São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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TOSTÃO

Fim dos brucutus


Cada vez mais têm surgido no Brasil volantes habilidosos, com bom passe e capacidade de marcar e também atacar


TEMPOS ATRÁS , era moda no futebol brasileiro jogar com um volante perto ou entre os zagueiros, às vezes com a única função de marcar individualmente um atacante para sobrar um defensor. Era o volante-zagueiro, geralmente ruim de zagueiro e de volante. A principal condição para ser um volante-zagueiro era ser botineiro.
Alguns cronistas esportivos, como Fernando Calazans e Alberto Helena Júnior, criticavam essa brutalização dos volantes. Os treinadores respondiam com soberba, como se só eles entendessem do assunto. Falavam ainda que essas opiniões eram saudosistas, românticas, e que os críticos queriam ver um futebol que não mais existe.
Parte da imprensa, aquela parte que quer ficar bem com os treinadores, dizia também que esse era o futebol moderno. Confundiam moderno com medíocre.
Isso tem mudado.
Poucas equipes brasileiras atuam com o volante-zagueiro, que nunca existiu na Europa. A maioria dos técnicos brasileiros prefere hoje jogar com três autênticos zagueiros e dois alas ou com dois zagueiros e os dois laterais se alternando no apoio.
Os bons volantes voltaram a jogar no meio-campo e alguns brucutus conseguiram uma vaga na zaga. Outros sumiram. Ufa!
O Brasil não tem um excepcional volante jogando aqui nem na Europa. Mas têm surgido, cada vez mais, volantes habilidosos, com bom passe, que marcam e atacam, como Ramires, Hernanes, Charles, Leandro Guerreiro e outros, além de Lucas, Josué e Mineiro, que foram para o futebol europeu.
Na Europa, há vários volantes talentosos. O melhor de todos é Pirlo, um dos destaques da Copa de 2006. Depois do Kaká, Pirlo é o principal jogador do Milan. Ele atua com a cabeça em pé e sem olhar para a bola. Tem um ótimo passe, além de ser excepcional nas bolas paradas e nos chutes de fora da área.
Teoricamente, Pirlo é o primeiro volante no Milan. Atua pelo meio e entre outros dois volantes. É ele que inicia as jogadas ofensivas. Isso é importante porque a bola chega rápida e redondinha ao ataque.
Os técnicos brasileiros costumam fazer o contrário. Colocam de primeiro volante o mais grosso, só para marcar, que demora uns 500 anos para dominar a bola, arrumar o corpo e dar um passe de cinco metros para o lado. Isso dá tempo para a defesa adversária se organizar.
Pirlo me lembra os grandes centros-médios clássicos e elegantes que vi atuar e com quem joguei ao lado, como Dino Sani e Zé Carlos, do Cruzeiro.
Zé Carlos jogava de um toque. Recebia a bola de zagueiros e laterais e, sem dominá-la, colocava a bola, com um passe de 30 metros, nos pés dos companheiros do outro lado do campo. Além disso, marcava muito bem, como deve fazer todo volante.
Um craque.
Vou flanar por duas semanas. A coluna voltará a ser publicada no dia 10.

Copa Sul-americana
Vasco e São Paulo foram dominados e não conseguiram sair da marcação por pressão dos argentinos. Essa história é antiga. A seleção argentina quase só consegue ganhar do Brasil quando joga dessa forma.

tostao.folha@uol.com.br

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