São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Sem medo, Gana foge do trivial e prevê que pode fazer Brasil sofrer nas oitavas

"Agora a África inteira torce por nós", diz o atacante Gyan Asamoah, que como seus colegas recebeu a visita do ídolo camaronês Eto'o

Técnico e jogadores deixam de lado discurso de que seleção brasileira é sempre favorita e dizem que avançarão às semifinais


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A NUREMBERG

Quando o juiz anunciou que daria cinco minutos de acréscimo no final da partida, Ratomir Dujkovic fez o sinal da cruz.
Estava, como ele o próprio afirmou depois, ansioso para que o jogo acabasse logo, e pedia proteção aos céus para seu time segurar o 2 a 1 sobre os EUA. Deu certo. No apagar das luzes no Grupo E, Gana obteve a segunda vaga -ficou atrás da Itália- e enfrenta a seleção brasileira no próximo duelo.
Para quem está na primeira Copa, ocupa a 48ª posição no ranking da Fifa e sofreu tanto para se classificar, era de se esperar a velha cantilena de "eles são sempre os favoritos" ou "os campeões do mundo são praticamente imbatíveis".
Nada disso. O discurso do técnico sérvio que rezava para o duelo de ontem acabar é de um tom desafiador quando o assunto é o próximo rival. "Somos a melhor seleção africana, temos muita qualidade. É por isso que faremos o Brasil sofrer, assim como fizemos com a Itália, com a República Tcheca e com os EUA", disse Dujkovic.
Apesar de nunca ter trabalhado em seleções ou equipes de ponta, sua fama na África é de milagreiro. Em 2004, conduziu Ruanda, país que ainda curava feridas de um genocídio, à Copa continental. Logo depois, assumiu Gana, que tentava havia 20 anos competir no Mundial adulto de futebol.
O sérvio de 59 anos motivou jogadores, saiu às ruas em busca de patrocinadores e conseguiu a vaga. Por tudo isso, afirma estar vacinado. "Já enfrentei quase tudo nesta carreira. Nosso objetivo são as semifinais, independentemente de quem cruzar nosso caminho. Não tenho medo."
Seus atletas também dizem nada temer. "Somos o Brasil da África. Sabemos jogar bem e temos boas peças de reposição. Estamos unidos", avisou Stephen Appiah, o camisa 10.
Unidos e bem pagos. Com os patrocínios que o treinador ajudou a garimpar, a federação de Gana prometeu, antes do jogo contra os EUA, US$ 20 mil (R$ 45 mil) a cada jogador, o dobro dos US$ 10 mil inicialmente estipulados como recompensa pela classificação.
Mesmo com tanto incentivo financeiro, o time só tirou o zero do placar após falha incrível do meia e capitão americano Claudio Reyna, que entregou a bola para Haminu Draman invadir a área e superar Keller.
Os EUA chegaram a empatar com Clint Dempsey. Só que, ainda no final da etapa inicial, Appiah anotou o segundo, na cobrança de um pênalti muito questionado pelos adversários. Na jogada, o zagueiro Olyewu disputou bola com Pimpong. O juiz alemão Markus Merk declarou ter visto um empurrão.
"Mostramos que somos fortes, que suportamos pressões. Contra o Brasil, é possível surpreender", disse Otto Addo.
O meia lembrou que seu país pode até não ter experiência em Copas, mas é potência nas categorias de base. Ganhou, por exemplo, duas edições do Mundial sub-17, em 1991 e 1995, e também ergueu troféu do Mundial sub-20, em 2001.
"Defendemos uma nação com tradição, que ama o futebol. E agora a África inteira torce por nós", afirmou o atacante Gyan Asamoah.
Um entusiasta, contudo, foi especial. Segundo Asamoah, Samuel Eto'o, atacante camaronês que defende o Barcelona, visitou Gana na concentração. Pediu para os atletas "salvarem a honra" do continente que em 2010 vai receber a Copa.
Até aqui, Gana conseguiu. E o falastrão Dujkovic já tem até a receita para prosperar. Questionado sobre como pretendia ganhar do Brasil na próxima terça-feira, mandou de pronto: "Fazendo três gols."


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