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BASQUETE
Pé grande
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Um atleta que disputar
uma partida inteira ficará
com a bola nas mãos por uns 4 ou
5 minutos. Mas seus pés estarão
na quadra durante os 40 minutos.
Por isso, quem trabalha, estuda
e/ou aprecia o basquete deveria se
conscientizar de que muitos aspectos desse esporte considerado
"aéreo", de um modo ou de outro,
dizem respeito ao trabalho de solo. O posicionamento. O deslocamento. A freada. O salto.
No entanto isso é pouco trabalhado nas categorias de base. No
mundo todo, costuma-se treinar
a molecada -e não ensiná-la.
Ignora-se, por exemplo, que, assim como nas mãos, o ser humano geralmente é destro ou canhoto nos pés. Um dos pés, portanto,
perde naturalmente a capacidade
atlética com o tempo. O jogador
inconscientemente se habitua a
iniciar o drible, a fazer o giro, a
reagir na defesa com o pé "bom".
Os defeitos de formação contaminam até os profissionais da
NBA, os melhores do mundo.
Tanto que desenvolver a "ambidestria" da cintura para baixo
tornou-se obsessão na liga norte-americana nas últimas décadas.
Os técnicos preocupam-se principalmente com os pivôs, que operam em espaço mais restrito, o
garrafão, onde o jogo de pés faz
ainda mais diferença.
Anualmente, as equipes da
NBA encaminham os jovens gigantes (e, às vezes, os medalhões
também) para uma semana de
aulas desse fundamento. Quem
administra a clínica é o maior
professor da história do esporte.
Deixo para abordar oportunamente em outra coluna a importância tática de Pete Newell para
o basquete. Por ora, digo que é
um dos únicos treinadores a trazer no currículo os mais relevantes títulos do basquete amador
mundial: NIT, NCAA e Olimpíada. (O outro é Bobby Knight, legenda na Universidade de Indiana e, batata, pupilo de Newell).
Os dois primeiros troféus, de
torneios universitários dos EUA,
Newell conquistou com equipes
desconhecidas, sem nenhum astro: São Francisco (1949) e Califórnia-Berkeley (1959). O terceiro,
em Roma (1960), com o embrião
de um "Dream Team", uma seleção que contava com Oscar Robertson, Jerry West, Jerry Lucas e
outros cobras que arrebentariam
a NBA nos anos seguintes.
A dieta autodestrutiva de café e
cigarro (ele não comia nada durante dias) e os ataques de nervos
na véspera dos jogos acabaram
abreviando a carreira do técnico
logo após o triunfo olímpico.
Mas, em 1977, Newell concordou em voltar às quadras, a pedido de um grupinho de jogadores
de segundo escalão da NBA.
Nascia, assim, o Big Man Camp.
No primeiro dia, os alunos faziam
exercícios em um lado da quadra,
usando um pé como apoio. No segundo, mudavam de lado e de pé.
Em uma semana, aprendiam
"drills" para incorporar à rotina
de treinos de seus times.
Um dos quatro estudantes da
primeira turma era um ala-pivô
pesadão, incapaz de correr e pular. Tinha dificuldades para pontuar. Estava desesperado por um
emprego entre os profissionais.
Com a ajuda de Newell, Kiki
Vandeweghe transformou-se em
um furacão sob a tabela, anotando mais de 20 pontos por jogo durante sete anos na NBA.
Hoje, é o dirigente do Denver, a
nova equipe de Nenê. Talvez o
brasileiro nem saiba. Mas ele já
foi matriculado pelo chefe no próximo "camp", dentro de três semanas, no Havaí. Pés à obra!
Sola 1
Nos 25 anos de clínicas, Pete Newell, 86, jamais cobrou um centavo
dos atletas. "Os jogadores não têm quem lhes estimule o lado intelectual do basquete. É preciso que compreendam não só o "como?"
mas também o "por quê?". Ajudá-los a conciliar esse conhecimento
com o instinto de jogo me faz feliz, me completa. Faço por prazer."
Sola 2
Confira a lista de quem aprendeu com Newell: Hakeem Olajuwon,
Shaquille O'Neal, Kareem Abdul-Jabbar, Scottie Pippen, Bernard
King, James Worthy... Atualmente, quem ajuda a tocar as aulas é
Rick Carlisle, eleito o melhor técnico da NBA em 2001/2002.
Sola 3
Duas dicas sobre a obra de Newell: o vídeo "Big Man Moves", 90
minutos de exercícios de "footwork" com estrelas da NBA, e a biografia "A Good Man", de Bruce Jenkins (US$ 20, na internet).
E-mail melk@uol.com.br
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