São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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FUTEBOL

Lelê conhece Bruna, a Bruxa

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Meu nome é Leocádio, mas todos me chamam de Lelê.
Eu adoro e detesto os domingos. É que o domingo é um dia muito bacana porque não tem aula, mas quando vem chegando a noite dá a maior tristeza, porque daqui a pouco vai virar segunda-feira. Mas eu nem sei porque escrevi isso. Ah, sei sim, é porque foi nesse domingo que passou um jogo na televisão. Foi entre o Palmeiras, que é o time do meu pai, e o Fluminense, que é um time que estava fazendo aniversário de cem anos. Quando meu pai me contou isso, eu falei:
"Puxa, os jogadores do Fluminense devem ser muito velhos! Aposto que eles usam dentadura que nem o vô!?"
Então o meu avô me explicou que o time tem cem anos, mas os jogadores são sempre novinhos. E depois falou que dentadura era uma coisa muito boa, porque ele podia comer quanto doce ele quisesse que nunca ia ficar com cárie. Eu fiquei pensando naquilo e acho que eu vou pedir para a minha mãe me levar no dentista para ele arrancar todos os meus dentes e colocar uma dentadura que nem a do meu avô. Aposto que ela vai me achar um gênio!
Bom, aí, quando o jogo tinha acabado de começar, chegou um amigo do meu pai, o seu Dias, e o seu Dias também é palmeirense. Mas o seu Dias não veio sozinho. Ele trouxe a filha dele para assistir ao jogo com a gente. Ela tem a minha idade mas é mais alta que eu (só um pouquinho de nada). Aí ela falou pra mim:
"Oi, o meu nome é Bruna Dias, mas todo mundo me chama de Bru." E eu respondi: "E o meu nome é Leocádio, mas todo mundo só me chama de Lelê."
Então, eu sei lá porquê, ela caiu na gargalhada. As meninas riem muito e eu nunca entendo porquê. Quando ela parou de rir, falou assim: "Acho que te chamam de Lelê porque você é meio lelé. Lelé da cuca!" Aí eu fiquei muito bravo e respondi:
"E aposto que chamam você de Bru porque você é uma Bruxa. Bruxa Dias!"
E depois ela ficou me chamando de Lelé e eu fiquei chamando ela de Bruxa e foi bem legal. Mas os nossos pais não gostaram e disseram para a gente ficar quieto que eles queriam ver o jogo.
A partida estava meio chata, mas aí um jogador do Fluminense fez falta num jogador do Palmeiras e a Bruna, quer dizer, a Bruxa, falou: "Vai ser gol. O Arce é muito bom nas faltas."
Aí eu disse: "Menina não entende nada de futebol. Aposto que não vai ser gol nada!"
Mas então aconteceu a pior coisa do mundo: foi gol.
"Viu, eu não disse", ela disse.
Aquilo me deixou com muita raiva. Como eu não sabia o que responder, cruzei os braços e fiz cara de bravo que nem o meu pai faz quando briga com a minha mãe.
Mas o pior mesmo foi quando o juiz deu um pênalti para o Fluminense.
Aí ela falou "O Marcos é ótimo nos pênaltis. Acho que ele vai defender."
E eu disse: "Rá, aposto que vai ser gol."
Mas aí aconteceu a pior coisa do mundo: não foi gol.
Como ela tinha acertado as duas vezes, eu fiquei desconfiado e perguntei: Você é mesmo bruxa, Bruna?"
E ela respondeu: "Eu não, você é que é meio lelé, Lelê." E o meu pai e o meu avô e o amigo do meu pai riram muito da resposta dela.
Eu odiei essa tal de Bruna. Tomara que ela volte um dia.

Barrichello
Na transmissão do GP da França deste domingo, Galvão Bueno falou mais de Barrichello do que se ele tivesse vencido a corrida. Só faltou dizer que havia um malévolo plano da Ferrari para que o brasileiro não participasse da prova e assim Schumacher conquistasse seu pentacampeonato com mais facilidade.

Eutanásia
Sempre se fala muito em racionalizar o calendário futebolístico. Uma idéia simples e bem objetiva seria acabar de vez com essa chatérrima Copa dos Campeões. Ela seria muito bem substituída pelo esticamento dos regionais ou pela antecipação do Brasileiro. Tenho certeza de que seria uma morte pouco lamentada. No máximo teríamos um daqueles velórios aos quais as pessoas comparecem e, contendo um sorriso de satisfação, dizem em voz baixa: "Ela está melhor agora."

E-mail torero@uol.com.br



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