo na Vila Mimosa, tradicional zona de prostituição do centro do Rio de Janeiro, mas, no intervalo e depois do jogo, o número de homens que circula ali aumenta em até 50%, se comparado com um dia normal. Na vila famosa, dia de partida do Brasil na Copa é sinônimo de trabalho duro.
"Normalmente eu faço dez programas por dia, mas hoje [ontem] devo fazer uns 15. É que os homens todos vão vir aqui depois do jogo para comemorar conosco a vitória do Brasil", afirmou a carioca Natália, 19, que já trabalha no local há dois anos e, como as demais pessoas entrevistadas pela Folha, não quis informar seu sobrenome.
"O pessoal gosta daqui porque, além de ter mulher de todos os tipos, loira, morena, ruiva, alta, baixa, gorda e magra, fazemos um churrasco com fígado, fraldinha, asa e lingüiça que dura até o sol raiar", acrescentou ela.
Natália, que trabalhou como atendente de loja antes de entrar para a prostituição, cobra R$ 25 por programa, dos quais embolsa R$ 19 -outros R$ 5 vão para o dono do bar, que aluga as cabines do segundo e do terceiro andares, e R$ 1 para a camisinha.
"Mas se o Adriano, da seleção, aparecesse por aqui, eu não cobraria nada! Ele é lindo de morrer", afirma rindo, revelando seu lado tiete.
Quando o Japão fez o gol, abrindo o placar, Natália e as outras prostitutas do local chegaram a vaiar a seleção.
"Olha, eu já saí com seis japoneses e, agora, vou dizer a verdade: nenhum deles fugiu à regra, viu? O Brasil tem que virar, gente!", disparou, nervosa.
Para enfeitar o bar, que tinha bandeiras, algumas cornetas e até balões pendurados pelo teto e nas grades onde as prostitutas costumam se agarrar para dançar e se exibir para os clientes, foram gastos R$ 50.
"Desde o primeiro jogo do Brasil, contra a Croácia, nós estamos com essa decoração aqui. Já tem gente achando até que damos sorte para a seleção na Alemanha. Quem sabe não vira uma tradição?", declarou a carioca Débora, 24.
Com a proximidade do intervalo, o movimento na Vila Mimosa aumentou, como as mulheres haviam previsto. Rafael, 24, e seus dois amigos de Vila Valqueire (zona norte do Rio), por exemplo, chegaram por lá no 40º minuto e não demoraram muito para encontrar um "par perfeito". "Temos 15 minutos de intervalo para relaxar. Não podemos perder tempo nenhum", explicaram.
O marinheiro baiano Avelino, de 44 anos, era outro que pouco se importava com o placar da partida em Dortmund.
"Acho legal as meninas estarem vestidas de verde-e-amarelo, mas, na verdade, eu não estou nem aí para a partida. Estou somente esperando a festa que virá depois."


Texto Anterior: "Banco" de Ronaldo provoca furor
Próximo Texto: Abatido, Zico se despede do Japão e mira Europa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.