São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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MEMÓRIAS DE JALISCO

Time de Pelé da Copa de 70 , que disputou 5 jogos em Guadalajara, é idolatrado na cidade-sede do Pan

MARCEL MERGUIZO
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA

"Obrigado, Pelé." As palavras do senhor fumando seu cigarro em um bar em frente ao estádio Jalisco poderia ser a voz de toda Guadalajara.
A cidade-sede do Pan-Americano não esquece outros jogos, os da Copa de 1970.
O símbolo maior dessa memória, levantado em concreto, é o estádio onde a seleção brasileira fez cinco partidas naquele ano, como voltaria a fazer em 1986. Mas o Mundial inesquecível é o do tri.
Independentemente da idade, o "tapatío" -nome dado a quem nasceu em Guadalajara- idolatra aquela equipe de Carlos Alberto Torres, Gerson, Clodoaldo, Jairzinho, Tostão, Rivellino e, acima de tudo, o time de Pelé.
O camisa 10 da seleção continua lá, não só na mente das pessoas, mas em foto. Não com a camisa canarinho daquele tempo, mas com a de um time já extinto chamado Jalisco -nome do Estado cuja capital é Guadalajara.
A foto e o bar são de Gabriel Montes de Oca, 68. São dele também as palavras de agradecimento a Pelé. A fotografia abre uma galeria de imagens de jogadores mexicanos e brasileiros reverenciados pelo dono e expostos no salão do bar vizinho ao estádio.
Foi lá que, durante um treinamento da seleção, Pelé pediu que funcionários do Jalisco lhe buscassem um café.
"Pediram desculpa, não tinham café brasileiro e não sabiam o que fazer. Não deram café para Pelé", disse Gabriel.
Apelidado de Garrincha pelos dribles que dava na adolescência, o senhor de pele e olhos castigados pelo tempo se emociona ao descrever a paixão que nutre há anos pelo futebol brasileiro.
"O futebol no Brasil é uma religião. A arte que vocês têm. Para mim, o Brasil de 70 é a melhor equipe da história. Fiquei arcaico, fiquei lá."
E bastam alguns passos para a história deixar de ser apenas ouvida para ser revista.
O estádio Jalisco continua o mesmo da década de 70. Os mesmos três anéis, a cobertura da arquibancada, a capacidade de público e alguns funcionários, como Andres Avelino Cruz, 66, responsável pela manutenção atualmente. Ele trabalha há 42 anos no estádio e foi operador de áudio durante os jogos da Copa do Mundo de 1970.
"Quando jogaram aqui, a torcida celebrava mais o Brasil do que o México", lembra. "O Brasil sempre vai encontrar aqui gente que lhes receba de braços abertos."
A grama não é a mesma, mas continua sendo cuidada pela família Esparza.
O pai, Guadalupe, aparava o gramado onde os brasileiros bailaram em 1970.
O filho, Francisco, 53, mantém a memória paterna e o tapete verde do estádio.
"Pelé foi o melhor que já vi. Também vi Zico, em 86. Mas como Pelé não vai haver."
"Não gostava muito de futebol, mas, quando meu papai me trouxe [aos jogos], eu falei: 'Ai, caramba, graças ao Senhor'", disse, como orando no templo, no Jalisco.



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