São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Lelê e um outro Felipão

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Meu nome é Leocádio, mas todo mundo só me chama de Lelê. Quer dizer, todo mundo, não, que a minha professora, a dona Noemi, só me chama de Leocádio. A dona Noemi é bacana. Quando a gente faz bagunça, ela fica nervosa que nem o Felipão ficava na Copa do Mundo. Vai ver a dona Noemi é uma ótima técnica de futebol.
Bom, aí na quarta-feira, como os meus pais estavam trabalhando, eu fui brincar de goleiro no quarto deles. É um jogo bem bacana. Eu atiro a bola na parede e pulo na camona que eles têm para fazer a defesa. Eu estou ficando muito bom nisso! Mas aí, quando eu ia tirar uma bola do ângulo, apareceu a minha mãe.
- Leocádio (quando ela está brava, sempre me chama de Leocádio)! O que é isso?!
Aí eu abaixei a cabeça, que eu não sou bobo, e respondi:
- Eu estou treinando para ser goleiro, e a senhora chegou muito cedo, assim não vale.
Então o meu pai, que estava atrás dela, falou:
- Hoje tem jogo do Brasil.
E a minha mãe cochichou:
- Demos um jeito de escapar.
Aí, como eles também tinham feito coisa errada, os dois pararam de brigar comigo, e a gente foi para a sala. O meu avô já estava na poltrona dele. E acordado, o que é mais difícil. É que depois do almoço o meu avô diz que vai dar uma descansadinha, mas essa descansadinha é uma descansadona, porque ele só acorda na hora da janta.
A gente tinha acabado de se sentar no sofá quando a campainha tocou e o meu tio Torero chegou. Aí foi a maior festa, porque ficou parecendo que era dia de jogo de Copa (adoro a Copa porque a gente não precisa ir na escola).
Quem jogou contra nós foi o Paraguai. O meu pai explicou que o Paraguai era um país bem pertinho do nosso e que o uísque que o tio Torero tinha dado para ele veio de lá. O meu tio olhou para o teto e assobiou. Acho que ele não estava escutando direito.
Bom, aí a gente começou a ver o jogo. O time do Brasil estava meio com preguiça e não conseguia chutar no gol deles. Mas os do Paraguai estavam correndo muito e uma hora um tal de Cuevas de um chutão de longe, a bola bateu na trave e entrou.
Cuevas é um nome engraçado, mas o nome mais engraçado do time deles era Paredes, porque se tem o Paredes, tinha que ter também o Portas, o Janelas e o Rodapés, que ia ser um jogador bem baixinho, menor até do que eu.
O meu pai, a minha mãe, o meu avô, o meu tio e eu achamos que o Brasil ia empatar logo, mas o time estava meio devagar. No fim, ficou tudo desse jeito mesmo.
- Que chato, disse o meu pai.
- Que triste, disse o meu avô.
- Que me..., ia dizendo o meu tio, mas aí a minha mãe olhou feio para ele e ele ficou quieto.
Então meu pai falou que aquele tinha sido o último jogo do Felipão. Aí todo mundo falou sobre quem ia ser o próximo técnico. A minha mãe disse que ia ser um tal de Parreira, o meu avô disse que ia ser um tal de Oswaldo, o meu pai disse que podia ser qualquer um, menos um que se chamava Luxemburgo, e o meu tio não falou nada porque estava com a boca cheia de pipoca.
Aí eu falei que o técnico tinha que ser a dona Noemi, porque ela gritava igualzinho ao Felipão e até tinha um pouquinho de bigode. Todo mundo riu como se eu tivesse falado a maior bobagem do mundo. Mas isso é porque eles não conhecem a dona Noemi.

Charada
Num avião viajavam Ricardo Teixeira, Farah, Caixa d'Água, Nabi Abi Chedid e um monte de cartolas. De repente, há uma pane na turbina, e o avião cai. Quem se salva? O futebol brasileiro.

Haicai
Doravante colocarei aqui, de vez em quando, um haicai (forma de poesia japonesa surgida no século 16 composta de três versos, geralmente com cinco, sete e cinco sílabas) feito por torcedores. O primeiro é uma autocrítica feita por Marcus Aurelius Pimenta: "Rei já fui entre os boleiros/ Hoje esquento o banco/ Do Casados e Solteiros".

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E o presidenciável Ciro Gomes (candidato de Felipão e Ricardo Teixeira), que esperava ganhar votos com o jogo da seleção, engoliu uma inesperada derrota. O futebol é uma urna de surpresas.

E-mail torero@uol.com.br



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