São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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AUTOMOBILISMO

Engenheiro responsável por quatro circuitos do calendário começa obras no país árabe no mês que vem

Bahrein aposta em alemão para levar F-1

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O acalentado sonho árabe de receber um GP de F-1 começa a virar realidade dentro de dez dias. No início de setembro, em um terreno de 200 hectares nos arredores de Sakhir, começa a ser erguido o autódromo de Bahrein.
A meta é inaugurá-lo em 2004, com uma etapa da principal categoria do automobilismo. A um custo de US$ 82,2 milhões -cerca de R$ 260 milhões-, os barenitas querem construir o melhor circuito de corridas do mundo.
As pretensões são altas. E o governo dessa ilhota no Golfo Pérsico começou pelo caminho certo: contratou Hermann Tilke.
Engenheiro civil, alemão, 47 anos, piloto amador nos finais de semana, Tilke comanda o único escritório do planeta especializado em construir autódromos.
De seus computadores, já saíram projetos de 27 circuitos. Hoje, quatro das 17 pistas da F-1 levam sua assinatura: A-1 Ring, Nurburgring, Barcelona e Sepang. Ele também idealizou as mudanças no traçado de Hockenheim, reinaugurado no mês passado.
O mais importante, talvez, seja o fato de que Tilke caiu nas graças de Bernie Ecclestone, homem-forte da F-1 e o responsável pelo calendário da categoria. Atualmente, qualquer pista que leve a assinatura do alemão sai na frente na luta por um GP do Mundial.
"No momento, estamos trabalhando em cinco circuitos. Nem todos são para a F-1, alguns são privados, para montadoras", afirmou Tilke, à Folha, por telefone. "Fiz o projeto inicial de um circuito na Rússia, mas, por enquanto, as coisas não saíram do papel. O projeto mais realista para F-1, hoje, é o do circuito de Bahrein."
O desafio para Tilke é superar um projeto seu, o da Malásia. Quando foi inaugurado, em 1999, Sepang estabeleceu um novo padrão para os autódromos, com um paddock amplo, boxes espaçosos e instalações luxuosas.
Mas o alemão acredita que Bahrein será ainda melhor. A começar pela verba disponível: os malaios desembolsaram US$ 7 milhões a menos com o circuito.
"O autódromo será completamente diferente de tudo. Será construído numa colina no deserto e o paddock vai ser uma espécie de oásis. Os carros vão desaparecer no deserto e depois voltarão."
Festejado por Ecclestone e por potenciais promotores de corrida, Tilke, porém, frequentemente vê seus trabalhos serem criticados pelos pilotos. A "acusação" mais comum é que as pistas são muito parecidas, sempre na casa do cinco quilômetros de extensão e com poucos pontos de ultrapassagem.
O engenheiro se defende. "Costumo ouvir os pilotos antes de levar os projetos para meus clientes. Normalmente, me reúno com o Michael Schumacher e com o David Coulthard", declarou, referindo-se, respectivamente, ao presidente e ao vice da GPDA, a associação dos pilotos da F-1.
Questionado para falar sobre Interlagos, Tilke não quis polemizar. "Não falo sobre circuitos em que não trabalhei. Seria desleal."
Depois de eliminar as duas grandes retas de Hockenheim, todo o trecho da Floresta Negra, o alemão foi motivo de preocupação dos fãs da F-1 ao ser indicado para trabalhar em Spa-Francorchamps. "Vamos mexer em Spa, mas a Eau Rouge ficará intacta", completou, assegurando a integridade da mais emocionante curva da história da categoria.


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