São Paulo, sábado, 23 de julho de 2011

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Americano e mineiro


Existe um torneio europeu do leste e outro do oeste? Somos um continente ou três?


ONTEM PEGUEI meu caderno de anotações (sim, sou um dinossauro que ainda escreve à mão de vez em quando) e fui ao bar da Preta. Enquanto pensava sobre o que seria meu texto de hoje, pedi um sanduíche de copa. Já o sujeito ao meu lado encomendou um americano. Então a Preta, que estava nos atendendo no balcão, gritou ao cozinheiro com sua possante voz: "Copa e americano, Jorgivaldo!".
Copa americano, copa americano... Aquelas duas palavras (mais o artigo de Rodrigo Bueno publicado aqui na última quinta-feira) ficaram ecoando na minha cabeça. Assim pus-me a pensar que a Copa América não é uma Copa da América. Ela é, quando muito, uma Copa da América do Sul, o que faz do nome da competição que termina amanhã (torcerei para o Paraguai ganhar nos pênaltis, só pela graça de termos um vencedor que não venceu) uma desonestidade, uma tentativa de aumentar a importância da competição.
Mas por que não aproveitar o erro e transformá-lo numa realidade? Muitas boas coisas surgiram assim. Para ficar no ramo gastronômico (não se deve escrever um artigo em jejum), digo-vos que a tarte tatin e o petit gateau nasceram de erros.
Ou seja, por que não fazer uma Copa América de verdade? Uma Copa América que una a do Sul, a Central e a do Norte?
Salvo engano, somos um só continente. É verdade que ele é comprido e tem países muito diferentes entre si. Mas nossas histórias não são menos heterogêneas que as dos países africanos, temos menos países que a Europa e nossa área é menor do que a da Ásia.
Se não há uma divisão entre a África Branca e a Negra, se não há um torneio para o Leste europeu e outro para o Oeste, se não existe um campeonato da Ásia Menor e outro da Maior, não há porque termos três campeonatos americanos.
Porém, mais do que a geografia, a economia é o motivo para se unificar as competições americanas. Temos o Sul produtor e o Norte consumidor isolados. Nestes tempos de quebras de fronteiras e globalização, o futebol precisa conseguir ao menos a continentalização.
Só que, durante os 25 anos em que Nicolás Leoz está à frente da Conmebol, nunca houve um movimento na direção de unificar as competições. Dividir o poder, e as contas, pode não ser interessante. É melhor fazer ouvidos moucos à voz da razão.
Ops, é hora de parar de escrever. Chegaram os sanduíches. Para mim, um mineiro. Para o sujeito ao meu lado, um bauru. Nenhum de nós dois reclama. Já estamos acostumados. Jorgivaldo tem ouvidos tão ruins quanto os de Nicolás Leoz.


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