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Sem medo, Gana foge do trivial e prevê que pode fazer Brasil sofrer nas oitavas
"Agora a África inteira torce por nós", diz o atacante Gyan Asamoah, que como seus colegas recebeu a visita do ídolo camaronês Eto'o
Técnico e jogadores deixam de lado discurso de que seleção brasileira é sempre favorita e dizem que avançarão às semifinais
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A NUREMBERG
Quando o juiz anunciou que
daria cinco minutos de acréscimo no final da partida, Ratomir
Dujkovic fez o sinal da cruz.
Estava, como ele o próprio
afirmou depois, ansioso para
que o jogo acabasse logo, e pedia proteção aos céus para seu
time segurar o 2 a 1 sobre os
EUA. Deu certo. No apagar das
luzes no Grupo E, Gana obteve
a segunda vaga -ficou atrás da
Itália- e enfrenta a seleção
brasileira no próximo duelo.
Para quem está na primeira
Copa, ocupa a 48ª posição no
ranking da Fifa e sofreu tanto
para se classificar, era de se esperar a velha cantilena de "eles
são sempre os favoritos" ou "os
campeões do mundo são praticamente imbatíveis".
Nada disso. O discurso do
técnico sérvio que rezava para o
duelo de ontem acabar é de um
tom desafiador quando o assunto é o próximo rival. "Somos a melhor seleção africana,
temos muita qualidade. É por
isso que faremos o Brasil sofrer,
assim como fizemos com a Itália, com a República Tcheca e
com os EUA", disse Dujkovic.
Apesar de nunca ter trabalhado em seleções ou equipes
de ponta, sua fama na África é
de milagreiro. Em 2004, conduziu Ruanda, país que ainda
curava feridas de um genocídio,
à Copa continental. Logo depois, assumiu Gana, que tentava havia 20 anos competir no
Mundial adulto de futebol.
O sérvio de 59 anos motivou
jogadores, saiu às ruas em busca de patrocinadores e conseguiu a vaga. Por tudo isso, afirma estar vacinado. "Já enfrentei quase tudo nesta carreira.
Nosso objetivo são as semifinais, independentemente de
quem cruzar nosso caminho.
Não tenho medo."
Seus atletas também dizem
nada temer. "Somos o Brasil da
África. Sabemos jogar bem e temos boas peças de reposição.
Estamos unidos", avisou Stephen Appiah, o camisa 10.
Unidos e bem pagos. Com os
patrocínios que o treinador
ajudou a garimpar, a federação
de Gana prometeu, antes do jogo contra os EUA, US$ 20 mil
(R$ 45 mil) a cada jogador, o
dobro dos US$ 10 mil inicialmente estipulados como recompensa pela classificação.
Mesmo com tanto incentivo
financeiro, o time só tirou o zero do placar após falha incrível
do meia e capitão americano
Claudio Reyna, que entregou a
bola para Haminu Draman invadir a área e superar Keller.
Os EUA chegaram a empatar
com Clint Dempsey. Só que,
ainda no final da etapa inicial,
Appiah anotou o segundo, na
cobrança de um pênalti muito
questionado pelos adversários.
Na jogada, o zagueiro Olyewu
disputou bola com Pimpong. O
juiz alemão Markus Merk declarou ter visto um empurrão.
"Mostramos que somos fortes, que suportamos pressões.
Contra o Brasil, é possível surpreender", disse Otto Addo.
O meia lembrou que seu país
pode até não ter experiência
em Copas, mas é potência nas
categorias de base. Ganhou, por
exemplo, duas edições do Mundial sub-17, em 1991 e 1995, e
também ergueu troféu do
Mundial sub-20, em 2001.
"Defendemos uma nação
com tradição, que ama o futebol. E agora a África inteira torce por nós", afirmou o atacante
Gyan Asamoah.
Um entusiasta, contudo, foi
especial. Segundo Asamoah,
Samuel Eto'o, atacante camaronês que defende o Barcelona,
visitou Gana na concentração.
Pediu para os atletas "salvarem
a honra" do continente que em
2010 vai receber a Copa.
Até aqui, Gana conseguiu. E o
falastrão Dujkovic já tem até a
receita para prosperar. Questionado sobre como pretendia
ganhar do Brasil na próxima
terça-feira, mandou de pronto:
"Fazendo três gols."
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