São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Meia-atacante diz que pode compor grupo e que esperava convocação

Entristecido com Parreira, Rivaldo quer vaga na Copa

PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por onde passa ele diz que ainda é lembrado como um dos melhores brasileiros que atuaram na Europa. Dá autógrafos, é ídolo de seu time, o grego Olimpiakos. Rivaldo, 33, não reclamaria de ter saído dos holofotes dos principais centros do futebol europeu não fosse por dois detalhes: a seleção brasileira e a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006.
Em entrevista à Folha, por telefone e da Grécia, o meia-atacante, peça fundamental na conquista do pentacampeonato, na Copa da Coréia e Japão, em 2002, se disse triste por não ser lembrado pelo atual técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, para pelo menos compor o grupo que tentará o hexa no ano que vem. Rivaldo fala que gostaria de ir ao próximo Mundial e que, se for chamado, tem condições de disputar vaga no quarteto mágico.

Folha - Ter ido à Grécia te atrapalhou de alguma maneira?
Rivaldo -
Aqui o Olimpiakos é grande, mas não tem comparação com os campeonatos famosos, como o Espanhol, o Italiano, o Inglês. Por isso a gente sai pouco da mídia. Só se fala um pouco mais quando é Copa [dos Campeões] da Europa. No Brasil, só aparece quando é campeão.

Folha - Você pensa em ir para a Copa de 2006?
Rivaldo -
Pensar a gente pensa, e já há tempos. Eu disputei as eliminatórias [para o Mundial da Alemanha], mas algumas coisas aconteceram, a minha saída do Milan [da Itália], e eu não fui mais convocado. Mas arrumei um clube e estou jogando.

Folha - E você acha que não voltou à seleção por quê? O Parreira não vê jogos do futebol grego?
Rivaldo -
Não digo isso no meu caso. O Parreira me conhece. Joguei Copa. No Barcelona [Espanha], fui o melhor do mundo [em 1999]. Acredito que, se o jogador está bem, tem chances de ser convocado. Mas acredito que, pelos jogadores que tem no momento na seleção, o Parreira não acha que eu deva estar na seleção. Eu tenho que respeitar. O treinador não conta comigo. Eu vi em algumas entrevistas que ele ia me convocar nesta temporada. Fiquei esperando, e até agora nada.

Folha - Você ficou decepcionado com isso?
Rivaldo -
Decepcionado não. Fico triste porque tenho uma história na seleção. E tenho condições de estar, não digo jogando, porque jogando só se pode definir nos treinamentos, mas estar no grupo. Pela pessoa que eu fui na seleção, pelo o que eu fiz e pelo o que eu ainda posso render.

Folha - Se você não for à Copa, a seleção é caso encerrado?
Rivaldo -
Encerrado. Porque não teria mais condições. Eu terei 34 anos [em 2006] e não teria mais condições de ir a uma outra Copa. Hoje eu tenho 33 e tenho história, experiência para ajudar a seleção e já está difícil. Depois, não adianta mais. Já vou estar com 38 chegando à Copa do Mundo e é impossível no Brasil, onde se revela um jogador a cada dia.

Folha - Se você estivesse no grupo, teria condições de competir por uma vaga de titular no quarteto?
Rivaldo -
Respeito todos. Mas eu me encontro bem e com certeza teria condições de disputar uma posição [com os atacantes Ronaldinho, Ronaldo, Adriano, Robinho e o meia-atacante Kaká].

Folha - Com quantos anos quer encerrar a carreira?
Rivaldo -
Tenho mais um ano de contrato. Depois, penso em voltar ao Brasil e, quem sabe, jogar mais um ou dois anos. Se não tiver mais condição, penduro a chuteira. Não quero é passar vergonha.

Folha - Tem algum time em que gostaria de encerrar a carreira?
Rivaldo -
Sempre falei o Palmeiras. Mas depende de como vai estar o time no momento.

Folha - Por que você nunca mais se destacou depois da Copa?
Rivaldo -
É diferente. Eu saí da vitrine, que é a Espanha, a Itália e a Inglaterra. Então as pessoas não olham. E também por não estar na seleção. Na seleção, destaca-se mais. Mas ainda em qualquer país que eu vou todo mundo fica louco comigo, vem pedir autógrafo.

Folha - Você acha que o Brasil é muito superior às outras seleções na Copa ou não é bem assim?
Rivaldo -
O Brasil sempre é favorito. É superior, mas tem que tomar cuidado. Na primeira fase, é tranqüilo, mas na outra fase é mata-mata. Pode não ser o dia do Brasil, pode perder nos pênaltis. E aí? Não é chegar que vai ganhar.

Folha - O que você acha do Brasil jogar com o quarteto mágico?
Rivaldo -
Vejo todos falando para colocar esse, aquele, pra ser ofensivo... De fora é fácil falar. Tudo depende do jogo. Às vezes pode jogar, quatro, cinco e dá certo. Mas pode perder um jogo e aí os mesmos que dizem para colocar os quatro, vão criticar.

Folha - Quem você acha favorito, além do Brasil, para vencer a Copa?
Rivaldo -
Posso falar da Alemanha, que vai jogar no seu país. Isso motiva o jogador. Ele se desdobra. Aí vem Itália, Argentina, Portugal, pelo trabalho do Felipão [o técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari], e a Holanda. De seleções assim não se fala muito porque mudaram muitos jogadores, que vão ser falados depois da Copa.

Folha - Certa vez você declarou que era muito criticado porque é nordestino. Ainda pensa assim?
Rivaldo -
Não. Tudo isso, pelo o que fiz na Copa, foi superado. Até achei legal que pessoas que me criticavam me pediram desculpas pela TV, pelo rádio.

Folha - Quem são os melhores técnicos do mundo?
Rivaldo -
Vou ficar com os brasileiros. O Luxemburgo, o Felipão e o Parreira são os melhores.


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