|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Lelê e um outro Felipão
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Meu nome é Leocádio, mas
todo mundo só me chama
de Lelê. Quer dizer, todo mundo,
não, que a minha professora, a
dona Noemi, só me chama de
Leocádio. A dona Noemi é bacana. Quando a gente faz bagunça,
ela fica nervosa que nem o Felipão ficava na Copa do Mundo.
Vai ver a dona Noemi é uma ótima técnica de futebol.
Bom, aí na quarta-feira, como
os meus pais estavam trabalhando, eu fui brincar de goleiro no
quarto deles. É um jogo bem bacana. Eu atiro a bola na parede e
pulo na camona que eles têm para fazer a defesa. Eu estou ficando
muito bom nisso! Mas aí, quando
eu ia tirar uma bola do ângulo,
apareceu a minha mãe.
- Leocádio (quando ela está
brava, sempre me chama de Leocádio)! O que é isso?!
Aí eu abaixei a cabeça, que eu
não sou bobo, e respondi:
- Eu estou treinando para ser
goleiro, e a senhora chegou muito
cedo, assim não vale.
Então o meu pai, que estava
atrás dela, falou:
- Hoje tem jogo do Brasil.
E a minha mãe cochichou:
- Demos um jeito de escapar.
Aí, como eles também tinham
feito coisa errada, os dois pararam de brigar comigo, e a gente
foi para a sala. O meu avô já estava na poltrona dele. E acordado,
o que é mais difícil. É que depois
do almoço o meu avô diz que vai
dar uma descansadinha, mas essa descansadinha é uma descansadona, porque ele só acorda na
hora da janta.
A gente tinha acabado de se
sentar no sofá quando a campainha tocou e o meu tio Torero chegou. Aí foi a maior festa, porque
ficou parecendo que era dia de jogo de Copa (adoro a Copa porque
a gente não precisa ir na escola).
Quem jogou contra nós foi o Paraguai. O meu pai explicou que o
Paraguai era um país bem pertinho do nosso e que o uísque que o
tio Torero tinha dado para ele
veio de lá. O meu tio olhou para o
teto e assobiou. Acho que ele não
estava escutando direito.
Bom, aí a gente começou a ver o
jogo. O time do Brasil estava meio
com preguiça e não conseguia
chutar no gol deles. Mas os do Paraguai estavam correndo muito e
uma hora um tal de Cuevas de
um chutão de longe, a bola bateu
na trave e entrou.
Cuevas é um nome engraçado,
mas o nome mais engraçado do
time deles era Paredes, porque se
tem o Paredes, tinha que ter também o Portas, o Janelas e o Rodapés, que ia ser um jogador bem
baixinho, menor até do que eu.
O meu pai, a minha mãe, o meu
avô, o meu tio e eu achamos que o
Brasil ia empatar logo, mas o time estava meio devagar. No fim,
ficou tudo desse jeito mesmo.
- Que chato, disse o meu pai.
- Que triste, disse o meu avô.
- Que me..., ia dizendo o meu
tio, mas aí a minha mãe olhou
feio para ele e ele ficou quieto.
Então meu pai falou que aquele
tinha sido o último jogo do Felipão. Aí todo mundo falou sobre
quem ia ser o próximo técnico. A
minha mãe disse que ia ser um tal
de Parreira, o meu avô disse que
ia ser um tal de Oswaldo, o meu
pai disse que podia ser qualquer
um, menos um que se chamava
Luxemburgo, e o meu tio não falou nada porque estava com a boca cheia de pipoca.
Aí eu falei que o técnico tinha
que ser a dona Noemi, porque ela
gritava igualzinho ao Felipão e
até tinha um pouquinho de bigode. Todo mundo riu como se eu tivesse falado a maior bobagem do
mundo. Mas isso é porque eles
não conhecem a dona Noemi.
Charada
Num avião viajavam Ricardo
Teixeira, Farah, Caixa d'Água, Nabi Abi Chedid e um
monte de cartolas. De repente, há uma pane na turbina, e
o avião cai. Quem se salva? O
futebol brasileiro.
Haicai
Doravante colocarei aqui, de
vez em quando, um haicai
(forma de poesia japonesa
surgida no século 16 composta de três versos, geralmente
com cinco, sete e cinco sílabas) feito por torcedores. O
primeiro é uma autocrítica
feita por Marcus Aurelius Pimenta: "Rei já fui entre os boleiros/ Hoje esquento o banco/ Do Casados e Solteiros".
23
E o presidenciável Ciro Gomes (candidato de Felipão e
Ricardo Teixeira), que esperava ganhar votos com o jogo
da seleção, engoliu uma inesperada derrota. O futebol é
uma urna de surpresas.
E-mail torero@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Sonho meu Próximo Texto: Automobilismo: Bahrein aposta em alemão para levar F-1 Índice
|