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FUTEBOL
Peixes sem nome
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Mais um jovem craque brasileiro pode estar batendo
asas para a Europa. Ainda que no
final do ano, Diego deve trocar o
Santos pelo Tottenham.
Ao saber da notícia, um querido
amigo santista, o jornalista Luiz
Zanin Oricchio, declarou desconsolado: "Pois é, está chegando um
tempo em que os jogadores vão
ser contratados por um mês, por
uma semana, por uma única
partida".
Exagero do Zanin? Nem tanto.
A tendência é essa mesmo. No papel, os contratos até que são longos, mas, na prática, acabam rescindidos antes do término, desde
que todas as partes saiam lucrando. Todas menos uma: o torcedor.
Para este último, é duro se conformar com a perda dos jogadores
que ele estava apenas começando
a identificar com as cores de seu
time. É duro também ter de conhecer os novos atletas e aprender
a cultivar com eles uma relação
de afeto ou aversão.
O torcedor fica ressabiado, com
medo de se entusiasmar com um
jogador que no mês que vem pode
já não estar mais no clube. É como ter no aquário aqueles peixinhos que vivem só umas poucas
semanas. É melhor nem dar nome para eles, para não criar nenhum tipo de apego.
É difícil prever aonde esse processo vai parar. Mas imagino o seguinte cenário. Um clube milionário, como o Real Madrid, funcionará como um grande circo internacional, um Tianny, um Orlando Orfei, um Circo de Moscou.
Em cada lugar de espetáculo,
ele usará alguns dos artistas de
seu elenco. Por exemplo: Beckham será protagonista na Ásia,
onde é um superastro da mídia;
Ronaldo brilhará na África, onde
é ídolo popular; Zidane atuará na
França e na Argélia; e assim por
diante.
No outro extremo da "cadeia
alimentar" do negócio do futebol,
os clubes brasileiros servirão de
garimpeiros de talentos e de vitrine temporária.
Um campeonato (ou até meio)
será suficiente para atrair os compradores, não só os poderosos clubes-empresas da Itália, da Espanha e da Inglaterra, mas até times
de nomes impronunciáveis do
Leste Europeu, da Turquia ou da
Coréia. Haverá produtos para todas as faixas de preço.
Aliás, não sei por que conjuguei
no tempo futuro os verbos dos parágrafos acima. Tudo isso já está
ocorrendo diante de nossos olhos.
Não vou chorar o leite derramado e suspirar pelos "bons tempos"
da lei do passe, em que um atleta
do país ficava décadas no mesmo
clube e eram relativamente raras
as transações internacionais.
Mas não dá para ignorar a dimensão dramática e paradoxal
que assume, para o torcedor, sua
relação pessoal com os jogadores
que vestem a camisa de seu time.
Como disse o mesmo Zanin: "A
gente nem se anima a torcer para
o sujeito jogar bem, com medo de
que ele chame a atenção de algum clube europeu e vá embora".
Triste dilema. A longo prazo, ele
tende a fazer o torcedor perder a
relação apaixonada com o futebol e a encará-lo como uma mera
prova atlética ou um show de malabarismo.
Destino gaúcho
Paradoxal mesmo, para não dizer tragicômica, foi a situação
dos gremistas nesta semana.
Depois de ver seu time goleado
na quarta-feira, muitos deles
pegaram-se torcendo (com dor
no coração) pelo arqui-rival, o
Internacional, contra o Fluminense. E o pior é que o Flu ganhou, fazendo o Grêmio comer
mais poeira. Prova cabal de que
um tricolor não pode mesmo se
fiar num colorado.
Seleção brasileira
Na convocação de ontem dos
"estrangeiros" da seleção não
houve propriamente surpresa,
mas reafirmo algumas divergências quanto às opções de
Parreira. Penso que deveria haver espaço para uma renovação
real na zaga, na lateral direita e
no meio-campo (onde Renato e
Alex não podem ficar de fora).
E-mail jgcouto@uol.com.br
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